Publico abaixo o artigo do economista Armando Soares, que denuncia como um importantíssmo hospital em Belém, o Hospital Ophir Loyola, foi expropriado (eu não quis dizer "desapropriado") mediante ardis administrativos e jurídicos, em detrimento da população usuária e em benefício de políticos sedentos de votos.
Atenção: Este é um texto interativo, isto é, que os leitores são convidados a debater, usando os comentários. Comentem e divulguem, divulguem e comentem!
***
Destruição da solidariedade e do amor
ao próximo
“A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o
respeito pela dignidade humana.”
(Franz Kafka)
Os
tropeços dos tribunais de justiça que envolvem o direito, o princípio moral em
nome do qual o direito deve ser respeitado, preocupam os brasileiros. A questão
da corrupção política e do desgoverno também preocupam mas a questão moral e o
direito são o que mais causam preocupação, porque abrem as portas para o caos.
Quando se despreza a moral em julgamentos
que envolvem direito, solidariedade e o amor, a justiça fica menor. O
julgamento do processo de desapropriação do Instituto Ophir Loyola é um desses
casos que devem ser levados ao conhecimento da sociedade, porque envolve
crianças desamparadas e tratamento médico a necessitados. A decisão da justiça
não foi apenas contra os proprietários do Instituto Ophir Loyola, mas também contra
as crianças, pobres e necessitados com proveitos para o favorecimento do
segmento político.
O IOL foi reconhecido como órgão de
utilidade pública pelos governos estadual e federal, através dos decretos 3877
e 888, de 12 de fevereiro e 24 de outubro de 1949. Foi fundado pelo Dr. Ophir
Pinto de Loyola, em 1912, com a designação de Instituto de Proteção e
Assistência à Infância. Em 1930, morre prematuramente o Dr. Ophir Loyola, passando
o hospital a ser designado por Instituto Ophir Loyola, numa justa homenagem ao
seu fundador. De 1930 a 1946, o hospital passa por dificuldades para se manter
funcionando, o que levou o Dr. Eugênio dos Santos Soares a assumir a direção do
hospital, priorizando a assistência à infância desamparada, sendo que posterior
e pioneiramente introduziu o tratamento do câncer.
Com recursos próprios e de amigos deu
partida para a ampliação e reforma do hospital, introduzindo o serviço de
radioterapia, chefiado pelo competente, saudoso e abnegado Dr. Otávio Lobo, e o
núcleo do serviço de câncer, com a colaboração do também competente, saudoso e
abnegado Dr. Jean Chicre Miguel Bitar, este, em 1954, eleito presidente do IOL,
sendo reconduzido sucessivamente à função, até a data fatídica da
desapropriação espúria do IOL pelo governo do Pará.
Em 1960, em virtude de o General Luís
Geolás de Moura Carvalho, então governador do Estado do Pará, ter sido
submetido a operação de apendicite
realizada pelos Drs. Jean Bitar e Chalú Pacheco, nasceu a ideia da criação do
Hospital dos Servidores do Estado, formalizado através da lei nº 2114, de
29.12.1960. No acordo realizado entre o governo do Pará e o IOL, este cedeu
expressamente parte de sua área para funcionamento, pelo espaço mínimo de
quinze (15) anos e no máximo trinta (30) anos, para funcionamento do Hospital
dos Servidores do Estado. Em 1979, o IOL aumentou seu patrimônio adquirindo
vários terrenos confinantes, para acomodar um acelerador linear doado pela
Divisão Nacional de Doenças Crônico-Degenerativas do Ministério da Saúde, e
também para acomodar a Faculdade de Medicina Estadual.
Em 1992, o governo do Pará, sem
nenhuma razão ou justificativa plausível, decidiu, manu militari, declarar de utilidade e necessidade pública (o IOL
já era de utilidade pública) para fins de desapropriação das cotas, ações,
títulos ou direitos de sócios, ficando a Procuradoria do Estado, de acordo com
o artigo 3º, do decreto nº 1156, autorizada a promover as medidas necessárias
indispensáveis judiciais ou administrativas, para fixação de indenização devida
e efetiva fixação do ato expropriatório.
A partir desse momento o governo do
Pará arma, com a conivência da justiça, um golpe de roubo oficializado de
propriedade privada. Na ocasião, o juiz do feito entregou o hospital ao Estado
sem respeitar o direito de indenização e permitiu que o governo se apropriasse
de R$1.103.431,36 do caixa do IOL, relaxando no que diz respeito à prestação de
contas ao juízo, que nunca foi feito. A sentença da juíza proferida em
26.10.2001 é uma peça que prova o desequilíbrio mental ou comprometimento com
os interesses do governo, e prova que o direito e a moral deixam de existir
quando estão em jogo interesses políticos e pessoais.
A sentença contra os direitos do IOL
se fundamentou em evidências deturpadas; a referência foi o valor histórico das
quotas sem a devida correção, engenharia que iria justificar as razões da
juíza, ou seja, de que as quotas não garantiriam a aquisição da sede própria, e
que o patrimônio expropriado teria sido adquirido através de doações; dando
continuidade ao teatro imoral, a juíza passou a agredir os proprietários do
IOL, acusando-os de tentativa de enriquecimento ilícito (!), ou seja, para ela
o dinheiro que construiu o hospital caiu do céu e não do bolso dos
proprietários. Desse modo, a juíza deixou de lado todo o acervo probatório,
especialmente a perícia técnica de avaliação do patrimônio, e tomou como
referência o valor da indenização calculado pelo governo depositado em
caderneta de poupança.
A desapropriação se deu nas quotas
dos proprietários, e não do hospital; mesmo assim, o hospital foi entregue ao
governo que nunca prestou contas; além de desonesta e imoral, a sentença é também
contraditória, considerando que a juíza propôs um ajuste amigável de
R$4.000.000,00, e depois, em menos de dois meses, resolveu fixar o valor
indenizatório em R$125.273,04, valor arbitrado pelo governo, um valor 32 vezes menor
do que a própria juíza anteriormente propôs. Na fase recursal, a desembargadora
relatora nomeada, esposa do secretário de justiça do Estado, acompanhou a
sentença graciosa e desonesta da juíza, tendo o recurso extraordinário sido
recusado finalizando um julgamento contaminado de erros grosseiros que
compromete a justiça, pois encobre um roubo disfarçado de desapropriação
justamente indenizada, com a conivência da justiça.
Enquanto o governo e a justiça
confiscam um patrimônio privado a serviço da assistência a infância desamparada
e tratamento de câncer, um hospital vitorioso, para atender interesses
políticos inconfessáveis, a Prefeitura de Belém oferece milhões de reais para
comprar um hospital que tem apena (se tiver) 1/3 do tamanho do IOL. Tira-se das
mãos de da iniciativa privada, de médicos competentes e dedicados um hospital
vitorioso para pôr nas mãos do Estado que prima pela ineficiência no tratamento
da saúde.
O Dr.
Vitor Moutinho da Conceição, quando diretor do IOL, atesta que foram investidos
com recursos próprios do IOL cerca de R$3.000.000,00 na manutenção, compra de
medicamentos, pagamento de pessoal e encargos sociais, sendo importante
destacar que quando o governo deixou de repassar recursos para o Hospital dos
Servidores do Estado, foi o IOL quem assumiu o pagamento da maioria das
despesas e manutenção e compra de medicamentos para os dois hospitais. Os
peritos judiciais, Heber Lavor Moreira, Paulo Pamplona Pimenta e Luiz Alves
Arraes, nomeados pela juíza dos Feitos da Fazenda, Dra. Marta Inês Antunes
Lima, que ignorou a perícia, assim se pronunciaram a respeito do IOL: “... Afora o critério técnico, e pelo
princípio de justiça que norteia a equipe de Peritos do Juízo, o quadro de
saúde do hospital tem um valor inestimável. Muito superior, pela competência
acadêmica, pelo lastro profissional, pela experiência representada por anos de
dedicação ao tratamento de câncer. Realmente um valor superior, infinitamente
superior ao desembolso financeiro que o Estado efetua, e mais ainda pelo que
deixa de efetuar. A singela avaliação de custo-benefício, por si só, já traria
um resultado expressivo.”
A
questão Ophir Loyola não podia ficar na escuridão, oculta da sociedade. O IOL tem
uma história digna de solidariedade e de amor, com contribuição inclusive de
mulheres que vendiam seu corpo na antiga Zona do Meretrício. Essa história não
merecia o tratamento dado pela justiça para atender interesses políticos
inconfessáveis.
Armando Soares – economista
e-mail: teixeira.soares@uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá! Seja benvindo! Se você deseja comunicar-se, use o formulário de contato, no alto do blog. Não seja mal-educado.