A questão “Venezuela”: de que lado está o governo brasileiro?
Não resta mais nenhuma dúvida, a qualquer pessoa minimamente bem informada, de que o “bolivarianismo”, a fórmula socialista do chavismo, conduziu a nossa triste vizinha Venezuela a um desastre sem controle, atingindo agora seu ápice durante o governo do tiranete Nicolas Maduro. Não é admissível ainda alegar ignorância diante do apocalipse econômico daquele país e, principalmente, da repressão violenta e assassina de suas autoridades às manifestações contrárias e à liberdade de expressão no país. O que se espera de uma nação de peso regional como o Brasil é uma oposição implacável a esse estado de coisas inaceitável, diante da dor extrema de um povo irmão. Que faz o nosso governo? Suas simpatias ideológicas e suas alianças locais inequívocas parecem não permitir mais do que algumas tímidas palavras aqui e outras acolá. Hoje, o governo tem uma chance de mudar isso e mostrar de que lado está: se das democracias ocidentais legítimas ou do portentoso “socialismo do século XXI”.
Como já se sabe, as mulheres de dois opositores do regime de Maduro que estão detidos arbitrariamente, sem julgamento (Lillian Tintori, esposa de Leopoldo López, e Mitzy Capriles, esposa do prefeito de Caracas Antonio Ledezma), chegaram ao país esta semana. Foram recebidas por figuras da oposição brasileira, como José Serra, Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Alckmin. O que elas querem mesmo, porém, é ser recebidas pela presidente Dilma e fazer um apelo sincero por ajuda na pressão contra as atitudes ilegítimas do troglodita que dita as ordens em seu país. Em artigo compartilhado no blog de Noblat, no O Globo, a mulher de López clama às nossas lideranças, especialmente nossa presidente, para pressionar pela “libertação de presos políticos”, pelo “fim da repressão e perseguição a quem pensa de forma distinta” e pela garantia da “imparcialidade das eleições que se avizinham na Venezuela, para que sejam livres e justas”. Parece o mínimo, não é mesmo? Tintori destaca a responsabilidade que o Brasil tem, como sendo “a maior democracia da América Latina”, de “materializar as aspirações dos habitantes de sua origem”, e apelou à experiência pessoal da própria Dilma ao tempo do regime militar, em que ela teria conhecido “as violações dos direitos humanos, a tortura, a prisão ilegal e a arbitrariedade” – embora saibamos bem com que armas a atual presidente estava buscando enfrentar o governo àquele tempo e quais os seus reais objetivos, nada democráticos. “O Brasil não deveria ter medo de defender o que é correto”, sentencia a sofrida mulher, que tudo que deseja é solidariedade e ter o marido e pai de família de volta à sua casa.
A resposta gentil de parlamentares governistas (e também da pseudo-oposição socialista) não tardou: Lindbergh Farias (PT) e Ivan Valente (PSOL) passaram de todos os limites e convidaram, na mesma semana, Tarek William Saab, porta-voz do governo Maduro e defensor ferrenho da repressão absurda nas manifestações de rua. A excelente reportagem do jornalista de Veja, Leonardo Coutinho, desmascara a abjeção do gesto, trazendo ao Brasil, em clara tentativa de diminuir a expressão da visita muito mais nobre das esposas dos opositores, um chavista que sustenta convictamente a ação violenta das milícias do Partido Socialista Unido. Depois de recente evento na UERJ, em que se defendeu a Revolução Bolivariana, mais uma vez damos preferência a uma propaganda chavista nada velada em nosso próprio território.
Até o peemedebista Renan Calheiros demonstrou sua cota de bom senso e aconselhou o governo a ouvir a voz da oposição democrática na Venezuela. Em matéria no site do Senado, registra-se que ele se encontraria nesta quinta-feira (7 de maio) com Lilian e Mitzy, que ainda iriam à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. No mesmo dia, às 15h, a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (!) receberia o comparsa de Maduro. Resta saber se Dilma atenderá o apelo e dará destaque às verdadeiras vítimas; resta saber se as receberá. Independente de nossas divergências profundas e de meu desejo já expresso de que se retire do cargo por total inadequação a ele, reforço aqui o apelo a que nossa mandatária demonstre alguma qualidade: Dilma, receba essas mulheres e as ouça, faça um gesto político genuíno e enfático em favor dos clamores democráticos da sofrida gente venezuelana! Não faça como seu mentor Luís Inácio, que aplaudia os matraqueados delirantes do falecido Chávez. Não creio possamos esperar grandes mudanças na postura brasileira em relação ao problema, mas está nas suas mãos sinalizar para uma melhor perspectiva.
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