sexta-feira, 1 de março de 2013

Sobre as terapias reparativas











Não há qualquer estudo sério que invalide as terapias reparativas. O que há, sim, é muita pressão política, terrorismo intelectual, intimidação e cerceamento de liberdades.





joide
Joide Miranda, ex-travesti em Milão, Itália, hoje com sua esposa, Edna, e seu filho.

ESCRITO POR LUCIANO GARRIDO


Muito do que se diz contra a chamada “terapia reparativa”, aquela em que homossexuais buscam apoio especializado para largar a atração pelo mesmo sexo, não passa de puro preconceito. Não existindo consenso científico sobre as prováveis causas do homossexualismo, quem quer que declare a priori a impossibilidade de uma reorientação das tendências sexuais estará emitindo apenas um palpite – e, na verdade, um palpite contra todos os indícios.

Não são poucos os casos de gays e travestis que, abandonando suas práticas homossexuais, passaram a viver uma heterossexualidade plena e ajustada dentro de uma família estável. Mesmo que se alegue que tais mudanças, em grande parte, ocorreram no contexto de uma crença religiosa, com o apoio espiritual de sacerdotes ou pastores, eis aí um dado de realidade com o qual os estudiosos do comportamento humano precisam se haver. Varrer fatos para debaixo do tapete, definitivamente, não é uma fórmula de sucesso para pesquisadores sérios.

Deixando de lado as hipóteses de intervenção miraculosa pelo poder da fé, que não costumam ser bem aceitas no meio intelectual e acadêmico, o que se espera dos psicólogos é que elaborem explicações científicas para as mudanças de orientação sexual relatadas, ao invés tentarem reduzir o debate a um plano político e ideológico, como fazem alguns pseudo-psicólogos do Conselho Federal de Psicologia. Se a ignorância não é uma boa conselheira na tomada de posição sobre certo assunto, tampouco o são os preconceitos ideológicos. Preconceitos por preconceitos, cada qual que fique com o seu.
Levantar suspeitas sobre a eficácia das terapias que propõem a reversão de tendências homossexuais tem sido também um recurso bastante usual entre ativistas. Embora eu não acredite que seja esse o caso das terapias reparativas, é preciso reconhecer que, quando o assunto é eficácia, muitas são as abordagens psicoterápicas passíveis de questionamento, sem que isso, porém, tenha justificado a adoção de medidas drásticas. Um bom profissional sabe que nem todo método terapêutico obtém resultado satisfatório para todos os clientes e (ou) para todos os tipos de queixa. Portanto, se é verdade que um psicólogo não pode prometer mudança total e definitiva na orientação sexual de ninguém, isso se aplica igualmente a toda e qualquerdemanda que lhe chega ao consultório. E aqui cabe um esclarecimento.
Diferentemente da medicina, em que o indivíduo, como regra, se submete de maneira passiva ao tratamento prescrito (daí chamar-se “paciente”), a psicoterapia requer, além do mero consentimento, uma atitude inteiramente pró-ativa por parte do cliente. Sem um ato de vontade que implique, entre outras coisas, esforço, disponibilidade, colaboração e perseverança, e mais: sem atributos cognitivos que proporcionem uma capacidade mínima de elaboração e autopercepção, torna-se praticamente impossível estabelecer um processo terapêutico que atinja resultados tangíveis para o cliente. Por tudo isso, os psicólogos não podem prometer, sob hipótese alguma, cura de psicopatologias ou transformações espetaculares da personalidade. Quando muito, é possível alimentar certas expectativas, e isso é tudo.
Apesar das terapias reparativas serem práticas clínicas relativamente novas, seus fundamentos teóricos estão assentados sobre uma longa tradição de base analítica. O próprio método psicanalítico do dr. Freud, que é considerado a matriz de quase todas as técnicas psicoterápicas que lhe sucederam, foi concebido teoricamente a partir de uma prática clínica inovadora e experimental, à margem dos centros acadêmicos de pesquisa, e cujo desenvolvimento se deu de forma bem paulatina, partindo da hipnose clássica até o atual método da associação-livre.
Portanto, não existem na praça psicoterapias que tenham surgido já prontas e acabadas. Aliás, no decurso evolutivo do que chamamos de Psicologia Clínica, inúmeras foram as tentativas frustradas e diversos os erros cometidos. Não obstante, sempre existiu por parte dos profissionais pioneiros a convicção de que todo esforço empreendido para tornar a existência humana menos sofrida e desajustada deve ser acalentado, desde que não se perca de vista o respeito à integridade física e moral do ser humano.
Sendo assim, para que uma prática terapêutica seja considerada eticamente condenável, é preciso atender pelo menos uma das três condições a seguir: (i) ausência completa de fundamentação teórica, (ii) utilização de métodos e técnicas que atentam contra a dignidade humana e (iii) incidência de efeitos iatrogênicos estatisticamente relevantes. Até o momento, não há qualquer estudo sério que, sob tais aspectos, invalide as terapias reparativas. O que há, sim, é muita pressão política, terrorismo intelectual, intimidação e cerceamento de liberdades.
É comum entre os ativistas gays a alegação de que as terapias para reorientação sexual violam direitos humanos, uma vez que, segundo eles, reduziriam a autoestima dos homossexuais e contribuiriam para sua estigmatização social. Mas, se esse argumento for levado realmente a sério, nada mais poderá ser tratado pelos psicólogos clínicos. O tratamento da fobia estigmatizaria o fóbico; o tratamento da timidez, o tímido; da ansiedade, o ansioso; da obesidade, o obeso; da depressão, o deprimido; do autismo, o autista; e por aí vai, até que todos os consultórios fossem fechados e restasse apenas o Conselho Federal de Psicologia lá em Brasília, fazendo da política a sua razão de ser.
Na verdade, por trás das opiniões contrárias às terapias reparativas há um equívoco bastante difundido, que é o de considerar a homossexualidade como um fenômeno único, de características uniformes, a partir das quais seriam possíveis as generalizações. O que se observa no mundo real, entretanto, é uma multiplicidade de formas de sentir, entender e manifestar a homossexualidade, e não raras vezes ela está atrelada a uma constelação de traumas psíquicos e conflitos emocionais cuja origem remonta a fases primitivas do desenvolvimento. Estamos falando de uma homossexualidade neurótica em que a atração pelo mesmo sexo, em última análise, revela-se como um dos sintomas de desordens variadas na identidade de gênero.
Bem sei que esse aspecto multifacetado da homossexualidade tem sido sistematicamente omitido pelos propagandistas do movimento gay. Eles já perceberam que a melhor maneira de reunir pessoas em torno de uma bandeira política é forjando-lhes uma identidade fictícia, mesmo que em sacrifício da diversidade que tanto pregam.

Luciano Garrido é psicólogo e especialista em direitos humanos. Edita o blog Psicologia Sem Ideologia.


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