sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

A urna eletrônica brasileira e o sinistro botão “CONFIRMA”



Era uma vez um país que, em vez de urna, usava um confessionário nas eleições. O eleitor respeitosamente se ajoelhava e confessava seu voto. Alguém, dentro do confessionário anotava os votos e os somava aos demais. Tudo estava perfeito? Claro que o o eleitor precisava ser um crente. Precisava ter fé no confessor-apurador. A urna-confessionário depende obviamente da honestidade de quem está lá dentro.

É típico das ditaduras exigir fé pública. As democracias exigem transparência. Os processos públicos precisam ser absolutamente transparentes. Assim estabelece a Constituição da República do Brasil, em seu artigo 37, o qual apresenta os princípios que devem nortear a Administração Pública. São eles: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. O princípio da publicidade, o qual exige a transparência da administração pública, sempre foi tido como um princípio fundamental. Todos os atos administrativos devem ser absolutamente transparentes para que sejam permanentemente e amplamente fiscalizados. As hipóteses de sigilo são só aquelas estritamente previstas na Lei.  

Antigamente usava-se, no Brasil, a urna de lona e a apuração era aberta a todos e feita manualmente. E hoje, como é? Hoje usamos a urna-computador. No Brasil, a apuração eletrônica usada nas eleições, não respeita este princípio constitucional, porque a a tecnologia usada nas eleições serve para esconder todo o processo de apuração. Aqui, exige-se fé nas urnas eletrônicas. Na urna brasileira não há como conferir a apuração! Estamos na mesma situação daquele país citado que usava a urna-confessionário.

Urna eleitoral é uma urna lacrada oficialmente e, portanto, inviolável, na qual se recolhem os votos dos cidadãos. Por sua vez, computador é uma máquina capaz de receber, armazenar e enviar dados, e de efetuar, sobre estes, sequências previamente programadas de operações. Se a urna for também um computador, que recebe e envia dados e que também pode modificá-los, como ter certeza que a programação é honesta e inviolável? Que acontece quando você aperta o sinistro botão CONFIRMA?

O fato é que a antiga urna de lona garantidamente não tinha "gato" lá dentro. A segurança dependia apenas de sua inexpugnabilidade a ataques externos. Ao contrário, a urna-computador depende da honestidade do que está lá dentro e também do que transmite os dados para a totalização. A urna é um computador ligado à internet. 

Uma pergunta: você colocaria seu dinheiro num banco que não lhe fornecesse acesso a extratos e só lhe dissesse que a tecnologia dele é 100% segura? Eu não! Se você tiver total confiança num banco assim, a ponto de dispensar completamente a verificação de extratos, então, o problema é só seu, de mais ninguém, e de sua exclusiva responsabilidade. No entanto, uma situação bem diferente e incomparavelmente mais grave é a opacidade da administração pública, especialmente numa eleição na qual o eleitor não pode conferir se seu voto foi corretamente registrado e a sociedade não pode conferir o processo de totalização dos votos. Agora, enfatizo, trata-se de um problema público, de administração pública. Afinal, é por meio deste processo que são escolhidos aqueles que vão gerir os recursos públicos. Atentem: recursos públicos; os nossos recursos! E mais, em eleições nacionais, a fraude eleitoral é equivalente a um Golpe de Estado

A urna eletrônica brasileira é tecnologicamente atrasada e por isso depende da fé pública! Entretanto, o governo embriagou a população com uma propaganda mentirosa, tanto direta como subliminar, e chegou a convencer muitos cidadãos de que só o Brasil tinha a melhor tecnologia para realizar uma apuração eletrônica! Ora, hoje até uma criança faz um programinha de computador capaz de somar. No entanto, se o programador for desonesto, ninguém vai notar a fraude e não haverá como fazer prova da mesma. Na urna brasileira não há como conferir o voto nem a apuração!

Na Alemanha, por exemplo, a votação eletrônica foi utilizada desde 1999, mas hoje está banida! Ela foi suspensa porque os alemães levam muito a sério o princípio da publicidade (princípio da transparência). O Tribunal Constitucional Federal da Alemanha, em três de março de 2009, decidiu que o voto eletrônico, como era utilizado, era inconstitucional. A Holanda fez o mesmo. 

Em setembro deste ano (dia 22/09/2013) houve eleições na República Federal da Alemanha, um país de mais de 82 milhões de habitantes. No dia seguinte os resultados foram anunciados. Importante: as eleições foram feitas em urna de lona (sem circuitos eletrônicos) e a apuração de cada urna foi manual. A apuração de cada urna é feita em 30 minutos, em média. Todas as urnas são apuradas ao mesmo tempo, sob a supervisão dos partidos e de outros interessados. Feita a apuração é emitido um boletim de urna que é distribuído aos interessados, publicado e amplamente divulgado. Após a apuração, a urna é lacrada novamente. Qualquer cidadão ou organização pode fazer a totalização paralela dos votos. Em caso de demanda, qualquer urna pode ser recontada num prazo de dois meses após a eleição. Logo, a apuração dos votos está sob o controle do povo alemão. No sistema alemão há total transparência. Pergunta: se a apuração é tão rápida e publicamente transparente, para que urna eletrônica? 

Isto não significa que os alemães, holandeses e outros povos sejam contra a votação eletrônica! Eles não são contra, mas não aceitam qualquer sistema de votação eletrônica. Este sistema deve atender ao princípio da transparência dos atos da administração pública. 





Está na hora de acordarmos e não mais acreditar em tolices divulgadas pelos canais de televisão. Brasileiros, acordai! Povo iludido é povo vencido!

Almir Quites

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