sábado, 8 de outubro de 2016

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TIRAR O BRASIL DO VERMELHO
Percival Puggina

 
Em matéria de opinião, publicada na edição de ZH desta sexta-feira, um deputado federal petista expressa indignação com o governo da União ante a publicidade que anuncia "Vamos tirar o Brasil do vermelho para voltar a crescer". A inconformidade do parlamentar é diretamente proporcional à qualidade do marca concebida pela comunicação do governo.

Diferentemente do que ele afirma, a peça não tem um duplo sentido exato. Sair do vermelho ou tirar do vermelho são expressões que, inequivocamente, significam equilibrar as contas, seja na economia doméstica, seja na empresarial, seja na esfera pública. E é por não ser exato o duplo sentido, como se verá a seguir, que a interpretação petista se volta contra o próprio partido.

Numa primeira hipótese, se os petistas leram a frase e entenderam que ela tem copa de chapéu, aba de chapéu e fita de chapéu, talvez seja porque o adereço se encaixa nas principais cabeças de um partido que sempre, na oposição e no governo, agiu como antagonista da responsabilidade fiscal que Temer passa a buscar com absoluta determinação. A frase expressa o principal objetivo anunciado pelo novo governo para os próximos dois anos: cadeado na porta da tesouraria, que de tão arrombada e saqueada está a exigir tranca de ferro.

Na segunda hipótese, a dubiedade que o PT aponta na frase, implica identificar "vermelho" com PT. Certo? Ao menos esse é o rumo tomado pelo deputado que se alvoroçou a condenar a peça publicitária. Ao sentir-se atingido pela frase, o PT está entendendo que "Vamos tirar o Brasil do vermelho" significa "Vamos tirar o Brasil do PT". Ora, se Vermelho=PT, o partido do deputado seria uma espécie de proprietário, feudatário, usuário ou posseiro do Brasil. Então, se os petistas sentem assim, a nação deve saltar na frente e afirmar - "Nem pensar, senhores!". Nesse caso, é a reação petista que dá duplo sentido exato e necessário à frase do governo.

O Brasil não tem dono. O que se percebe com a reação petista à frase em questão é efeito da crise de credibilidade do partido, que levou boa parte das campanhas municipais petistas a tirarem o vermelho do PT. Parece que essa crise, medida com larga escala na eleição do último domingo, não reduziu a confusão, nada republicana, em que o partido e seus coadjuvantes se enredaram com a República e seus pertences.

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