O liberalismo e o liberal
Por Vanderli Camorim
Assim como temos a matemática, uma ciência, e o matemático,
um profissional dedicado a esta ciência e sua aplicação, há também o
liberalismo, uma doutrina ou um corpo de princípios, e o liberal que se esforça
em aplicar seus princípios na analise dos fatos complexos de nossa realidade.
Não se pode condenar a matemática pelo fato do matemático errar em sua
aplicação, da mesma maneira não se pode culpar o liberalismo pela mesma falta
do liberal. A doutrina liberal não é a criação de uma mente iluminada querendo
construir uma nova sociedade onde o homem é igualado a uma pedra ou tijolo ao
gosto do pedreiro, muito pelo contrário, tenta aplicar os ensinamentos da
ciência à vida social do homem. Não é uma doutrina completa nem tem dogmas
imutáveis e embora mude com o tempo seus princípios fundamentais permanecem,
entretanto, permanentes e inalteráveis.
Como por exemplo, o liberalismo explica que o governo ou
Estado tem por única e exclusiva função a produção da segurança simplesmente, entre
outras razões, de que não pode haver uma atividade econômica regular se não
houver um ambiente de paz.
Dito desta maneira, para o liberalismo é irrelevante quem
seja o presidente, o governador, o prefeito ou qualquer politico já que sua
esfera de atividade fica restrita apenas à manutenção da paz, da lei e da ordem
e não deve interferir no mecanismo do mercado ou economia. Não interferindo na
economia o politico deixaria de ter o poder que tem sobre as pessoas, sobretudo
de sua propriedade, e usar o cargo em seu proveito a custa da grande maioria.
Não geraria estes escândalos que todos chamam de corrupção nem desviariam
recursos escassos e valiosos em seu afã por poder destruindo o futuro pela
gloria pessoal do presente.
Mas muitos que se dizem liberais por não dominam ainda as
ideias liberais em toda sua extensão e profundidade, se desgastam em discussões
nada liberal de quem seria o melhor politico para exercer tal cargo e dele
esperara que a ordem liberal volte triunfante. É razoável as pessoas pensarem
que a solução dos problemas da politica possa ser resolvida pelos políticos. A
doutrina liberal diz que isso é uma visão errada. A solução desse problema está
longe deste ponto de vista e aponta que este problema só será resolvido pelos
intelectuais depois de acirrada guerra de ideias. Para o liberal a sociedade é
produtos das ideias e não das lutas de classes.
Os políticos agem como o homem de negócios. Estes são
pautados pelos consumidores, terão que fazer aquilo que desejam sob pena de
sofrer prejuízo e saírem do mercado. Os políticos por sua vez são pautados
pelos eleitores e terão que os convencer que estão a altura de suas exigênciase
se não forem eficientes neste proposito perderão votos e seus cargos correm
perigos na próxima eleição. Logo, a conclusão que chegamos é que o problema
está junto ao conjunto dos eleitores, que estão viciados e corrompidos. O que
corrompeu e viciou os eleitores foi a ideologia socialista que tem muitos nomes
e é a doutrina prevalecente. Se contarmos a partir da unificação da Alemanha em
1871, onde surge o socialismo monárquico, já estamos nessa estrada cerca de
século e meio, sendo, portanto natural que todos já nasçam respirando esta
atmosfera, ou melhor, influenciado pela opinião publica que é o ambiente social
onde as ideias se condensam e as pessoas passam a agir da mesma forma. Até o
século 19 era o liberalismo que se condensava na atmosfera da opinião publica e
era natural que todos que se interessassem por politica se tornassem liberal.
Hoje mudou, hoje é o socialismo.
Isto é o resultado de décadas de doutrinação e isso torna
particularmente difícil para alguém que se interesse pela doutrina liberal e
queira se aprofundar em seu estudo. A confusão é inevitável.
No período liberal as pessoas se orientavam pelos valores
que eram abraçados por todos como governo representativo constitucional,
igualdade perante a lei e outras bandeiras trazidas pelo liberalismo. A
lembrança ainda fresca do governo do rei despótico reforçava esta escolha e
todos que entravam na politica e participassem da vida partidária tinham uma única
meta que era o interesse de toda a nação e não dos grupos de privilégios que se
abrigavam sob o poder do rei. Também era fácil identificar o estado ou governo
na figura do rei.
Hoje as coisas são diferentes. Após século e meio de
socialismo tudo perdeu a sua essência e mais que ajuda a criar um ambiente de
confusão dos mais generalizados. Os partidos políticos, criação das ideias
liberais, não tem como funcionar sob o socialismo tornando-se mera casca onde o
que não mais se defende é o interesse de todo o povo, mas de castas das mais
variadas. Por essa razão os partidos políticos se multiplicam como cogumelos
após a chuva, pois muitos e variados são os interesses particulares. O governo
representativo e constitucional passa a ser uma colcha de retalhos que
especifica e garante os velhos interesses de castas que o liberalismo uma vez
quis acabar. A igualdade perante a lei ficou apenas uma frase oca. O governo ou
estado que era fácil identificar na figura do monarca agora é algo abstrato
podendo ser defendido pelo porteiro ou mesmo pela servente que serve o cafezinho
na repartição pública. O estado se tornou o que resumiu Bastiat, em um
instrumento em que muitos vivem a custa do resto na nação. As pessoas que hoje se interessam por
politica logo se tornam socialista porque ela é a filosofia prevalecente,
constitui a atmosfera da opinião pública que todos respiram e assim se tornam
socialistas, agem e pensam como tal sem as vezes se darem conta da mesma
maneira que monsieur Jourdan, o personagem de Moliére que fazia prosa e não
sabia. Fugir dessa atmosfera não é a
mesma coisa que ocorria no período liberal. É preciso força de vontade e muito
estudo para se livrar das amarras do pensamento que a doutrina socialista inculca
nas pessoas. Não é sem razão a confusão no meio dos que escolheram defender o
liberalismo em plena era do socialismo. Constantino por exemplo, se diz um
liberal que não tem medo de polemica. E ai tem um problema.
O liberalismo e o
liberal não entram em polemica, muito pelo contrário, tenta convencer seus
oponentes explicando que seus pontos de vistas estão em desacordo com as
categorias da ação humana. O liberalismo
não se pauta pela ideia das lutas de classe que leva à uma guerra eterna,
antagônica e irreconciliável. O liberalismo se pauta pela harmonia de interesse
e se esforça para que o mais ferrenho guerreiro perceba seu erro. Há também aqueles
que costumam unir termos antagônicos como liberal conservador; também os que
usam termos inadequados e confusos, como esquerda, direita, centro direita,
centro esquerda, e etc. Isso tudo mostra que o aprendizado está deficiente e
que é preciso reforçar a teoria para aplica-la na luta das ideias. É esta
fraqueza que responde o porquê o socialismo continua soberbo e dando as cartas
sem quase nenhuma contestação senão a que é imposta pela realidade, pois afinal
de contas o socialismo é uma impossibilidade e terá que se haver consigo mesmo quando
as politicas adotadas faz a sociedade se aproximar do abismo. Quando caiu o muro de Berlim as pessoas se
apressaram a dizer que foi a vitória do capitalismo. Não foi. Foi só mais uma
prova de que o socialismo é impraticável, mas que em função da abordagem
teórica inadequada não serviu para quase nada ainda, sendo um cadáver que continua
insepulto.
A mudança passa pela mudança da mentalidade. São os
intelectuais que trocam em miúdo as ideias e as lançam sobre as massas. As
massas não pensam, seguem as lideranças. É aí que se deve travar o verdadeiro
combate e só daí surgirá a mudança. Se os intelectuais tiverem sucesso de mudar
a mentalidade prevalecente, o que não se pode fazer da noite para o dia, muito
menos pelo voto, e aperfeiçoarem o seu domínio sobre a teoria liberal, o
sucesso pode ocorrer.
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