Não é sempre que
discordo da Sra Presidente Dilma Roussef; às vezes tangenciamos
alguns pontos de vista. Isto não significa, contudo, que estejamos
olhando na mesma direção.
Por Klauber
Cristofen Pires
Conforme
noticia divulgada pela Agência Brasil, da lavra de Daniella
Jinkings, a "presidenta", segundo a grafia adotada por
aquela entidade, em cerimônia de comemoração ao número recorde de
um milhão de bolsas de ensino concedidas pelo governo federal,
declarou que o Prouni não só "distribui renda"
como também "constrói um modelo de desenvolvimento
sustentável para o país". Além disso, também destacou
que “O Enem é um exemplo de determinação do ministro Fernando
Haddad no sentido de assegurar uma transformação e a
'deselitização' do ensino universitário do nosso país”.
Vamos
analisar suas palavras, passo a passo.
O que
significa dizer que o Prouni distribui renda? Este é um programa de
distribuição de bolsas de estudo. Trata-se de um bem pago com
dinheiro público, o que lhe revela os traços redistributivos, mas
ainda assim o seu objeto não é um pagamento em dinheiro. Por outro
lado, concordo com a mandatária, se levar em conta os beneficiários
diretos de fato: a indústria dos diplomas, esta que em troca dos
generosos subsídios estatais vomita aos alunos qualquer coisa sobre
Karl Marx e aquecimento global e os desemboca no mercado de trabalho
com um canudo de papel enfiado na goela.
Infelizmente,
aí mesmo nossos caminhos se bifurcam. Francamente, não consigo
decifrar como tal programa possa se defender como algo sustentável,
senão por meio dos pesados impostos, muitas vezes pagos por quem
jamais pisará numa universidade.
A
facilitação desbragada de vagas de ensino em universidades que têm
sido criadas as mais das vezes justamente para se lavarem com a chuva
do dinheiro público, constituindo-se basicamente daquelas
desconfortáveis cadeiras com um apoio para escrever e de um quadro,
têm resultado em enorme desinformação sobre o mercado de trabalho
aos jovens, que em sua maioria nunca exercerá a profissão
escolhida, por pura incapacidade do mercado em absorvê-los.
Isto
significa que o dinheiro dos impostos foi (isto é, tem sido)
aplicado em vão, impedindo assim que as pessoas que foram espoliadas
pelo poder público pudessem investir em algo mais necessário e
urgente em suas vidas – algo mesmo que possibilitasse a criação
de atividades produtivas e geradoras de empregos. Isto,
decididamente, não tem como ser intitulado de “sustentável”,
mas sob uma denominação mais própria, de “autofágico”.
Em
uma sociedade livre, onde as pessoas poupam o dinheiro que não lhes
foi esbulhado por meio da tributação, os candidatos a uma
universidade planejam com muito rigor os prós e os contras do
investimento que pretendem fazer. Há um estímulo para que o mercado
seja abastecido com uma quantidade razoavelmente necessária de
profissionais.
Da
mesma forma, há um estímulo para que estas universidades ofereçam
serviços de boa qualidade, porque aí quem paga é o próprio
usuário, e é ele mesmo quem avalia a performance do atendimento.
Não vigora o princípio da “industria da licitação pública”,
isto é, da proliferação de fornecedores de produtos ruins que só
querem vencer licitações para se locupletarem com o fácil dinheiro
público.
Algumas
pessoas já me alertaram sobre o caso de estudantes conhecidos na
gíria como “filhinhos de papai”, que não dão muita bola aos
estudos, e que estão cursando u nível superior muitas vezes por
força da pressão familiar, ao passo que muitos estudantes pobres
que têm acesso ao Prouni valorizam a chance recebida.
O que
dizem não é, em princípio, descabido. Isto acontece, e muito.
Todavia, as pessoas que constatam esta realidade assistem-na em um
cenário onde os valores do trabalho, da poupança e da propriedade e
da iniciativa privada são muito pouco assimilados. Mormente, os
“mauricinhos” e “patricinhas” são filhos de pessoas que
subiram na vida por vias menos íngremes, e se acostumaram ao
processo. Em outros tempos, seriam conhecidos como “fidalgos”.
Quanto
aos estudantes pobres que estudam com afinco, estes também são
prejudicados, e cito aqui pelo menos três fatores: o primeiro é o
da sua formação capenga, fornecida por uma faculdade de barracão;
o segundo será um mercado cegado em sua capacidade de selecionar os
bons profissionais por conta de um exército de diplomados semi ou
completamente analfabetos e imperitos; o terceiro será o de uma
futura renda deprimida por um mercado com superabundância da oferta
de profissionais, que passarão a trabalhar sob salários de
subsistência sem que se lhes permitam investir em si próprios,
empurrando cada vez mais a qualidade dos seus serviços para um nível
inferior.
Em uma
sociedade livre, aquele que seria um estudante pobre já pode ter
nascido em uma família que teve maiores salários por conta de menos
impostos e que poupou para a sua formação, ou que, demonstrando
afinco, conquistou de um empregador ou de um patrocinador privado
qualquer uma bolsa de estudo dada a ele sob austeras e compromissadas
condições de desempenho.
Por
fim, vale ainda um comentário sobre a trágica, sofrível e
deprimente gestão do Sr Fernando Haddad e do nefasto Ministério da
Educação: Não há como contestar o sucesso do governo petista na
afã de terem efetuado uma “transformação” e uma
“deselitização” do ensino universitário. Infelizmente, pela
inexorável natureza das coisas, a essência do ensino de nível
superior está justamente em ser “de elite”, de modo que a
supressão de sua característica fundamental constitui-se no seu
próprio extermínio. É o que estamos todos testemunhando. Vamos
aplaudir?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá! Seja benvindo! Se você deseja comunicar-se, use o formulário de contato, no alto do blog. Não seja mal-educado.