Como fica, de forma real e efetiva, a possibilidade de uma reforma sindical no Governo Dilma?
Fernando
Alves de Oliveira
A eterna e nunca resolvida questão
sindical retorna à ordem do dia, após a saída de Carlos Lupi no
ministério do Trabalho, em escândalo similar aos ocorridos em
outras pastas. A tônica de todos eles: corrupção e malversação
de dinheiro público, que, desde então passaram a ter uma
terminologia suave e amena: malfeitos...
E alguém do ramo sindical duvida que a
pasta do Trabalho volte ao domínio do PT, que Lula só foi
transferiu ao PDT para que o recém destronado pudesse imperar a seu
bel-prazer juntamente com sua companheirada, em troca de apoio
político-eleitoral como importante integrante da base do Governo?
Assim, a perspectiva provoca a necessária
indagação. Como fica, de forma real e efetiva, a possibilidade de
uma reforma sindical no Governo Dilma? Para construir uma resposta,
necessário se torna volver a passado não distante.
Contrariamente ao trabalho de higienização
e revigoramento de um modelo obsoleto, digno, quando muito, de uma
republiqueta de bananas persistiria em manter, por implantado na
remota década de 40, obra da ditadura varguista, forjada em amplo
viés corporativista, tempo que o País não passava de uma colônia
agrícola e a indústria e o comércio apenas engatinhavam, a verdade
é que o sindicalismo brasileiro tornou-se ainda mais empobrecido,
especialmente a partir em que Lula e o PT assumiram o Poder. E lá se
vão quase 10 anos!
E o curioso é que essa regressão deu-se
pelo mesmo ente que emanou do meio e com a promessa formalizada de
acabar com as amarras que impediam não só a sua evolução. Sua
moralização. Lamentavelmente, suas ações foram em sentido
inverso, beneficiando tão-somente os operadores, seus ex-colegas de
ofício, em detrimento dos contribuintes dos sindicatos. Para um
sistema, já recheado de vícios, sobrevieram novas mazelas,
decorrentes da corrupção gerada pelo dinheiro fácil oriundo da
contribuição sindical obrigatória, mãe de todas as suas
deformidades.
Resultado: mais um logro adicionado à
História sindical. As conhecidas e histriônicas promessas
reformistas de palanque ficaram ao sabor do vento, após Lula
catapultar o Poder. Uma prova real disso? A representada pela
PEC-252, de maio de 2000 (dois anos e meio antes de assumir o Poder)
e que dormita até hoje na Câmara Federal, escrita e assinada. Com o
recibo da burla à disposição dos desconhecedores da empulhação,
as decantadas prometidas reformas ficaram para as calendas.
Portanto, não há nada que indique a menor
vontade política do Governo Dilma –cujas ações, pelo menos até
aqui, provam ser às de uma mera continuísta do anterior- em
realizar uma reforma sindical que acabe com a devassidão existente.
Nem por iniciativa do Executivo e muito pelo Legislativo, que
demonstra, a cada dia, ser uma mera gaveta do primeiro. Aliás, todas
as imoralidades que deram azo aos escândalos que não param de
surgir, emanam do Governo de seu antecessor, fruto de impensada e
desmedida cooptação político-eleitoral, cuja moeda de troca foi a
concessão de ministérios de porteira fechada... Conduta vazia,
meramente de preservação e perenidade de poder.
O que é preciso adicionar para ficar
evidenciado e materializado que o Executivo e Legislativo não se
interessam por uma reforma sindical radical que dê azo às
transformações requeridas pelo Estado? Eu disse Estado e não
Governo, pois desde 2003 neste País as diferenças entre um e outro
têm sido confundidas, tornando-se díspares. A velha e tenebrosa
questão sindical é uma delas. Na ótica dos dois Poderes, sua
radical reforma, a bem do real interesse público (ou seja, do
Estado) não dá votos nas urnas. Tiram! Quais as razões? Muito
simples. Ferem os interesses pessoais dos donatários sindicais, isto
é, dos operadores que deveriam servir e não serem regiamente
servidos em seus insaciáveis apetites pecuniários e a preservação
de sinecuras.
Querem uma comprovação inequívoca do
forte e ferino lobby
pela manutenção dessa
verdadeira reserva de mercado?
Que tal o exemplo das próprias
centrais sindicais, órgãos espúrios na legislação, surgidas no
final dos anos 70, após redemocratização do País e que são
lideradas pelas CUT (PT) e Força Sindical (PDT). Desde o seu
nascedouro foram sustentadas pelas mensalidades de seus respectivos
sindicatos de trabalhadores filiados. Quando da assinatura da lei de
sua oficialização, Lula destinou a elas a metade do percentual
devido ao ministério do Trabalho, resultante da partilha do bolo
sindical (20%). Trata-se de concessão anual de milhões de reais,
representados por dinheiro público e sem nenhuma fiscalização,
pois quando da destinação, foi cuidadoso ao vetar o artigo que
submetia o TCU como órgão fiscalizador. A justificativa foi de que
as centrais, a exemplo dos sindicatos são pessoas jurídicas
privadas, ficando sua fiscalização a cargo de seus próprios
Conselhos Fiscais. O que vale reprisar o velho bordão: raposas
tomando conta do galinheiro... Claro que a destinação dessa
dinheirama pública foi em troca de apoio político-eleitoral. Assim,
não se surpreendam se no futuro, esses perspicazes sindicalistas não
exigirem os 10% restantes... Com toda certeza, antes do pleito
presidencial de 2014... Anotem e confiram!
Foi esta a única “obra” do Governo
Lula no campo sindical. Reconhecimento e dinheiro a rodo para as
centrais sindicais, tendo à frente a CUT, braço direito do PT...
Mas não pensem que a inversão de valores
no âmbito sindical ocorre somente nas entidades laborais. Embora
nelas haja predomínio, também nos patronais existem nichos
similares, ainda que guardadas as bem devidas proporções. Ainda
recentemente uma federação esteve (e na verdade continua) engasgada
em explicações sobre um caríssimo patrocínio de “palestras”
que teriam sido feitas por um atual ministro de Estado, após ter
deixado o cargo de prefeito grande Capital. Ocorre que os próprios
funcionários de tal federação desconhecem a existência de tais
eventos. Como nesta terra, campeã absoluta do ócio, o ano só
começa depois do Carnaval, e também a exemplo de outros, igualmente
este estranho fato está pendente de esclarecimento. Que pode não
passar de um simples fato isolado, como também representar a ponta
de um iceberg na existência de incestuosas relações de tráfico de
influência de autoridades públicas com líderes sindicais do
patronato.
A carcomida legislação também impõe que
a empresa seja a cobradora e repassadora obrigatória da contribuição
compulsória descontada do salário do trabalhador. Assim, não
interessa às entidades laborais cogitar por mudanças. Para que
trabalhar por associativismo se os cofres continuarão inflados sem
ele? Subsiste, pois, alguma dúvida de que no dia em que o artigo 582
da CLT for suprimido, ficando sob a inteira vontade e iniciativa do
empregado efetuar ele próprio o recolhimento da contribuição
diretamente à sua entidade, que o sistema sindical laboral desabe
como um castelo de areia?
Nas entidades patronais é a própria
empresa que efetua o pagamento da contribuição devida ao sindicato
da sua categoria econômica, cujo cálculo incide sobre o valor do
seu capital social. Em razão disso, ocorre a necessidade de um
trabalho de fidelização junto ao contribuinte no sentido de
torná-lo sindicalizado, termo que indica que, além de contribuinte
obrigatório, ele igualmente é associado, pagando uma mensalidade
espontânea. Entretanto, esse expediente só é efetuado em entidades
patronais efetivamente de vanguarda, e por dirigentes que se
preocupam com o futuro, adotando as posturas e diretrizes do
cognominado novo sindicalismo, que é imune aos ranços da obsoleta
legislação de Vargas. O que deve ser destacado e deixado
devidamente esclarecido é que a contribuição sindical (até 1996,
denominada de imposto sindical) nunca deixou de ser tributo
obrigatório, por sua recepção ao artigo 149 da Constituição
Federal. Dinheiro público destituído de fiscalização idem.
A indagação que fica não é outra.
Quando será que teremos um Governo realmente comprometido com a
causa pública do sindicalismo? Bastam os que já passaram ao largo
ou os que não se preocupam com os soberanos interesses da sociedade
brasileira, mas sim atuando na contramão, como guardiões protetores
dos interesses menores e mesquinhos dos seus donatários feudais. Das
fileiras do PT, e com base nos antecedentes, com certeza absoluta não
será jamais!
Como se observa no sindicalismo brasileiro,
excetuando-se poucos atores, não há santos, embora alguns até
proclamem divindade. E muitos deles, quando incomodados, além dos
chifres à mostra ainda agitam seus aguçados tridentes.
Consultor sindical
patronal, autônomo e independente, autor dos livros S.O.S.
SINDICALpt
e O
sindicalismo brasileiro clama por socorro,
editados pela LTr, além de dezenas de artigos (vide acervo em
http://falvesoiveira.zip.net) e de palestra direcionada. Contatos:
falvesoli40@terra.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá! Seja benvindo! Se você deseja comunicar-se, use o formulário de contato, no alto do blog. Não seja mal-educado.