Sacolagem no exterior não é sinal de
pujança, mas de um país atrasado, achacado por tributos
confiscatórios e uma burocracia excludente.
Por Klauber Cristofen Pires
Nos últimos dias correu solta e soberba
a notícia de que os Estados Unidos decidiram facilitar a concessão
de vistos aos brasileiros, face ao reconhecimento de que nossos
compatriotas costumam gastar com prodigalidade por lá.
Nas tv's e nos jornais, a nova foi
transmitida com aquele aspecto de “estamos podendo”, coisa de
país emergente que vai à nação do norte para suavizar a crise de
lá magnanimamente adquirindo parte do espólio da massa falida.
Aff...
Se tem coisa que não posso deixar de
reconhecer com relação ao governo petista e à imprensa engajada, é
a capacidade dos próprios de fazerem de um limão uma limonada.
Ainda assim, quem quer que tenha prestado atenção aos periódicos
com olhos verdadeiramente críticos, poderá ter visto o mesmo que
eu: um governo que sorri e que com uma das mãos acena para a
demagogia da gastança dos nossos turistas enquanto com a outra
cutuca-lhes as costas com uma pistola, pronta para disparar a
qualquer momento uma nova medida repressora que limite ou intente
limitar a saída de divisas.
É certo que os brasileiros, embora em
menor número, costumam gastar relativamente mais do que europeus e
japoneses; porém, do mesmo fato extraio uma leitura completamente
diferente ao alvissareirismo afobado dos complexados de
terceiro-mundismo: o motivo é simples: os turistas de outros países
vão à América para passear, se divertir e adquirir cultura; seus
destinos são lugares interessantes como a Nasa, o Mont Rushmore, as
cataratas do Niágara e assim por diante. Já a brazucada vai é para
Nova York para se enfiar nas “25 de março” de lá para fazer a
mais estressante sacolagem, desde as filas sem fim em
estabelecimentos lotados sem direito a parar para um sossegado almoço
- mal e porcamente nem mesmo para um xixi - até o momento de se
haverem com os fiscais da Alfândega, no retorno.
O negócio da nossa caboclada é atolar
as malas com os bens mais comezinhos - roupas, inclusive – para
atender à demanda reprimida no nosso país por uma tributação e
uma burocracia fustigantes.
Ora, se avexem! Vocês acham mesmo que um
alemão, um corano ou japonês vai gastar um dos seus preciosos dias
de férias para sair em busca de uma calça jeans ou quiçá de um
notebook ou uma filmadora digital, coisas que facilmente ele pode ter
em seu país de origem?
O que os turistas brasileiros vêm
fazendo não configura uma demonstração de pujança de um país
emergente, mas justamente o contrário, revela o retrato de um povo
desesperado pelas más políticas governamentais que aqui -
paradoxalmente – aplaude, elege e reelege.
Genial!
ResponderExcluirNunca tinha parado pra pensar sobre isso Klauber. Imaginava apenas ser os americanos querendo uma boquinha do consumo descontrolado dos brasileiros, nessa época de crédito fácil.
Verdade sobre os impostos, tributos, etc...
ResponderExcluirTodavia...
Classe média/alta sempre foi sacoleiro de Miami e ninguém falava, não diferente de um sacoleiro do Paraguai. É o famoso: "se eu posso meu vizinho não pode" O_o
Vamos manter a classe escrava sem muito poder de pensamento, recursos, isso faz pensar e pensar não é bom para a outra classe social. Viajar trás cultura e cultura também não é bom. Esse tipo de pensamento é que nossa religião sempre lutou contra e continuará lutando.
Nosso povo é alegre, educado, cortês, vide o Europeu e Americano, povo frio, saco de estupidez e grosseria. Se isso é ser educado e ter sabedoria nas compras, não esta mais aqui quem falou.
Não é o Americano que quase enlouquece no "Black Friday, Natal", criaturas enlouquecidas em compras frenéticas(para não dizer outra coisa), porque nosso povo é diferente!? Não tem direito??
Acho que por detrás de tudo esta uma classe média preocupada com a ascensão do seu vizinho, veja só como são as coisa, rssss ;-)
Vamos deixar nosso povo comprar, nosso povo se contenta com tão pouco....
Sr Anônimo,
ResponderExcluirPerceba: eu não estou criticando a decisão das pessoas de fazerem compras nos EUA. Quando eu viajar para lá, certamente farei igual ou pior.
Nossos turistas estão fazendo o que acreditam ser melhor para eles. Nada tenho a comentar sobre isto.
O que estou criticando é o nosso sistema tributário-burocrático, que faz com que estas pessoas ajam desta forma. Um alemão, corano ou japonês não viaja até os EUA para comprar bugigangas porque ele tem de tudo para comprar no seu próprio país - às vezes até produtos melhores e mais sofisticados.
Parabéns Klauber e grato pelo seu comentário final ao anônimo. Eu já estava ficando envergonhado de ter comprado aquela jaqueta de couro no Chinatown de NYC em 2001, que dura até hoje.
ResponderExcluirOportuno o blog, mas existe outra leitura que pode ser feita dessa situação. É a do fluxo de capitais.O Governo solta papagaio a 6% (mais caro do que Portugal em plena crise); joga o dinheiro na conta dos funcionários, que despejam nos EUA. A grana nem sai do BB. Só quando passa para o VISA. E ficamos nós lambendo uma dívida externa de 417 BILHÕES
ResponderExcluir