quarta-feira, 5 de março de 2014

Perspectivas para a Ucrânia e algumas explicações aos leitores


BRASÃO DE ARMAS 

As marcas no povo ucraniano são muito profundas para serem esquecidas!
Por Klauber Cristofen Pires

O jornalista Reinaldo Azevedo, em seu artigo "Ucrânia: Quando o óbvio se lembra de acontecer", declarou o seguinte: 
Quando Viktor Yanukovich, o agora presidente deposto da Ucrânia, aceitou negociar, inclusive com antecipação de eleições, o sensato teria sido aceitar a proposta — até porque, a despeito de sua biografia pouco recomendável, havia sido eleito num pleito que foi considerado limpo e legítimo. Sempre se pode dizer “Não!”, eu sei, mas aí é preciso saber quais armas estão à disposição, inclusive as da diplomacia, para aguentar o tranco. E o Parlamento ucraniano disse “não” e derrubou o presidente. Mas não tinha, e não tem, um plano para o momento seguinte.
Vou começar prestando satisfações aos sonsos: leio o blog do Reinaldo Azevedo diariamente e o considero extremamente por suas opiniões e por seu excelente e corajoso trabalho contra a bolivarianização do nosso país. A questão é que aqui ou ali tenho interessantes discordâncias, como neste caso.
O problema é que gente como Yanukovich, não faz acordos com a intenção de cumpri-los, mas apenas como meio de ganhar tempo, reorganizar-se e destruir seus inimigos.
Este filme carrega a marca da censura.  Com o título em inglês de “For a Greater Glory”, foi produzido e custeado heroicamente por Andy Garcia, porque as grandes produtoras de Hollywood se negaram a fazê-lo. A página da Wikipédia sobre o filme foi apagada. No Brasil, curiosamente o maior país católico do mundo, a película não foi exibida nos cinemas, embora tenha se revelado um sucesso estrondoso em países como EUA, México e Polônia. Não há versões para serem compradas pela internet.
O enredo conta a história da guerra cristera, uma revolta popular diante da lei Calles, promulgada pelo presidente Plutarco Elías Calles, que criminalizou a fé católica por todo o país, tendo assassinado milhares de bispos e padres. A guerra terminou com um saldo de mais de noventa mil mortos! Como seria engraçado o grupo Porta dos Fundos fazer um vídeo no Youtube tirando sarro de padres e fiéis sendo fuzilados dentro das igrejas ou pendurados enforcados ao longo de postes de linhas telegráficas!
O que é interessante para o que desejo aqui demonstrar aos leitores são dois fatos: primeiramente, a população mexicana começou a fazer uma resistência pacífica, que foi duramente reprimida com o assassínio de padres e fiéis que os apoiassem; e o que não é mostrado no filme, que os líderes da revolta, que estavam em posição de vitória e aceitaram negociar com o presidente socialista Plutarco Ellías Calles foram todos posteriormente assassinados!
Da mesma forma, a guerra do Iraque teve duas “edições”, porque na primeira os aliados recusaram-se a fazer a coisa certa, isto é, retirar o democida Sadam Hussein do poder.
Mesmo no Brasil, guardadas as proporções, a oposição tacitamente fez um acordo com Lula e o PT, acreditando que as revelações sobre o mensalão seriam suficientes; Diziam “- vamos deixá-lo sangrar...”, e o resultado todos vimos, isto é, a absolvição dos mensaleiros do crime de formação de quadrilha e muito pior do que isto, a instalação de um Supremo tribunal Revolucionário.
O sábio Imperador Dom Pedro II jamais caiu nesta armadilha, porquanto não descansou até que o maluco Solano López fosse preso ou morto.
Agora, vamos compreender a crise ucraniana sobre o prisma histórico.  Os leitores já ouviram falar do Holodomor? Este termo, cunhado pelo escritor Oleksa Musienko, deriva da expressão ucraniana 'Морити голодом' (moryty gholodom), tendo como raíz  etimológica as palavras holod (fome) e moryty (matar através de privações, esfaimar), significando por isso "matar pela fome", e designa o gigantesco morticínio de mais de cinco milhões de cidadãos ucranianos pelo governo comunista da União Soviética, sob mando de Josef Stálin, entre os anos de 1932 a 1933,  que ordenou o confisco de toda a produção agrícola e roupas de frio naquele país.
Outro fato muito importante é uma informação erroneamente disseminada pela mídia engajada, ao citar as regiões onde os habitantes de etnia russa se opõem ao movimento rebelde ucraniano, bem como do presidente Vladimir Putin a declarar que usará a força para protegê-los.
Durante a vigência da União Soviética, milhões de ucranianos foram deportados para outras regiões tais como a Sibéria, as mais das vezes individualmente – isto é, evitando a concentração em comunidades - para que se extinguissem a sua etnia, cultura e língua, ao mesmo tempo em que uma quantidade equivalente de russos foram para lá instalados compulsoriamente, como uma medida cultural de ocupação. Assim, não é verdade que as pessoas de etnia russa sejam habitantes naturais daquelas regiões, assim como Putin jamais teve com elas qualquer consideração em protegê-las, senão como usá-las como massa de manobra.
Quem quiser conhecer mais sobre o Holodomor, as diversas investidas belicistas da Rússia/União Sociética contra os ucranianos, sugiro conhecerem o belamente ilustrado e informativo blog do amigo Anatoli Oliynik, Notícias da Ucrânia.
Como vêem, as marcas no povo ucraniano são muito profundas para serem esquecidas. Com muita razão, o povo ucraniano vem ansiando pelo modo de vida ocidental, com os valores que o construíram, isto é, as garantias de  liberdades individuais, estado de direito, democracia e economia de mercado, de modo que qualquer composição com o governo de Yanukovich apenas retardaria ou frustraria de vez tais esperanças, visto que ele não passava de uma marionete da Rússia.
É certo que o Ocidente atual está muito...como direi...boiola!, mas em qualquer processo de ruptura existem os momentos críticos, e tais riscos existem.

O que me parece mais provável é que a Ucrânia desta vez conseguirá sua liberdade e se integrará ao bloco europeu, conquanto provavelmente perca a Criméia para a Rússia. Parece-me um preço bem pago.

2 comentários:

  1. Pelo que consta no Plano do Clube de Roma interpretado pelo ministério Cutting Edge http://www.cuttingedge.org/news/n2363.cfm o que a Russia está fazendo é tentar anexar a Ucrania a Supernação 5, naquilo que seria um reajuste de 10 Supernações como mostra o mapa do link..O Senhor conhece este plano? Tem alguma consideração sobre isso?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sr. Romand,

      Tenho tido conhecimento da doutrina eurasianista do "filósofo" Alexander Duguin, que andou apanhando em um debate com Olavo de Carvalho. Um artigo bem interessante está no Mídia sem Máscara: A Ameaça Eurasianista, em http://www.midiasemmascara.org/artigos/globalismo/15008-a-ameaca-eurasianista.html

      Excluir

Olá! Seja benvindo! Se você deseja comunicar-se, use o formulário de contato, no alto do blog. Não seja mal-educado.