quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Assistencialismo e Desemprego

Debate 2014: faltou dizer alguma coisa
Debate 2014: faltou dizer alguma coisa
Durante a campanha à Presidência da República, a candidata Dilma Rousseff repetiu exaustivamente que uma das conquistas do seu governo foi a redução do desemprego. Isso é verdade. E, infelizmente, o candidato da oposição não soube explicar esse estranho paradoxo: como pode uma economia estagnada apresentar taxas decrescentes de desemprego?
Vou tentar responder a essa pergunta e, para efeitos de simplificação, vou fazer uma análise comparativa do desemprego no Brasil apenas nos anos de 2013 e 2014. De acordo com dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) efetuada pelo IBGE, o desemprego recuou de 5,4%, em 2013, para 4,8%, em 2014. Como o IBGE calcula esses números? Complicado? Nem tanto. Veja o diagrama abaixo, ele vai facilitar sua vida.
ivantabela
Da população total do país, nós subtraímos as pessoas com menos de 10 anos. Chamamos a parte restante de População em Idade Ativa (PIA). Do que restou, subtraímos agora aqueles que não querem ou não podem trabalhar: aposentados, pensionistas, estudantes, donas de casa, encarcerados etc. Sobrou a famosa População Economicamente Ativa (PEA). Fazem parte da PEA as pessoas engajadas no mercado de trabalho. Ou seja, quem pertence à PEA tem de estar necessariamente trabalhando (ocupado) ou procurando emprego (desempregado). Portanto, desempregado é o sujeito maior de dez anos que está procurando emprego, mas não encontra. Finalizando, a taxa de desemprego é calculada da seguinte maneira:
Taxa de desemprego = Desempregados / População Economicamente Ativa
Uma outra relação também importante, embora não tão conhecida, é a taxa de participação da força de trabalho.
Taxa de participação da força de trabalho = PEA / PIA
O que o candidato Aécio poderia ter dito (mas não disse) é que a taxa de desemprego diminuiu, mas emprego também diminuiu. A taxa de participação da força de trabalho recuou de  57%, em 2013, para 56%, em 2014. Resumindo, a taxa de desemprego diminuiu não porque o país gerou mais empregos (muito pelo contrário) e sim porque aumentou o número de pessoas que nem trabalham, nem procuram emprego. Esse aumento de inativos tem alguma coisa a ver com os programas assistencialistas do governo, notadamente o Bolsa Família? É possível que sim, mas são necessárias mais análises para se chegar a um resultado mais conclusivo.
Sabe-se ainda que essa redução da PEA aconteceu sobretudo entre jovens de  18 a 24 anos. Muito bem, se esses jovens tivessem deixado de integrar a PEA porque um membro da família passou a receber assistência do governo e, em função disso, puderam se dedicar exclusivamente aos estudos, teríamos aí um fato para ser comemorado. Mas não foi isso que aconteceu. Entre 2013 e 2014, houve um aumento no número de jovens que não trabalham e nem estudam. A minha conclusão pessoal é que ainda não é possível afirmar isso com todas as letras, mas alguns fatos parecem indicar que a expansão desse arcabouço de proteção social no Brasil está criando um exército de inativos e isso não é nada bom.

Sobre o autor
Ivan Dauchas
Ivan Dauchas é economista formado pela Universidade de São Paulo e professor de Economia Política e História Econômica.

Matéria extraída do website do Instituto Liberal

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