quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O que aflige o Brasil


Paul Krugman defende a expansão monetária inflacionista como solução para a Grécia. Entenda aqui as falácias do seu pensamento.
Por Klauber Cristofen Pires


Ontem fiz um sanduíche fantástico. Se os leitores quiserem seguir a receita em casa, aí vai: bata uma nota de R$ 5,00 no liquidificador e espalhe sobre as faces internas de duas notas de R$ 2,00; enrole umas 4 ou 5 notas de R$ 1,00 e salpique moedinhas de 5 e 10 centavos. Por fim, se você gosta de salada, insira também algumas folhas de dólares.
Calma, não se arrisque a contrair algumas salmonelas e estreptococos só por minha causa! Sei, está óbvio que se trata de alguma ironia, mas acreditem...há, e como(!) idiotas que decidem tomar as coisas ao pé da letra...
Quem seria capaz de tamanha estultice? Paul Krugman, decerto. Perdão, corrigindo: os seus seguidores, porque o próprio não é besta, não! Como costuma dizer meu querido pai, “enquanto houver cavalo, São Jorge não anda a pé...”
Em seu artigo publicado no Estadão no dia 28/02/2012, sob o título “O que aflige a Europa”, o garoto-propaganda de Lord Keynes recomenda aos europeus comerem sanduíche de papel-moeda: Se os países periféricos ainda tivessem suas próprias moedas, eles poderiam usar a desvalorização para restaurar rapidamente a competitividade – coisa que certamente fariam.”.
Em outras palavras, Mr. Krugman sugere como solução praticar a tributação oculta da desvalorização cambial, engatar a terceira marcha e subir a rampa da hiperinflação, e faz isto mostrando a língua para a austeridade fiscal da Alemanha, o país que no século passado deu a conhecer ao mundo – com grande receptividade no Brasil - as maravilhas da hiperinflação:
Basta lermos um artigo opinativo sobre a Europa – ou, com frequência, uma reportagem supostamente factual – para nos depararmos com uma de duas histórias, um par que eu descreveria como a narrativa republicana e a narrativa alemã. Nenhuma destas histórias corresponde aos fatos.
A seguir, a versão alemã, segundo a qual tudo não passa de uma questão de irresponsabilidade fiscal. Esta história parece se encaixar no caso grego, e só. A Itália apresentou déficits nos anos anteriores à crise, mas estes foram apenas um pouco maiores do que os apresentados pela Alemanha (a imensa dívida da Itália é um legado de políticas irresponsáveis de muitos anos atrás). Os déficits de Portugal eram significativamente menores, enquanto Espanha e Irlanda chegavam a registrar superávits.
Ui! acho que mordi um caroço de azeitona no meu sanduíche! Ah, não, era uma das moedinhas...nem me dei conta que são de metal...Por falar em metal, aqui vai outra da menina-dos-olhos dos banqueiros e governos:
Questão monetária. Assim sendo, o que aflige a Europa? A verdade é que se trata principalmente de uma questão monetária. Ao introduzir uma moeda única desprovida das instituições necessárias para garantir o funcionamento desta moeda, a Europa reinventou na prática os defeitos do padrão ouro – defeitos que desempenharam um papel importante ao precipitar e perpetuar a Grande Depressão.
Mais especificamente, a criação do euro fomentou uma falsa sensação de segurança entre os investidores privados, desencadeando imensos e insustentáveis fluxos de capital destinados aos países de toda a periferia europeia. Como consequência da entrada destes fluxos, os custos e os preços aumentaram, a manufatura perdeu a competitividade, e países que apresentavam uma balança comercial relativamente equilibrada em 1999 começaram, em vez disso, a acumular imensos déficits comerciais. Foi então que a música parou.
O paralelo aqui apresentado não passa das aparências. Em um sistema de padrão-ouro, os governos não têm outra forma de tributar que não seja confiscando fisicamente o lastro físico da riqueza dos contribuintes: nada de impressoras, nada de expansão monetária inflacionista.
Desvalorizar a moeda não significa outra coisa que diminuir o seu valor de compra. Ora, como pode ser considerada como uma solução uma medida que empobrece que tenha tal maldito dinheiro em mãos? Empobrecer é solução para quê?
Ademais, se o euro impossibilita aos países periféricos fazerem uso da desvalorização cambial, que repito, não é solução pra nada, ainda assim o euro não é imune à expansão monetária, que pode muito bem começar a andar a um passo mais acelerado se a moda de socorrer economias deficitárias pegar de vez.
Por fim, vale lembrar de um detalhe olvidado – ou escondido – pelo Nobel-economista: as reservas fracionárias praticadas pelos bancos descentralizam a criação de dinheiro a partir do nada, possibilitando a governos e indivíduos tomarem as piores decisões econômicas que consomem as riquezas do presente e do futuro. Mas, como disse seu mestre fabiano...No futuro estarão todos mortos mesmo, não é? Aí estão os gregos, matando-se uns aos outros...
Com o cinismo típico dos da sua estirpe, Krugman se reporta aos críticos do estado de bem-estar social mediante o apelo retórico da chantagem emocional da luta de classes:
A versão republicana – ela consiste num dos temas centrais da campanha de Mitt Romney – diz que a Europa está em má situação porque fez demais para ajudar aos pobres e desafortunados, e que estaríamos testemunhando os últimos estertores do Estado de bem estar social.
Se a essência do estado de bem-estar social se resumisse à ajuda aos pobres, até que a conta seria pagável. No entanto, como dizia meu falecido sogro...“Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, é burro e não entende da arte.”. Ora, Sr Krugman, quem lhe disse que são pobres e desafortunadas as parasitas que pululam nos infindos órgãos criados com as finalidades mais bisonhas neste tipo de organização social?
Endividamento estatal desenfreado com uma manutenção caríssima da máquina pública inchada e com o pagamento insustentável de aposentadorias, pensões e benefícios; papel-moeda sem lastro; e reservas fracionárias. Eis a causa da crise europeia.
Ninguém come dinheiro, nem veste dinheiro, nem trata alguma doença com dinheiro, nem mora em uma casa construída com cédulas. Comida, roupas, remédios, moradia e todos os bens que conhecemos precisam ser produzidos por alguém. Ninguém precisa ser um Nobel para constatar algo tão óbvio.
A Suécia e a Alemanha ainda estão aguentando o tranco porque se industrializaram e capitalizaram-se fortemente nos tempos em que ainda eram economias liberais. Esta importante informação também foi sonegada aos leitores. Porém, a transformação gradual de suas sociedades em social-democracias está a minar paulatinamente a competividade, a criatividade, a produtividade. A Grécia, a exemplo de outros países pequenos, por sua vez, produz pouca coisa além do turismo e de alguma agricultura com razoável valor, como azeite de oliva e pêssegos, o que não representa nenhuma surpresa que sentisse por primeiro – porque mais vulnerável – os efeitos da crise.
Antes de finalizar este artigo, eu pediria o favor de alguém da editoria do Estadão corrigir a tradução no cabeçalho da sua coluna, na qual ele declara: “A consciência de um liberal”. Francamente, desconheço se a intenção foi pegar o vácuo no próspero renascimento do pensamento liberal no Brasil ou, vá lá, se é o caso de creditarmos uma chance à ignorância dos profissionais - diplomados – do jornalismo. Em qualquer caso, pelo menos aos meus leitores, esclareço que Mr. Krugman não é um liberal, mas sim um liberal, assim, escrito em itálico, para evidenciar de que se trata de um termo estrangeiro, cujo significado é o de ser adepto de teorias socialistas.
Por fim, justifico o título deste artigo por afirmar que o que aflige o Brasil, para aproveitar o trocadilho com o título do sujeito aqui analisado, é o fato de por décadas termos dados ouvidos às teorias marxistas-keynesianistas das quais o Sr Krugman se faz laureado porta-voz. 

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