Nos EUA, os megacapitalistas são conhecidos como "fatcats" |
O processo de desindustrialização
nacional é resultante da “panelinha” entre grandes empresários
e o governo.
Por Klauber Cristofen Pires
Conversando com as pessoas em geral,
percebo com muita clareza a confusão que lhes atormenta o juízo no
que diz respeito à situação geopolítica nacional e mundial,
especialmente no que tange ao que entendem por capitalismo e
capitalistas.
Para um bom entendimento inicial, convém
explicar que o termo capitalismo não designa uma ciência, uma
doutrina econômica ou ainda menos, uma ideologia, tal como é o
socialismo. O capitalismo não passa da descrição do conjunto de
interações humanas de natureza comercial. Pode-se dizer que há de
se confundir com o próprio verbete “mercado”.
Uma doutrina que estuda e defende a
economia de mercado é o liberalismo. O conservadorismo, que engloba
outras convicções de ordem moral e religiosa, adota o liberalismo
no campo econômico.
Entender isto é fundamental para
compreender por que um empresário não há de ser necessariamente um
defensor dos fundamentos liberais.
Muito provavelmente você deve ter lido
sobre o preocupante processo de desindustrialização por que tem
passado o Brasil nos últimos anos. A denúncia é verídica, e tem
explicação.
A princípio, o Brasil jamais foi uma
sociedade autenticamente livre; portanto, nunca tivera uma economia
completamente livre. Ainda vivemos o estigma das Capitanias
Hereditárias. Todavia, em alguns breves períodos fomos agraciados
com algum alívio por parte das limitações impostas ao mercado pelo
governo, bondades que geralmente foram concedidas em face de um
inevitável colapso.
Foi assim com o mercado automobilístico,
liberado pelo então presidente Fernando Afonso Collor de Mello, após
um fastidioso período de dez anos de jejum de lançamentos a que as
chamadas “quatro grandes” - Ford, Chevrolet, Volkswagen e Fiat –
submeteram o povo brasileiro.
O mesmo se pode dizer das privatizações
tucanas. Há de se destacar que o governo do PSDB nunca defendeu a
privatização das tênias estatais em decorrência de qualquer traço
de convicção neste sentido, mas somente porque elas já haviam
chegado ao ponto da mais absoluta estagnação, corrupção,
ineficiência, insolvência e atraso tecnológico. As privatizações
ocorreram por conta da inexorável necessidade.
Agora estamos vivendo um momento em que
há um enforcamento generalizado das micro, pequenas e médias
empresas, incapazes de concorrer com produtos importados em face do
cenário de burocratização e tributação crescentes: é a chamada
desinsdustrialização.
Alguns economistas metidos a sabichões
alegam que se trata de um fenômeno natural, haja vista o mesmo estar
se passando nas economias mais desenvolvidas. Nada mais falso!
Naqueles países, o valor agregado da mão
de obra subiu de nível e de salários, ocupando os profissionais
primordialmente em atividades ligadas à criatividade, como pesquisa
e desenvolvimento tecnológicos de ponta e a indústria do cinema, da
música, do turismo e dos esportes, de modo que mais ou menos forçoso
tornou-se transferir a mão de obra operária para as mãos dos
chamados países emergentes.
No Brasil, nem sequer alcançamos um
estado satisfatório de industrialização. A bem da verdade, salvo
exceções, passamos pouco além do que se chama de primeira fase da
industrialização, o que seja, a produção alimentícia e de
vestuário. Tudo o mais produzido neste país tem sido produzido com
muita dificuldade, de tal forma que os produtos fornecidos ao mercado
são poucos, caros, de má qualidade e de estado tecnológico
beirando a obsolescência.
A verdade mesmo é que o Brasil está
perdendo a corrida pela transferência das indústrias dos países
desenvolvidos para os emergentes, bem como nessa mesma esteira a
oportunidade histórica de desenvolver a sua própria indústria
nacional. O nosso setor de serviços, portanto, pode ser muito mais
bem explicado pelo operário ou operária que perdem o emprego e
respectivamente, um planta uma máquina de fritar batatas em uma
parada de ônibus e a outra abre um salão de beleza na sala de estar
de sua casa.
Até aqui, os leitores que se derem conta
do óbvio, que tem sido obnubilado por farta e enganosa propaganda do
governo e dos engajados jornais, vão se sentir alarmados e vão
perguntar como isto pode se que os representantes da iniciativa
privada, especialmente sob a liderança dos grandes empresários,
assumam uma liderança oposicionista.
A resposta, caro, é que isto não os
preocupa, justamente porque estão mancomunados com o governo! Muito
pelo contrário do que possa parecer aos ingênuos, a complicada
legislação positivista que desce ao âmbito administrativo para
decidir quem pode e quem não pode produzir se lhes aproveita muito
bem, da mesma forma como a alta tributação que exclui aqueles que
não detenham uma economia de escala.
A relação é simbiótica: os grandes
empresários patrocinam os políticos e seus projetos de
agigantamento e perpetuação do poder, enquanto estes lhes concedem
monopólios e regalias fiscais com que se diferenciar dos demais,
pari passu à colocação de toda sorte de percalços no
caminho dos seus rivais. Ao duplo processo de burocratização e
tributação com efeito seletivo tenho cunhado o termo “dumping
tributário-administrativo”. Com efeito, trata-se de uma
eficiente e mais aprimorada forma de dumping, desde que é a
população quem arca com os custos da iniciativa!
A tais empresários, o filósofo Olavo de
Carvalho lançou o epíteto de “metacapitalistas”, porque embora
vivam e prosperem em um ambiente capitalista, desconhecem ou
desprezam seus princípios para associarem-se ao estado no afã de
perpetuarem-se no mercado sem terem de cumprir com simples, iguais e
desoneradas condições de concorrência.
O recente caso da Foxxcon retrata isto
muito bem. A Foxxcon é uma empresa taiwanesa que por recente
portaria do governo federal foi agraciada com privilegiados
incentivos fiscais para produzir tablets segundo um processo
produtivo básico em que uma determinada percentagem de componentes
tenha de ser produzida no Brasil e mediante o compromisso de investir
pelo menos 5% do faturamento em pesquisa e desenvolvimento.
Até aí parece estar tudo bem. Só que
Fulano tem uma pequena fábrica de fios de lã natural e ele gostaria
muito de desenvolver um novo fio que não produzisse alergia e
Beltrano, que produz tintas, anseia em pesquisar um novo pigmento que
poderia revolucionar seu ramo. Ambos, todavia, por serem pequenos,
jamais serão contemplados pelo dirigismo estatal, que escolhe a quem
facilitar a vida segundo suas conveniências e não raro mediante
outras condições não imprimíveis no papel...
Não é à toa que não temos os nossos
Steves Jobs: eles percebem a situação e acabam tornando-se
funcionários públicos! O dono da Appple somente conseguiu iniciar
sua grande empresa em uma garagem porque nos EUA dos anos 70 havia
condições que tornavam viáveis tais iniciativas. No Brasil atual,
isto é praticamente impossível.
Dia desses, um amigo meu, dono de um dos
melhores restaurantes de peixes de Belém, foi avisado de que precisa
comprar pescado com selo SIF. Ocorre que ele se abastece no próprio
mercado do Ver-o-Peso, que se distancia do seu estabelecimento em
pouco mais do que algumas centenas de metros. Ele compra do mesmo
peixe que qualquer pessoa compra, mas por ter um negócio formal, o
governo está a exigir que ele seja obrigado a adquirir carne
vistoriada por seus fiscais agropecuários. Não parece coisa de
máfia? Isto significa que ele está a um passo de ter de substituir
o pescado adquirido fresco por pescado congelado e mais caro. Agora
diga você, caro leitor: acaso o dono de um restaurante fino não
guarda para si a maior responsabilidade, em função de sua própria
reputação, de escolher bem os seus insumos?
Por falar nas capitanias hereditárias, dizem que o primeiro contrato comercial firmado pelo rei, pouco depois do Cabral cá chegar, foi a concessão para exclusividade (olha ela aí) da exploração do pau-brasil ao senhor Fernão de Loronha – era assim que se escrevia - nas terras de Santa Cruz.
ResponderExcluirE sobre a farsa que criaram em torno da atual onda da desindustrialização brasileira, não devemos esquecer que, apesar das crises, a vida continua, e para mantê-la viva precisamos continuar consumindo ... os produtos fabricados por essa panelinha entre grandes empresários brasileiros e o governo. Quem tentar outra solução será penalizado com impostos de importação exorbitantes, ou terá a mercadoria confiscada de acordo com a lei. É como se fossemos reféns da indústria brasileira.
Adriana
ResponderExcluirPois é, Klauber, imagina como fica a minha geração (43 anos)... Fomos educados com uma formação mentirosa, conceitos mentirosos e orientações mentirosas. Agora, sou empresária (publicidade/TV), endividada até o fundo da alma e, se não fossem o Prof. Olavo e vocês do MSM, ainda estaria acreditando no sonho empreendedor!
Abs.