segunda-feira, 4 de junho de 2012

Não eram juros baixos o que vocês, “neoliberais”, queriam?


Juros baixos seriam bons, se viessem da poupança para o investimento, mas não é isto o que está acontecendo...
Por Klauber Cristofen Pires

Algumas pessoas (e alguns petistas* sonsos) têm me perguntado sobre a questão dos juros, isto é, questionam-me pelo fato de os juros altos sempre terem sido um alvo dos comentários dos que se opõem às políticas do governo na área econômica, e sentem-se ainda mais desorientadas porque agora que estão baixos, os mesmos comentaristas - eu incluso – seguimos criticando a equipe econômica.
A confusão exsurge agora porque historicamente as taxas no Brasil foram mantidas muito mais altas do teriam sido estipuladas em um regime de livre mercado, como forma de atender à política macroeconômica dos diferentes governos. Isto, por sua vez, se deu porque os governos desde há muito vinham utilizando as taxas de juros como ferramenta de controle da inflação, por meio da contenção do consumo por parte da população, estimulada que foi a comprar mais por conta das sucessivas expansões monetárias, já que a produção no Brasil sempre foi severamente deprimida por conta da tributação excessiva e da burocracia infernal.
Como se vê, trata-se de um típico caso da torneira avariada a jorrar água pela casa toda, onde os seus moradores preferem ir cobrindo as passagens das portas com toalhas para conter o alagamento, ao invés de fechar o registro geral. Em palavras mais diretas, trata-se de um típico caso de intervenção estatal que, longe de surtir os efeitos esperados, gera novos e piores problemas, criando assim um redemoinho cuja solução de continuidade só se encontra no colapso total da sociedade.
Que se esclareça: não há nenhuma posição da Escola Liberal Austríaca quanto ao governo manter os juros neste ou naquele patamar, alto ou baixo. Pode parecer hilário valer-se aqui de um conhecido bordão popular, mas a verdade é justamente esta: “antes o contrário!”.
O que defendemos é que os juros submetam-se às exigências do mercado, para que cumpram o importantíssimo papel de orientar as escolhas dos consumidores e dos produtores.
Aqui vai uma estorinha bem simples e didática, que pode ensinar às pessoas como funciona o mecanismo dos juros em uma sociedade de livre mercado: João vem ao banco pedir dinheiro emprestado para plantar arroz, e sai de lá onerado por uma taxa de juros – vamos dizer a título de lúdico exemplo, de 2% a.a. (ao ano). Em seguida, vem Pedro, que diz também querer plantar arroz. Então o banco, que já andou pesquisando o mercado e verificou que já existe suficiente arroz no mercado, responde-lhe: Prezado cliente, sugerimos que você plante feijão, ao invés de arroz; se você for plantar feijão, vamos oferecer aqueles 2% que João contratou, mas se ainda assim você quiser plantar arroz, então o risco será maior, de modo que precisaremos cobrar 4%, ao invés de 2%. Passado mais algum tempo, vem Fábio, e somente por constatar que os juros para o arroz estão já demasiado altos, prefere por si mesmo plantar milho.
Como vocês, caríssimos leitores, podem constatar, em uma sociedade de livre mercado os empréstimos bancários servem essencialmente para financiar a produção, e os juros, para ajudar os produtores a escolherem melhor onde investir a produção. O resultado final é um contínuo aprimoramento de alocação de recursos, que tenderá a levar a sociedade para um estado de progressivo enriquecimento.
Por outro lado, em uma sociedade de livre mercado, isto é, onde vige o padrão-ouro e não o fictício papel-moeda, o dinheiro captado pelos bancos provêm das pessoas físicas que vão ser obrigadas a conter o consumo, porque o dinheiro que tinham para isto foi dirigido para a produção. Desta forma, os recursos materiais permanecem à disposição dos produtores, e por causa disso, mantém-se baixos os seus preços. Além disso, sem uma demanda adicional para os bens disponíveis, não há um movimento de ascensão inflacionária e portanto, as taxas de juros também não sofrem uma pressão de alta.
Entretanto, quando o governo intervém na economia, tudo se desarranja. Em primeiro lugar, ao ter revogado o padrão-ouro e inventado que aqueles pedaços de papel-pintado passariam a ser chamados de dinheiro, o governo capacitou-se a arrancar dos cidadãos mais recursos do que pelos meros métodos tradicionais de tributação, graças à sua prerrogativa de simplesmente imprimir mais dinheiro. A isto é que se dá o nome de expansão monetária. Para alguém imaginar de uma forma bem simples o que isto significa, imagine alguém colocando mais água no feijão, a fim de receber mais convivas que chegaram inesperadamente ao seu pagode...
Além da expansão monetária criada pelo governo, a criação do papel-moeda deu ensejo a outro nefasto fenômeno, qual seja, o sistema das reservas fracionadas, uma prática empregada pelos bancos de emprestar a segundas, terceiras e até a enésimas pessoas o mesmo dinheiro que havia emprestado ao primeiro tomador. Qualquer pessoa que venda um mesmo lote de terra ou qualquer bem a mais de um comprador incorre no crime de estelionato, mas o sistema de reservas fracionadas é largamente usado hoje no mundo todo de forma legal.
Para (tentar) evitar que os empréstimos bancários de reserva fracionada desaguem no infinito, os governos estipulam os chamados “depósitos compulsórios”, de modo que cada banco é obrigado a manter depositado no Banco Central uma determinada quantia, em percentagem, do total das captações dos clientes.
Sob estes dois mecanismos, o mercado ficou simplesmente acéfalo, porque nem os consumidores têm uma ideia clara do seu poder de consumo, nem os produtores recebem as informações necessárias para orientar os investimentos.
A partir destas duas condições, sobressaem-se comumente dois cenários:
O primeiro, semelhante ao Brasil, um país pobre em investimentos, com alta tributação e de legislação prolífica, onde se praticam tradicionalmente juros (artificialmente) altos para conter a demanda provocada por falta de bens e excesso de emissão de moeda, que tem por resultado conviver com altas taxas de inflação, como já vimos nos parágrafos acima, e;
O segundo, como é o caso das grandes nações industrializadas, como é o caso dos Estados Unidos, onde a política prevalecente tem sido a da manutenção de juros (artificialmente baixos), e que tem tido por resultado a promoção de uma distorção na alocação dos recursos, por orientar os investimentos em projetos de longo prazo de maturação e de eficiência duvidosa. O estouro da bolsa Nasdaq e depois, do mercado imobiliário, são exemplos do seu colapso.
No primeiro caso, temos uma crise relacionada à carência de bens e serviços prestados à população; no segundo, temos uma superabundância de alguns bens e serviços, pari passu à falta de outros que sustentem, no conjunto, a economia de modo permanente.
Curiosamente, sem ter tido uma experiência de completa industrialização – muito pelo contrário, o setor vem definhando - o Brasil inaugura na atualidade um terceiro fenômeno: a crise fomentada pelos juros (artificialmente) baixos e pela expansão indiscriminada do crédito, tudo para incentivar a população ao consumo.
Agora sim, torna-se mais claro responder: sim, sempre foi desejável que o Brasil praticasse juros mais baixos dos que os que vinham sendo praticados antanho. Todavia, necessário se faz que sejam juros estipulados pelo mercado, e que os empréstimos sejam oriundos da poupança.
O que o governo atualmente está fazendo é baixar os juros de forma politicamente motivada e totalmente arbitrária, bem como ativando desmesuradamente os mecanismos de facilitação do crédito para que os cidadãos se endividem no afã de adquirir bens de consumo. Em outras palavras, o governo está estimulando o povo a torrar as suas já minguadas reservas no presente, o que não pode resultar em outra coisa que não sacrificar inexoravelmente o futuro.
Prezados leitores, decididamente, eu não faço parte da turma do “quanto pior, melhor”. Não sou urubu magro a torcer pela morte do cavalo gordo! Até porque, nestas horas, os que mais sofrem somos nós mesmos! Apenas demonstro o quanto minhas previsões – e com mais justiça, de todos quantos têm avaliado os fatos sob a luz da teoria austríaca – estavam certas, mesmo quando uma aparência de progresso do Brasil se mostrava aos tolos, no vácuo de uma crescente exportação de comoddities, especialmente para a China, simultaneamente a um processo de declínio da nossa participação no mercado mundial de produtos industrializados.
No jornal O Liberal de domingo, do dia 03/06/2012, a manchete foi muito apropriada e muitas e muitas vezes anunciada por mim: “Inflação dispara em Belém”. Em franca desindustrialização, nossa barca da salvação, o agronegócio, já faz água perante os rombos no casco causados pelo impacto das políticas messetistas, ambientalistas, quilombolas e trabalhistas. A produção de alimentos já encolheu 7% e a do álcool, 40%! O mercado imobiliário já está com o pavio bem curto e pior, aceso. Falta bem pouco para um desastre colossal. 
* petistas são todos os socialistas, comunistas, progressistas, onguistas, e claro, os petistas propriamente ditos.

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