Desde
as duas últimas semanas, tenho cumprido um calvário que já não
deveria mais acontecer no século XXI: reclamar junto à minha
operadora de internet que realmente me forneça a velocidade
contratada. São apenas 5 Mb! É pedir muito?
Por Klauber Cristofen Pires
São incontáveis ligações,
nas quais você tem de estar previamente consciente e motivado de que
terá de aguentar pelo menos uma meia hora segurando a raiva por
estar lidando com um robô que o obrigará a percorrer um périplo de
menus que ao final das contas, não terminam em lugar nenhum,
entremeados por operações prévias do tipo “faça-isto-faça-aquilo”
como condição para a vã esperança de dali por diante ser atendido
por algum funcionário de carne e osso.
Se você conseguir,
finalmente, passar por este circuito de lama com estacas, arame
farpado e rajadas rasantes em meio a cobras e lagartos e galgar o
selecionado nível de acesso a um dos atendentes, sem que neste
momento caia a ligação ou o próprio alegue estar impossibilitado
de atender porque o “sistema” esteja fora do ar, uma nova
bateria de exames prévios vai ser solicitada, e mesmo que você
tenha a certeza de que sua internet está um lixo por não conseguir
assistir um vídeo no YouTube ou executar um aplicativo on-line,
acabará ouvindo dos atendentes que a linha está boa, estável, e
que o problema deve ser com o seu provedor de internet (O que tem a
ver????), ou com o seu aparelho de modem, ou com a crise política do
Paraguai, enfim, qualquer coisa, menos com a por...rcaria da
operadora que deveria estar fornecendo os 5MB contratados, ao invés de normalmente um décimo(!) ou às vezes, um vigésimo(!!), como tenho medido diariamente!
No atual momento, eu
consegui agendar, pela segunda vez, um técnico para resolver o
problema. Na primeira vez, o técnico simplesmente não veio, e na
segunda, foi-me dito que o próprio irá percorrer primeiramente a
“central” para somente então, caso necessário (alguém ainda
duvida que será?), comparecer à minha residência para verificar o
problema “in loco”.
Como estou firmemente
decidido a ir adiante, para desespero das minhas cãs, já antevejo
percorrer mais uma vez toda esta “Grande Marcha Forçada da China”
para defender o meu direito a receber o produto pelo qual estou
pagando.
Não nego que as
privatizações no sistema telefônico melhoraram a vida dos
brasileiros. Que fique bem relembrado aos saudosistas do sistema
Telebras/Companhias estaduais, que para se ter em casa um mero
telefone eletromecânico era necessário desembolsar o equivalente a
US$ 1,500.00 (mil e quinhentos dólares americanos) na Região
Metropolitana de Belém. Em algumas áreas de São Paulo e Rio de
Janeiro, uma linha equivalente não saía por menos de US$ 10.000,00
(dez mil dólares americanos)!
Ainda assim, as
privatizações acabaram seguindo o modelo social-democrata de
concorrência controlada, como se isso de fato existisse na vida
real, de modo que acabamos na troca de um monopólio estatal por um
oligopólio privado ou quase privado.
Segundo os cânones da
macroeconomia keynesiana, a concorrência ideal pode ser estabelecida
dentro de um número limitado de concorrentes mediante uma
regulamentação que padronize os serviços, provendo desta forma ao
consumidor o que se entende por informação perfeita. Antes que eu
continue...uma besteira sem fim!
Uma verdadeira concorrência
prescinde até mesmo de concorrentes! Basta, unicamente, que o acesso
ao mercado pelos candidatos a concorrentes esteja garantido a
qualquer tempo, e que as mais diversas formas de atendimento ao
público - inclusive as que ainda não foram inventadas – estejam
liberadas para serem postas em execução. O resto é com os
consumidores. Ponto final!
De boas intenções o
inferno está cheio, diz mui sabiamente o adágio popular! Agora me
respondam: quem de vocês vai a uma padaria para comprar 10 pães e
recebe qualquer número variável entre 1 e 4?
Notem como sempre são os
serviços regulamentados pelo estado os que oferecem essas condições
absolutamente estelionatárias: os bancos, que emprestam o mesmo
dinheiro para João, Maria, Pedro, Euzébio...; as companhias de
aviação, que praticam overbooking
sobre passagens compradas; a
gasolina, que pode conter qualquer substância em qualquer
percentagem que não seja gasolina; as companhias de luz e de água e
esgoto, para as quais você paga taxas mesmo que não haja uma
lâmpada num poste a quilômetros de sua casa ou que o fornecimento
de água e a coleta de esgoto prossigam sendo promessas para o século
vindouro; e claro, mas sem esgotar a lista, as operadoras de
internet, que alegam que você irá receber... “ATÉ” a
velocidade contratada, mas que quase nunca chega nem perto da metade!
Uma empresa que esteja
exercendo suas atividades em um autêntico regime de liberdade de
mercado não há de descuidar do atendimento mais zeloso aos seus
clientes, mesmo que atue sozinha no mercado e que eles não se
declarem formalmente insatisfeitos, simplesmente porque a chegada de
um novo concorrente poderá colocar a sua posição em sério risco.
Uma empresa que me obriga a
tamanho desgaste não tem, como nunca teve, nenhuma intenção de bem
servir, senão a de vencer-me pelo cansaço e pela resignação!
Imaginemos quantas milhares de pessoas hoje recebem tais sofríveis
serviços, resignadas, sem reclamar, já completamente descrentes de
que possam fazer valer os seus direitos...
Eis aí mais um motivo
concreto pelo qual sempre serei um defensor da livre iniciativa e da
igualdade de direitos jurídicos!
Mais justo seria se pagássemos ATÉ o valor x pelos serviço prestados ATÉ determinada qualidade/quantidade y.
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