*Está tudo uma maravilha, segundo o governo. Corte de mais de 40 bilhões. Significa que investimento em infraestrutura só em Cuba.*
Por Marco Antonio dos Santos - Brasília, 21 Fev 2014
Em 2008, o Brasil se apresentou ao mundo como a 6ª economia, país emergente de ponta, pretendente a membro da OPEP e candidato à realizar a Copa do Mundo de 2014.
De verdade, só ficou com a última opção.
Está arcando, com isso, com uns poucos bônus e muitos ônus. São claros, neste momento da vida nacional, os sinais de que a população brasileira não ficou satisfeita com a opção na medida em que a economia vai mal e a política, a saúde e a segurança públicas, bem como a educação estão muito aquém do apregoado "padrão FIFA".
A sociedade já sabe que pode ganhar a Copa, mas já perdeu e vai continuar pagando no tão apregoado social.
As ruas se encheram de manifestantes pacíficos em 2013 e, desde o final desse ano até o presente, estão coalhadas de atos de violência com ônibus incendiados, invasões, quebra - quebras, "black blocs", pessoas tomando a justiça nas próprias mãos, confrontos de turbas versus policiais e desordem. Muita desordem, inclusive com a participação de segmentos desordeiros dentro das forças da lei, como na capital federal.
Não há meias palavras para definir o que acontece, atualmente, ainda que de forma episódica, mas com frequência preocupante, em todos os quadrantes
deste imenso país.
É o prenúncio do caos. Disso não se tem muitas dúvidas. Basta ler jornais, revistas e ver os noticiários televisivos. Mas o Brasil não sabe o que não sabe.
Ficou no imaginário popular diante do discurso das autoridades que tudo estaria sob algum grau de controle aceitável e que a grande ameaça aos megaeventos Copa da FIFA e Olimpíada seria o terrorismo. O estereótipo criado foi o de homens - bombas explodindo estádios, ditas arenas, ou nas proximidades destes (as).
Acontece que não é bem assim. Ledo engano. Ao atrair a atenção para suas "riquezas", o país também está revelando suas vulnerabilidades.
É possível prever, com boa dose de certeza, que nos próximos meses, a partir de junho, o Brasil possa ver os índices de insegurança pública, presentemente crescentes, tornarem - se ainda piores.
Uma plêiade de ameaças não tornadas transparentes pelas autoridades encarregadas dos megaeventos e outras detentoras de cargos públicos podem se tornar realidade, diante da maior movimentação de turistas, com seus cobiçados dólares, passaportes, vícios, interesse pelo turismo sexual, pelas drogas e por aí vai.
Além disso, a exposição mundial do Brasil na mídia ampliará o poder de repercussão das manifestações que certamente vão ocorrer.
A intensidade das ocorrências e dos atos de violência é função das condições locais de cada uma das doze sedes selecionadas para os jogos. Em algumas, o aparato de proteção é crítico.
As autoridades agem dentro do padrão: discursos e a repressão policial possível e aceitável em regimes democráticos. Intentam recrudescer os sistemas punitivos legais. Uma iniciativa perigosa e que, ao longo da história da humanidade, nunca se mostrou suficiente.
Terror em manifestações públicas remonta ao período entre novembro de 1793 e julho de 1794, e que terminou com a decapitação de Robespierre e de Saint Just. Não dá para comparar. Os mais recentes incidentes violentos acontecidos, capitaneados por grupos usando táticas "black bloc" , fazem crer se tratar de ensaios (treinamentos) com objetivos de testar os dispositivos policiais, a vontade política dos governos, a aceitação da população e o posicionamento da mídia, especialmente da mídia televisiva, comprometida ou não com os megaeventos.
A questão é complexa. Muitos são os atores envolvidos e as variáveis que impactam a conjuntura. Não é difícil perceber que os meios de contensão policiais e de segurança pública tendem a esgotar suas capacidades de ação em curto espaço de tempo, diante de manifestações e incidentes continuados. Algumas polícias dão sinais de descontentamento e de que podem "parar" na Copa.
As Forças Armadas licitaram equipamentos individuais anti-tumulto em quantidades superiores à 30% de seus efetivos. Sinal interessante.
Sob a segurança privada vai recair um peso para o qual ela não é originalmente preparada, em especial aquelas que se voltaram para o tal "padrão FIFA". Mas, terão por incumbência proteger as pessoas, o patrimônio e a imagem das empresas sob suas responsabilidades contratuais.
E a sociedade? Bem, essa é outra história.
*Especialista em Segurança e Inteligência
Diretor da Prospect Intelligende.
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