segunda-feira, 26 de maio de 2014

Ódio chapa-branca?



Li hoje na Folha o artigo de Gregorio Duvivier, Ódio Chapa-Branca, no qual o autor convida os brasileiros a fazerem um mea culpa de si mesmos pelas mazelas do nosso país que costumam atribuir aos outros. 

Paradoxalmente, ele mesmo não faz em seu texto nenhum ato de penitência pessoal, senão que repete aquilo que alega denunciar. Pode? 

Por Klauber Cristofen Pires

Porém, não lhe basta ser hipócrita e contraditório:   Sequestra para si a posição de bom brasileiro e impõe as condições de resgate a quem quiser se redimir: parar de comer carne, de andar de carro, reciclar o lixo, não receber como pessoa jurídica e lembrar-se de quem votou como vereador....

Deixar de comer carne e de usar meu carro? Só vou fazer isto quando o Brasil enfim se solidificar como uma nação socialista... Entenderam o que eu quis dizer? ;)

Reciclar o lixo? Quando eu for pago pra isto, eu faço. Até lá, contentem-se com do jeito que está porque eu pago caro para o retirarem da porta da minha casa, e não estou a fim de trabalhar de graça.

Além disso, me socorram: Por quê alguém que abre um negócio por meio de pessoa jurídica, atendendo às leis do país, deve receber de outra forma?

Por último, eu realmente não me lembro de quem votei em vereador, e tampouco para deputado estadual ou federal, porque o voto no Brasil, sendo proporcional, não possui representatividade nenhuma, o que se agrava com o fato de que as receitas tributárias estão concentradas em mais de 80% em poder da União. Então, o vereador, depois de eleito, me dá uma banana e vai procurar negociar com quem ele depende de verbas para permanecer no poder. Simples assim.

Talvez Duvivier tenha sido econômico: nosso país estaria melhor ainda sem os maus brasileiros que não aprovam o auxílio-reclusão, o kit-gay, a ideologia de gênero, o mensalão, as negociatas com meta-capitalistas, o MST, as FARC, o desarmamento, a liberação do aborto e das drogas, a maioridade penal só aos 18 anos e outras políticas esquerdistas que já estejam sendo implementadas ou que venham a ser. 

Confesso que me incluo entre tais pessoas, mas tenho certa dificuldade em admitir minha parcela de culpa sobre coisas em voga de que sou contra. Ora, se eu condeno aqueles que defendem as políticas keynesianistas de endividamento público, porque tenho de me ajoelhar no milho com eles? Se eu condeno a maioridade penal aos 18 anos, devo vestir um suplício porque um assassino de 17 anos e 364 dias de vida matou a sua namorada de apenas 14 anos? 

Em sua sanha acusatória - ei, esperem aí, o texto não se propunha a falar de auto-crítica? - o autor menciona um autoproclamado filósofo residente nos Estados Unidos, sem citar seu nome, que justamente por todas estas políticas atualmente em vigor, declarou: "O povo brasileiro é o povo mais covarde, imbecil e subserviente do universo". Eis o líder dos maus brasileiros que não fazem auto-crítica! 

O termo que usou, "auto-proclamado", é porque o tal sujeito de quem fala - adivinhem que seja -  tem debatido com os maiores colegas do mundo e proferido palestras em importantes e renomadas instituições privadas e governamentais que nenhum bacharel em filosofia jamais ousou sonhar em participar. 

Ora, ora, Sr. Olavo de Carvalho: confesse que andou assando uma picanha...! Quem diria, hein?

Finalmente, não entendi porque o colunista decidiu intitular seu artigo de "Ódio chapa-branca". O termo "chapa-branca" é utilizado para se referir ao que pertence ao estado, ou ao que vem do estado. Estaria ele querendo dizer que nós pertencemos ao estado? Pelo que entendi, chapa-branquista é ele próprio. 

***

Ódio chapa-branca


A última coluna que escrevi falava sobre a falta de opções do eleitor carioca: todos os principais candidatos ao governo do Estado estão sendo julgados por crimes de corrupção. Muita gente me escreveu dizendo que o "Brasil não tem jeito" e que também está louco para sair daqui. Queria escrever pra essas pessoas e dizer que eu não pretendo sair daqui tão cedo.
A democracia, entre muitos presentes, nos deu este: a gente pode falar mal do Brasil à vontade. Já faz quase 30 anos que a gente pode. Mas parece que a gente só faz isso da vida.
A melhor maneira de não incomodar ninguém é falar mal de todo o mundo. Se eu disser que todos os políticos são corruptos, todo o mundo adora -inclusive, e principalmente, os corruptos, que estão sendo colocados no mesmo saco dos honestos. O discurso do "ninguém presta" parece o discurso mais corajoso do mundo, mas é o mais chapa-branca.
Ninguém se cansa de repetir: "o Brasil não tem jeito", "a corrupção no Brasil é endêmica", "brasileiro não aprende", "o problema do Brasil é o brasileiro". Tudo isso é dito, claro, por brasileiros. Repare que não dizemos: nosso problema somos nós mesmos. Não. O problema do Brasil são os outros, diria Sartre, se fizesse vlogs.
Nunca vi alguém dizer: o problema do Brasil sou eu, que como carne, ando de carro, não reciclo o meu lixo, recebo dinheiro como pessoa jurídica e não lembro em quem votei pra vereador. A culpa é minha, pessoal. Em minha defesa, estou tentando mudar.
Outro dia um autoproclamado filósofo brasileiro que mora nos EUA vociferou: "O povo brasileiro é o povo mais covarde, imbecil e subserviente do universo". E muita gente (brasileira) aplaudiu, provando que talvez ele estivesse certo -mas única e exclusivamente em relação aos seus leitores. Não sei qual é a solução para os nossos problemas, mas se mudar pra Veneza ou pra Virginia certamente não é.
Quantas vezes você já não ouviu a frase: "É por isso que o Brasil não vai pra frente"? Independentemente da razão do nosso atraso, essa frase é uma mentira. Mesmo o crítico mais contumaz do governo (governo este do qual não sou eleitor nem fã) há de concordar que o Brasil vai pra frente, sim. Devagar, aos trancos e barrancos, algumas vezes à revelia do governo -mas vai pra frente. Em contrapartida, nossos intelectuais estão ficando pra trás. 

3 comentários:

  1. Eu li o artigo do Duvidier e li o seu. Os artigos dos exponentes da direita sofrem de objetividade. Duvidier afirma algo óbvio:a opinião da maioria do brasileiro, um mito político que foi bem sucedido em sua implantação. Quem implantou foi sem dúvida os mesmos grupos que se perpetram no poder. Duvidier viaja na maionese ao colocar como quem come carne, não recicla lixo e anda de carro como um causador dos "problemas" do Brasil, mas o sr também viaja na maionese se acha que "ser esquerda" signifique reciclar lixo, ser vegetariano e andar de bicicleta.

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  2. nao entendi se é contra programas sociais em favor de ditas minorias ou se é moralmente conta elas. o que complica a direita é o moralismo e a esquerda; a hipocrisia. posso colocar você e o gregorio aqui?

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  3. nao entendi se é contra programas sociais em favor de ditas minorias ou se é moralmente conta elas. o que complica a direita é o moralismo e a esquerda; a hipocrisia. posso colocar você e o gregorio aqui?

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