terça-feira, 22 de setembro de 2015

Os pobres não têm qualquer chance fora do capitalismo

“Perdoai-os, Pai, pois eles não sabem o que fazem.” (Lc 23, 34)
Os pobres não têm qualquer chance fora do capitalismo
Para alegria dos paleo-comunistas, o Papa Francisco está em Cuba, onde manteve encontros “fraternais” e “amigáveis” – para usar as palavras do porta-voz de Sua Santidade – com os líderes da revolução cubana, principalmente Fidel Castro e seu irmão Raul.
Francisco tem demonstrado, a cada dia, a que veio.  Já não restam quaisquer dúvidas acerca da ideologia anticapitalista que o encanta e move.  Quem não acredita, deve ler a sua mais recente encíclica, “Laudato Si”, na qual chega ao extremo de condenar até mesmo o ar-condicionado.
“Um exemplo simples [de hábitos nocivos do consumo] é o uso crescente  e a força do ar condicionado”, escreve ele. “Os mercados, que se beneficiam imediatamente das vendas, estimulam a demanda cada vez maior. Um alienígena, ao olhar para o nosso mundo, ficaria espantado com tal comportamento, que às vezes parece autodestrutivo.”
Com todo respeito que Sua Santidade merece, ele deveria vir ao Rio dizer isso às famílias faveladas, que moram sob lajes escaldantes e não medem sacrifícios para conseguir adquirir um aparelho de ar-condicionado que possa aliviar-lhes o calor intenso e dar-lhes agradáveis noites de sono.
Por outro lado, pensando bem, para quem defende a vida sem ar-condicionado, nada mais apropriado do que visitar os cubanos, que há mais de meio século sobrevivem sem qualquer conforto material e, na maioria das vezes, nem sequer sabem o que é um aparelho de ar-condicionado.  Ventiladores antigos, funcionando precariamente, são o máximo de conforto contra o calor escaldante de Cuba que alguns poucos conseguem obter.
Ao contrário, porém, do que imagina Sua Santidade, o ar-condicionado, longe de ser o vilão da história, é uma poderosa ferramenta para salvar vidas. Dois anos atrás, o “National Bureau of Economic Research”publicou um estudo concluindo que o ar-condicionado reduziu as mortes relacionadas ao calor nos Estados Unidos em 80 por cento, e poderia salvar ainda mais vidas em países quentes, muitas vezes mais pobres.  “O ar condicionado é uma tecnologia de poupança de vida promissora, especialmente se pensarmos nos efeitos potenciais das alterações climáticas”, afirmam os autores.
Como se vê, a ignorância do Papa em assuntos econômicos é enorme.  Até aí, nada demais.  O problema é que Francisco exerce enorme influência política mundo afora.  Como lembrou Stephanie Slade, em artigo recente para a Reason, “a falta de compreensão de conceitos econômicos básicos tem levado um dos seres humanos mais influentes e amados no planeta a condenar a livre iniciativa, a opinar que os direitos de propriedade privada não devem ser tratados como “invioláveis”, a propor como ideais “cooperativas de pequenos produtores,” em lugar de “economias de escala”, a acusar o Ocidente de manter um “nível escandaloso de consumo”, além de afirmar que precisamos “pensar na contenção do crescimento, definindo alguns limites razoáveis.”
“Dada a sua grande influência”, prossegue Stephanie, “ que se estende muito além de católicos praticantes, esse tipo de retórica é profundamente preocupante. É impossível saber o quanto de impacto suas palavras estão tendo em políticas concretas, e é impossível negar que, quando ele pede a regulação e a restrição do livre mercado e do crescimento econômico para aliviar a pobreza…, o mundo o está escutando.”
Ademais, se o papa quer mesmo ajudar os pobres e mais necessitados, ele deveria abraçar o capitalismo de livre mercado, não vilipendiá-lo.
De Havana, Sua Santidade voará para os Estados Unidos.  Certamente, testemunhará um das maiores contrastes humanos da face da terra.  Deixará para trás um ambiente miserável, onde não existe ar condicionado, embora as desigualdades de renda e riqueza sejam baixas, e pousará numa economia próspera, onde praticamente todos têm ar condicionado em suas residências, embora os níveis de desigualdade sejam grandes.  A grande verdade é que os pobres americanos vivem muito melhor que os remediados cubanos – excetuando-se, é claro, os irmãos Castro e meia dúzia de privilegiados, que vivem de forma nababesca.
O capitalismo tem dessas coisas.  Nele, as pessoas são movidas pelo lucro e pelo auto-interesse, mas logo percebem que só conseguirão prosperar caso seu esforço e seu trabalho atendam às necessidades alheias.  Não por acaso, a grande maioria dos homens que mais benefícios trouxeram à humanidade não eram movidos por ideais altruístas, mas pelo desejo de prosperidade individual.
De acordo com o site “Science Heroes”, os dois indivíduos que até hoje mais contribuíram para salvar vidas humanas foram Carl Bosch e Fritz Haber.  Trabalhando juntos para as Indústrias BASF, um dos ícones do capitalismo ocidental, os dois cientistas foram responsáveis pela criação de fertilizantes à base de amônia, a partir da sintetização do nitrogênio e do hidrogênio presentes na atmosfera.
Vaclav Smil, em seu livro, “Enriquecendo a Terra”, diz que a importância para o mundo moderno do processo criado por Haber e Bosch “é maior do que… o avião, a energia nuclear, o voo espacial ou a televisão. A expansão da população mundial, de 1,6 bilhões de pessoas em 1900, para 6 bilhões em 2000 simplesmente não teria sido possível sem a descoberta de Bosch e Haber.
A Associação Internacional de indústria de fertilizantes relata que mais de 100 milhões toneladas de nitrogênio produzido pelo processo Haber-Bosch são aplicadas anualmente nas culturas globais, contribuindo para mais da metade das colheitas de cereais.  Estima-se que mais de 2 bilhões de pessoas, cerca de 40% da população mundial, são alimentados por cereais e outras culturas produzidas com a utilização de adubos sintetizados a partir do processo Haber-Bosch.  Simplesmente, sem esta descoberta, o mundo não poderia sustentar as 6 bilhões de pessoas vivas de hoje.

SOBRE O AUTOR

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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