A utopia política é o ópio dos intelectuais.
por Bruno Garschagen
(seguimento)
Por mais que se apresentem apenas como homens de ideias, e assim expõem um insolúvel oximoro, uma parcela numerosa de intelectuais políticos e econômicos constroem mundos utópicos na expectativa de vê-los instituídos e repete a utopia de Robespierre, mesmo que desconheçam, ignorem ou rejeitem a herança parente.
O sofrimento, os males, as violências que integram a sua política de perfeição não são consequências não-intencionais de ideias virtuosas, mas a estrutura interna de um método de ação embalado por uma teoria que muitas vezes é apresentada como uma simpática solução para problemas sérios e reais. Solucionar tais problemas não é a finalidade para esses intelectuais, de esquerda ou não, que buscam a implementação da utopia para substituir os antigos pelos novos problemas, nunca admitidos como tais.
Há, de fato, uma operação para deslocar completamente o bom senso e o senso comum, para soterrar a tradição em nome de uma novidade progressista que conduzirá a humanidade a um excêntrico paraíso terreno. É flagrante a definição de um infame sistema de castas baseado na superioridade moral autoatribuída. O novo sistema utópico progressista é criado para operar sob o comando de uma elite superior composta por eles.
A tão propalada ideia de igualdade é completamente fraudulenta porque estabelece, desde já, dois níveis distintos de seres humanos, um superior e outro inferior. Este deve reconhecer sua inferioridade e transferir, como queria Rousseau, sua vontade individual para a vontade coletiva, um estratagema para diluir o poder e os direitos do indivíduo de forma a redimensionar hiperbolicamente o poder centralizado da elite integrada por aqueles intelectuais.
Os filhos de Rosseau também são netos de Robespierre; e a utopia política, o ópio dos intelectuais.
(Prossegue na edição de amanhã)
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