quinta-feira, 19 de março de 2015

O que pensa a burguesia

curso superior
Desde as manifestações do último dia 15, a reação do governo se concentra no esforço de desmerecer o movimento pejorando o perfil de seus participantes, taxando-os de “elite golpista”. Elite composta por banqueiros, herdeiros de grandes fortunas, megaempresários da indústria, da construção civil e do agronegócio? Não. A “elite golpista” que ocupou as principais avenidas das principais cidades do Brasil é composta por assalariados, comerciantes, autônomos, profissionais liberais, micro e pequenos empresários, idosos e estudantes com crânios preenchidos por cérebros. O que mais me chamou a atenção foi a burguesia socialista desqualificando as manifestações por, segundo pesquisa, 74% dos participantes terem curso superior.
Já que fazem mesmo questão de colocar a classe média sob o foco de seus ataques, vejamos o que ela pensa.
O cientista político Alberto Carlos Almeida, em seu livro A Cabeça do Brasileiro, apresenta os resultados de uma vasta pesquisa sobre como pensam as diferentes classes sociais brasileiras − “A pesquisa que compõe A Cabeça do Brasileiro é monumental. Nunca foi feito algo parecido”, diz Roberto da Matta, sobre o livro. Considerando que o padrão socioeconômico é diretamente proporcional ao nível de escolaridade, em todas as regiões, vamos aos dados sobre o posicionamento de pessoas com curso superior em relação a diversos assuntos: 67% são contra o “jeitinho”; 97% são contra o uso de cargos públicos em benefício próprio; 83% são contra a polícia matar bandidos; 86% são contra tortura e 83% são contra linchamentos.
Chama a atenção também o apoio dessas pessoas sobre a ideia do governo controlar alguns setores: 57% na educação; 63% na saúde; 60% na previdência social; 89% na justiça; 30% nos transportes; 51% nas estradas e ferrovias; 65% no fornecimento de água; 69% no fornecimento de esgoto; 57% no recolhimento do lixo e 53% da energia elétrica.
Sendo assim, baseado em que taxam a classe média como a grande vilã do país? Baseado em que acusam a classe média de querer “privatizar o Brasil”? Respondo: Baseado em nada. Ocorre apenas o velhíssimo esforço socialista de eliminar a principal força crítica de toda sociedade, a classe média.
O socialismo é uma perversão tão doentia que cobra que a classe média volte-se contra si mesma, o que é facilmente percebido no perfil de sua própria militância: um bando de burguesinhos que, apesar de viverem e gozarem no colo do capitalismo, o odeiam.
Esclareço que o livro de Alberto Carlos Almeida não abrange apenas as opiniões da classe média, dos mais escolarizados. O que reproduzi foi apenas um brevíssimo resumo. Sua pesquisa envolve todas as classes sociais, todos os níveis de escolaridade, chegando à conclusão de que, SIM, o Brasil é formado por uma sociedade racista, preconceituosa, patrimonialista, que apoia a censura, que acredita no Estado e dele espera a salvação. Porém, fica claro que os mais escolarizados, comparativamente, têm visões mais maduras, um nível de senso coletivo superior. Se dependesse só deles, o Brasil seria um país melhor. Ou seja: O movimento do último dia 15 deveria ser levado muito a sério.
Os dados que apontam a crença do brasileiro no Estado desanimam libertários como eu, mas o que vem ao caso, agora, é que o esforço em desqualificar a classe média é um dos maiores crimes institucionais do PT.
Por que a parcela de pobres nas manifestações foi pequena? Porque os pobres, ao contrário da propagando petista, continuam tão pobres que até o ato de ir à rua protestar se torna um luxo. Quanto aos ricos, eles não se importam. Aqueles que se aliaram ao PT se divertem e os outros apenas observam. Se a situação apertar, ambos simplesmente vão embora. Entre pobres e ricos estamos nós, classe média, que, com muito esforço, conseguimos conquistar algum conforto entre os absurdos impostos pelo governo todos os dias, desde sempre; e por isso prezamos tanto valores como responsabilidade fiscal, ética política e liberdades individuais.
Diante de tudo isso…
O que esperar de um governo que propaga a ideia de que a opinião de pessoas com curso superior não devem ser considerada?
O que esperar de um governo, de um país miscigenado como o Brasil, que repete sistematicamente que os brancos odeiam os negros?
O que esperar de um governo que tenta nos fazer crer que o povo brasileiro, em vez de protestar, deveria ser grato pelos absurdos que o cerca e que o ameaça?
O que esperar de um governo que insiste em dizer que manifestações organizadas pela CUT, pelo MST e por “movimentos sociais” para defendê-lo representam os mais pobres e que manifestações espontâneas como as de domingo representam apenas uma tentativa de golpe das “elites”?
O que esperar de um governo que faz de tudo para concentrar em si cada vez mais poder e dinheiro e, mesmo assim, nos acusa de ser a “elite”?
O que esperar de uma Presidente da República que já roubou, sequestrou e matou em nome de um projeto de instauração de uma ditadura comunista no Brasil e que hoje descaradamente financia ditaduras em Cuba e na Venezuela com o dinheiro da sociedade brasileira?
Que ninguém se esqueça: Os venezuelanos não imaginaram que seriam a próxima Cuba; os argentinos não imaginaram que seriam a próxima Venezuela.

Sobre o autor

João Cesar de Melo
Arquiteto, artista plástico e escritor. Escreveu o livro “Natureza Capital”.

Matéria extraída do website do Instituto Liberal

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