terça-feira, 17 de março de 2015

Março, dia 15 – o gigante acordou?

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Neste 15 de março, nossa pátria verde e amarela terá tido algumas de suas horas mais memoráveis, mais inesquecíveis; em quase todos os estados, em cidades do interior, em Brasília, e também em cidades estrangeiras como Sidney e Londres, bem mais de um milhão de pessoas foram às ruas externar a sua indignação. Tive a honra de estar lá; e o que vi foi melhor do que o que imaginaria nos meus melhores sonhos. Pessoas com os perfis mais diversos, de todas as idades – eram muitos os idosos, muitas também as crianças – caminharam em fraternidade, cantando o Hino Nacional e o Hino da Bandeira, trajando as cores pátrias com ardor e devoção saudável, mas também com indignação perante aqueles que as agridem e ofendem. A indignação de quem as ama e quer protegê-las.
Por toda parte, com exceção de alguns pouquíssimos mal-intencionados na colossal manifestação paulista, rapidamente contidos, e por uma minoria que pedia uma intervenção militar, os eventos foram pacíficos, familiares, sustentados diretamente nos valores da democracia e sem a presença de bandeiras de partidos, em demonstração de fidelidade aos seus propósitos originais. Deram um recado direto para o governo, principalmente se comparados com os que aconteceram no dia 13, em que, sem nenhuma espontaneidade, com “meia dúzia” de pelegos e pessoas compradas por 35 reais, ocorreram marchas “vermelhas” pelo país. Pois foi hoje – frisamos, nas cores pátrias -, que o gigante se levantou e marchou, personificado pela FAMÍLIA BRASILEIRA, toda ela, as pessoas de bem, cientes de que, somente com a participação delas, somente sem a sua omissão, “o Brasil por seus filhos amados poderoso e feliz há de ser”, como dizem as letras que exaltam o seu pavilhão.
Não há como prosseguir sustentando a estúpida narrativa de que o “povo brasileiro” seriam os grupelhos de 13 de março – não por acaso, cremos, dia marcado pelo número do PT, e também, em 1964, pelo Comício da Central de João Goulart – e o restante seria “a elite golpista, egoísta, racista, homofóbica e machista”, num fenômeno verdadeiramente mágico de inclusão social que fabricou uma horda de ingratos.  Parece-nos claro que os articuladores dessa marcha na sexta-feira – frustrada em quase toda parte – pretenderam sugerir a ideia de que, dois dias depois, se estaria clamando pela interrupção da democracia, pelo “golpe” contra um governo “democrático”. Essa inversão de valores cai por terra junto com a carga negativa de que, ainda que não completamente, a população que foi às ruas se livrou um pouquinho no domingo. “Coxinhas”? Elite? “Ignorantes que não estudam História”? “Hurr durr”… Não, nada disso. Esse, e não os escassos pelegos de sexta, não os “movimentos sociais” como os descompensados do MST, não o “exército de Stédile” que Luís Inácio Lula da Silva ameaçou pôr nas ruas – ESSE é o verdadeiro POVO BRASILEIRO. Aceitem a dura realidade deste dia histórico. O dia em que a marcha dos caras-pintadas em 92, as Diretas Já dos anos 80 e até a Marcha da Família de 64 podem ter ficado para trás em dimensão, mas certamente ficaram sob um aspecto importante: a articulação. Todas as grandes manifestações anteriores foram articuladas por instituições de peso, por partidos, empresas, entidades religiosas ou veículos de comunicação. Também, como as fracassadas do dia 13, por entidades sindicais. O 15 de março de 2015 nasceu de movimentos virtuais, que dialogaram diretamente com a insatisfação geral diante do estelionato eleitoral cometido por Dilma Rousseff. Não foi um grito da “classe média” – e, se o fosse, esta última também faz parte do povo brasileiro, por mais que a queiram alijar e defenestrar. Não foi um grito apenas de liberais e conservadores, tampouco da “direita”.  Diferentes correntes por esses lados do espectro político claramente exibiram cartazes e se expuseram nos carros de som, mas a revolta popular está longe de ser cooptada por uma corrente política específica, ou mesmo de se apresentar apenas em pessoas que tenham uma formação política consolidada. Todos que sentiram o peso da mentira essencial que esse regime representa, todos que entenderam a ameaça que simboliza, independente dos autores que leem ou das ideias que abraçam, estavam lá, irmanados sobretudo pela terra em que houveram de nascer, pela preocupação em proteger este chão, pelo bolso que pesa, pelo valor da HONESTIDADE. A diferença entre o dia 13 e o dia 15 deu o recado; disse onde está, de fato, o vigor do povo brasileiro. Toda essa massa disse NÃO ao projeto de poder sustentado pelos petistas. No dia em que a Venezuela, nossa irmã vizinha, chorou a ampliação dos poderes do tirano Nicolás Maduro, aliado de nossos mandatários no Foro de São Paulo, nós soltamos o grito de liberdade entalado na garganta. Certamente que esse grito se fará ouvir por aqueles que nos cercam.
Que respostas oferece o governo? Parte dos políticos governistas ou radicalmente esquerdistas parecem procurar diluir as bandeiras levantadas – como, mais uma vez, a paradoxal Jandira Feghali, do originalmente maoísta PCdoB, acusando os milhares de brasileiros em protesto de promoverem uma pauta de inspiração “antidemocrática”, e o sofista Marcelo Freixo, que viu na ausência de partidarismo e na exuberante exibição de bandeiras nacionais um sinal de fascismo – e mesmo alguns jornalistas. É como se os protestos tivessem sido algo difuso e vago, “contra a corrupção”. Nada mais inverídico. Uns clamando por renúncia, outros por impeachment, outros ainda apenas por mudanças profundas na forma de governar – crendo, por ingenuidade, que tal gesto possa vir destas mesmas pessoas e de seu esquema ideológico e criminoso -, todos tinham um foco muito claro e direcionado: o governo Dilma Rousseff, o governo federal. Isso não foi uma revolta contra deputados, contra governantes estaduais, genericamente contra os desvios de verba; foi uma revolta específica contra a legenda vermelha que (des)controla os rumos do Brasil há doze anos, representada hoje na figura obtusa e sem brilho de sua candidata reeleita. Não há subterfúgios ou ginásticas mentais que os ministros e porta-vozes possam usar para fazer imposta essa versão; se o tentarem, irritarão ainda mais e insuflarão seus opositores. O ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, já começou, oferecendo a “reforma política” como saída. Ninguém é tolo de crer que não precisamos de mudanças. Certamente, entretanto, não aquelas que os senhores têm em mente, senhor ministro – já sabemos o que as estimula e orienta.
Como apaixonado pelo Brasil que sou, tenho segurança em que este 15 de março, 30 anos depois da posse de José Sarney, o primeiro mandatário civil que iniciou e completou um governo depois do regime militar, será lembrado para sempre. Não foi algo comum, não foi nada banal. Foi histórico. Significará, entretanto, que o “gigante acordou”, finalmente? Não sei. Não garantirei. Isso será respondido pelos dias – e anos – que ainda virão. De certeza,  temos que, por hoje, ele se levantou da cama. Que não volte para ela.
Seja o que for que aconteça daqui para a frente, nós, que somos contra o petismo e a favor de mais liberdade, já obtivemos uma vitória moral profunda. Esse governo não tem mais vida própria, não tem mais vigor. É um espectro vagabundo, falido, que paira sobre o país, descontroladamente tentando ocultar as frestas de luz que se esforçam por rompê-lo. É inevitável: elas romperão. Enquanto é tempo, que os apoiadores dessa ordem de coisas ao menos cessem de mentir com a mais vil das hipocrisias diante da mais transparente das realidades, e então farão com que lhes reste ainda alguma dignidade.

Sobre o autor

Lucas Berlanza
Acadêmico de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, na UFRJ, e colunista do Instituto Liberal. Estagiou por dois anos na assessoria de imprensa da AGETRANSP-RJ. Sambista, escreveu sobre o Carnaval carioca para uma revista de cultura e entretenimento. Participante convidado ocasional de programas na Rádio Rio de Janeiro.
Matéria extraída do website do Instituto Liberal

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