A crise brasileira atual é culpa da crise mundial de 2008?
A última grande justificativa do Governo para explicar a incrível crise econômica que vivemos, com PIB negativo, inflação quase na casa dos dois dígitos e déficit fiscal primário, é a crise internacional, nos termos do pronunciamento da Presidente em cadeia nacional no dia das mulheres. Claro que ela também culpou a imprensa (bode expiatório de sempre) e a seca, mas estas razões ficaram em segundo plano.
Alguns economistas já tinham, no ano passado, refutado a tese da Presidente, argumentando que não há crise econômica internacional no momento. De fato, os EUA estão em retomada de crescimento, a Europa cresce em ritmo lento mas sustentável, a China continua a crescer acima de 7% e o resto do mundo, à exceção da África, continua crescendo de maneira progressiva.
Começando a ruir essa desculpa descabida, a Presidente, no dia de hoje, declarou que a culpa da crise econômica brasileira não é uma suposta crise econômica atual, que de fato não existe, mas sim a crise econômica de 2008! De acordo com a Presidente, quando da crise de 2008, que o ex-Presidente Lula chamou de “marolinha”, o Brasil se empenhou em aumentar drasticamente os gastos públicos de forma a impedir que os efeitos da crise fossem sentidos por aqui, ou seja, ela implementou uma política anti-cíclica keynesiana. Essa explicação precisa ser mais detalhada.
A ideia simplificada de Keynes é que crises econômicas são cíclicas e inevitáveis, em virtude da superprodução econômica que gera expectativa de baixa lucratividade futura, levando então a uma redução natural dos investimentos. Keynes então argumenta que, durante o período de crise, deve haver um gasto governamental alto para manter as atividades econômicas, suprindo os deficientes investimentos privados. Depois de passada a crise e a volta à normalidade dos níveis de investimento privado, o Estado deveria reduzir investimentos e tributar mais, gerando poupança nacional estatal para os anos de baixo investimento privado. De fato, o que a Presidente está fazendo é encerrando um ciclo keynesiano, ao reduzir investimentos públicos e tributar a população após um período de estímulos econômicos estatais.
Só tem um problema: a base da teoria de Keynes não faz o menor sentido.
Crises econômicas não são cíclicas e muito menos inevitáveis. O mercado é um processo dinâmico de criação e destruição, onde em todo o momento os empreendedores buscam, de maneira descentralizada, suprir as demandas dos consumidores, coordenando desejos humanos com a escassez de bens e serviços. Essa coordenação nunca será plena porque os desejos são infinitos e dispersos, enquanto que a escassez, embora perene, muda de acordo com a quantidade de poupança acumulada, as instituições sociais e a produtividade econômica, podendo portanto ser maior ou menor, mas sempre com tendência de queda, se naturalmente livre.
Esse processo se descoordena exatamente quando o Estado intervem para satisfazer grupos de pressão, políticos ou paraestatais, não mais levando em consideração os desejos dos consumidores na distribuição de bens e serviços, mas dos produtores que bancam as farras eleitorais e dos burocratas que controlam a máquina pública. Em um mercado livre, superprodução significa aumento da satisfação de todos e enriquecimento coletivo, não pobreza, pois os bens produzidos são aqueles que a sociedade deseja consumir.
O que se vê, analisando as crises econômicas a luz da boa teoria econômica, é que toda crise é antecedida por uma pontual intervenção estatal, normalmente através de instrumentos monetários, para produzir algum benefício econômico para alguém. Em suma, é a atividade estatal que gera a crise econômica que depois busca solucionar com mais atividade estatal.
Indo mais fundo, a atuação keynesiana no ciclo econômico é uma completa desgraça. Se estamos em uma crise, onde há pouca produção e pouca poupança, o uso do Estado para forçar as pessoas a gastarem acaba por destruir o pouco de poupança que existe e exaspera a pouca produção, levando a economia a um estado de escassez extrema. Por outro lado, se estamos em uma onda de produtividade, consumo e poupança, intervir com altos impostos e estímulo à redução da produção só vai gerar corrupção, redução do consumo e aumento dos preços, quebrando o ciclo de prosperidade.
A crise mundial de 2008 é um claro retrato disso. O Governo americano, querendo estimular a economia, inventou um grande programa de investimentos imobiliários, que se mostrou insustentável e quebrou a quase todos, dentro e fora dos EUA. Então o Governo estimulou uma gigantesca cessão de empréstimos bancários para a população americana consumir e gastar. Os EUA só não entraram em um processo de destruição completa do país porque os bancos sentaram em cima dos recursos estatais e unilateralmente não emprestaram esse dinheiro, consertando a política obamista/keynesiana.
O máximo que se pode dizer acerca da influência da crise mundial de 2008 na crise brasileira atual é que ambas tem o mesmo fundamento: intervenção estatal burra na economia, por culpa de quem dirigia os governos de EUA e Brasil.
No Brasil, essas intervenções tem os mais variados nomes: PAC 1, PAC 2, isenções pontuais, BNDES, política de campeões nacionais, Banco Central, Minha Casa Minha Vida, Minha Casa Melhor, Petrobras, protecionismo alfandegário, redução forçada de juros, Haiti, Porto de Cuba, Grupo X, Mais Médicos, redução forçada das contas de serviços públicos, CIDEs, impostos, taxas, e assim vai. Para resumir tudo em uma expressão: Partido dos Trabalhadores.
Portanto, o atual tsunami da economia brasileira não tem origem na marolinha internacional (termo lulista), mas na incrível empáfia petista de achar que pode controlar a economia melhor do que os cidadãos livres que a compõem.
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