sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O buraco no muro

Por João Bosco Leal


Pela internet tive acesso a um vídeo realizado pelo repórter Rory O'connor, que mostra a experiência realizada Dr. Sugata Mitra, chefe de pesquisa e desenvolvimento de uma empresa de informática da Índia, a NIIT, cuja paixão já há alguns anos tem sido a de educar crianças pobres principalmente através de sua inclusão digital.


País com mais de um bilhão de habitantes, onde vive um de cada seis habitantes do planeta, possui metade de sua população completamente analfabeta. Só um quarto desta possui acesso a água limpa, e a grande maioria sofre de extrema pobreza.

A mesma Índia, porém, abriga também a sede de algumas empresas de alta tecnologia mais avançadas do mundo.

Transpor a fronteira digital é de extrema importância para o ser humano, diz o Dr. Mitra, e seu objetivo é criar possibilidades para que todos tenham acesso, o que o fez iniciar, em 1999, a experiência que ficou conhecida como "O buraco no muro".

Durante seu trabalho, passando por uma favela em Nova Delhi, o repórter pode ver, na prática, a experiência do Dr. Mitra, que conectou um computador à internet de alta velocidade e o encaixou em um muro, que separava a empresa NIIT de uma favela adjacente, cercado de crianças.

Colocando esse computador à disposição dos moradores da favela, o Dr. Mitra começou a observar o início de seu uso pelas crianças que, curiosas, foram atraídas ao computador e perguntavam se podiam tocá-lo. A resposta dele foi: "está do seu lado do muro", o que, naquele país, significa que pode ser tocado, e então, elas começaram a tocá-lo, e em minutos, sem nenhuma orientação, descobriram como apontar e "clicar". No final do dia já estavam navegando no mundo da internet.

Com essa pequena oportunidade de acesso as crianças que o tocavam aprendiam, sozinhas, os passos rudimentares da linguagem computacional e aqueles que, mesmo sem tocar, tiveram a oportunidade de olhar, também aprendiam.

Um garoto se sobressaiu, usando joguinhos, e já tentava também usar ferramentas diferentes, como a de desenho, ou entrar na internet, visitando o site da Disney. Dias depois esse garoto já contava haver entrado em um site de notícias e lido sobre o Talibã, Bin-Laden, e sobre a existência de uma guerra entre a América e o Talibã.

Esse garoto, que não sabia sequer o que era um computador, havia saltado o que poderia ser descrito como dois ou três mil anos de história da humanidade, em apenas alguns minutos. Observações mais aprofundadas puderam notar também que a auto-confiança daquele menino se firmou muito após ele conhecer, e aprender, sozinho, a utilizar o computador.

Perguntado sobre o que, para ele, era a internet, a resposta foi: "aquilo com o que se pode fazer qualquer coisa". A experiência foi então alastrada por diversos lugares da Índia, sempre nos bairros mais pobres e o resultado foi sempre semelhante, com as crianças aprendendo, sozinhas, a navegar na internet.

Com atitudes simples como esta, de um simples buraco no muro, podemos abrir, para os menos favorecidos, uma enorme porta para o conhecimento, para o mundo e para as oportunidades.

João Bosco Leal www.joaoboscoleal.com.br

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