quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Míope ou Empulhador? Você decide!

 “Eles (os fantasmas) só vêem aquilo que querem ver”.

O menino Cole Sear (Haley Joel Osment), ao fantasma do Dr.  Malcom Crowe (Bruce Willis).


Por Klauber Cristofen Pires

Nesta semana jaz em destaque na Folha de São Paulo um artigo da lavra de Marcos Gouvêa de Souza, intitulado “Miopia na Demonização do Consumo”.
Desconfio que o autor não mereça ser xingado de míope, haja vista ser administrador formado pela Fundação Getulio Vargas e bacharel em propaganda e marketing pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), bem como também é conselheiro do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo). O que merece, sim, é ser acusado de enganador, pois parece nítido o seu intento de confundir os leitores.
Em todo o seu texto, de alma translucidamente keynesiana, vislumbram-se escapadelas aqui e ali, a louvar a política fascista que o PT tem implementado desde que chegou ao poder. Lembrando sempre, não uso o termo fascista aqui como o xingamento esvaziado de sentido que os próprios petistas e esquerdistas atiram aos seus inimigos por qualquer motivo (ou mesmo para nenhum), mas sim o uso em sentido próprio e estrito, para caracterizar um governo extremamente intervencionista e particularista, que transforma a atividade privada em mais um braço do seu poder.

Não é do meu gosto fazer comentários sobre cada parágrafo, tão conhecidos como “vermelho e azul”, mas para este caso não vejo uma alternativa melhor. Então vamos lá:
Grassa na mídia e em ambientes governamentais a ideia de que o estímulo ao consumo já cumpriu seu papel na recuperação econômica do país e que o foco deveria agora ser direcionado para investimentos em infraestrutura.
Como se essas frentes fossem incompatíveis entre si e os recursos para uma inviabilizassem apoio para a outra. Nada mais equivocado e pueril, não fosse incoerente.

Não sei de onde ele tirou tais conclusões. Não é que o estímulo ao consumo já fez a sua parte: na verdade, a política de estímulo ao consumo jamais foi virtuosa, e é isto o que está começando a se percebido pela mídia, que tem ecoado timidamente a crítica que os liberais austríacos fazem ao consumo artificialmente induzido pelo governo. 
Ao incitar o consumo para as áreas que o próprio governo estimula, ele provoca distorções nas decisões individuais de todos os cidadãos, que em outra situação poderiam aplicar o seu dinheiro em outras áreas por eles consideradas mais urgentes e necessárias.
Como diz o filósofo Hans Hermann Hoppe, a principal característica de sociedades sob forte dirigismo estatal é produzirem lápis em superabundância, enquanto falta papel, ou proporcionar uma profusão de molhos de tomate, enquanto falta macarrão. Explicando, o que ocorre é que deixa de haver o balanço natural das necessidades que a população sente e que informa a demanda para o setor produtivo, acarretando desta forma uma má aplicação de recursos, cujos desperdícios trazem como conseqüência um empobrecimento que pode ser relativo (o país cresce menos do que poderia) ou até mesmo absoluto (o país começa a encolher). Quantas pessoas deixaram de investir em si mesmas, por exemplo, por inscrever-se em um curso que futuramente poderia render-lhes melhores posições no mercado de trabalho, ou por realizar melhorias em seu estabelecimento comercial, para comprar automóveis, eletrodomésticos, computadores e tablets que o governo as estimulou a adquirir?
Quanto à falta de investimentos em infraestrutura, os austríacos defendem, a priori, que deveriam ser produzidos pela iniciativa privada em um ambiente isonômico, mediante regras claras e estáveis de mercado, com amplo respeito ao princípio da propriedade privada e livres da intervencionice estatal. No entanto, considerando que o estado toma para si tal incumbência e não o faz, nós sentimos isto diretamente no bolso ao pagarmos pelas péssimas vias de escoamento da produção, bem como pela energia elétrica, gasolina e telefonia das mais caras e vagabundas do mundo. Ora, deixar de investir em infraestrutura é sim, incoerente com o estímulo à compra de automóveis e geladeiras, se os investimentos nestes últimos bens emperram e encarecem a produção dos primeiros, ou não?
Em frente:
O que foi direcionado para o estímulo ao consumo nos últimos anos restringiu-se a alguma forma de desoneração do IPI para certas categorias e produtos e mais algum esforço dirigido para a desoneração da folha de pagamento de alguns segmentos empresariais, que transcendem ao âmbito do consumo.

Já comentei acima sobre os malefícios do particularismo tributário, ferindo a igualdade de oportunidades aos agentes de mercado e confundindo as decisões dos cidadãos. Todavia, ainda não toquei no lado mais perverso desta história, porque os malefícios não se restringiram aos erros de tomadas de decisão em consumo e produção.
No parágrafo acima transposto, o autor omitiu uma importante parte da política estatal petista de estímulo ao consumo, qual seja, a baixa forçada de juros e a expansão monetária turbinada pela distribuição de montantes colossais de recursos para empréstimos a pessoas físicas, para consumir, e para pessoas jurídicas, para produzir e vender aos consumidores que tomaram os respectivos empréstimos.
Atualmente, a população está endividada até a pleura, os grupos econômicos que se beneficiaram dos recursos liberados pelo BNDES estão falindo e as taxas de juros voltaram a aumentar, para combater a inflação que o próprio governo fomentou e todos agora estão sendo esfaqueados pelas costas pelo mesmo governo ao qual deram ouvidos.
Adiante:
De fato, o que conspirou a favor do aumento do consumo foi uma conjunção virtuosa do crescimento da renda real das famílias, com melhoria do nível de emprego formal, e do incremento da oferta de crédito e a elevação do nível de confiança do consumidor.
Esses elementos proporcionaram forte expansão das vendas do varejo em todo o país e criaram uma nova realidade social e econômica, sem que o governo fosse obrigado a fazer nenhum estímulo adicional.
No período de 2004 a 2012, vivemos uma profunda transformação estrutural do perfil de consumo. Perto de 40 milhões de brasileiros chegaram ao mercado, que se interiorizou e expandiu, gerando novas demandas por bens e serviços. Esse cenário permitiu o crescimento das vendas de varejo muito acima da evolução do PIB.

Como tenho explicado aos meus leitores, existe uma diferença profunda entre “gerar empregos” e “gastar empregos”. Afora alguma parte da economia brasileira ter se desenvolvido apesar do governo e não graças a ele, uma expressiva parcela de brasileiros têm conquistado o ingresso no mercado formal de trabalho por meio do concurso público ou nas milhares de ONG’s mata-tetas estatais ou mesmo em ramos da indústria privada beneficiada com a demanda artificial criada pelo governo. Ocorre que tais empregos foram gerados tais como um motor de arranque a girar um motor de um carro sem gasolina: quando acabar a bateria, o motor pára.
Isto entendido, compreende-se o quão temerosa e precária é a ufanização de um quadro estático de aquecimento da economia causado por cidadãos que estão sacrificando o futuro em prol do consumo presente, uma vez que as perspectivas de renda futuras estão seriamente comprometidas.
O investimento direto do governo para isso acontecer foi mínimo, e foi ele próprio o maior beneficiário. O aumento da arrecadação tributária advinda da formalização de negócios fez com que o crescimento da receita de impostos superasse, por larga margem, a expansão da economia.

Aí está uma afirmação passível de ampla discussão. Até quando a derrama estatal prosseguirá antes de asfixiar de vez o setor econômico? É certo que as receitas federais têm aumentado, porém em grande parte isto se deve a métodos de fiscalização e arrecadação mais eficientes. Ademais, mesmo os sucessivos recordes de arrecadação não têm sido capazes de aplacar a sanha consumista do maior gastador do país: o próprio estado. Vale aqui lembrar o então presidente Lula, a afirmar que seu conceito de desenvolvimento era gastar mais e aparelhar mais o estado com servidores concursados e nomeados em cargos de comissão.
Mas, nos últimos meses, tem havido forte pressão no sentido de que a prioridade do governo deveria ser redirecionada para investimentos em infraestrutura. Eles são absolutamente necessários levando-se em conta as carências contatadas no país, mas não deveriam pressupor a redução da atenção à ampliação e à melhoria do consumo.
Há espaço ainda para o aprofundamento do consumo, medido pela carência de produtos e serviços demandados pela população.
A penetração de alguns produtos nos domicílios brasileiros, segundo os dados da PNAD, do IBGE, mostra que, no período de 2001 a 2011, a presença de fogões cresceu de 97,8% para 98,6%. A de TV aumentou de 82,8% para 96,9%. As geladeiras avançaram de 84,4% para 95,8%. Em filtros de água, chegamos, em 2011, apenas a 53,2%, e em freezers a 16,4%. Se pensarmos em máquinas automáticas de lavar roupa, item relevante para a mulher que trabalha fora de casa, a penetração avançou de 32,9% para 50,9%.
E a obsolescência dos eletrodomésticos e dos produtos eletrônicos cria um mercado em constante renovação. O desejo de evolução e melhoria contínua é a essência do capitalismo e alimenta o desenvolvimento econômico, em especial num país como o Brasil, com uma população jovem, com idade média inferior a 30 anos.
Não devemos transigir na atenção que o consumo merece em um momento em que o aumento do emprego formal perde seu vigor, a expansão da renda real é menor, a oferta do crédito está mais limitada pela cautela do sistema financeiro privado e o nível de confiança do consumidor tem baixado desde o primeiro semestre de 2012, criando um indesejável cenário de tendência à contenção de gastos.
O país precisa de crescente atenção com sua debilitada infraestrutura, e qualquer pessoa de bom senso reconhece isso. Porém, fazê-lo à custa de uma redução de atenção e apoio à expansão do consumo é absoluta miopia.

Nos parágrafos acima, o Dr. Marcos Gouvêa de Souza repete um pouco do que já disse e termina erguendo uma prece ao santo do pau oco John Maynard Keynes para que se repitam os mesmos erros que têm causado a estagnação e a inflação que já estão grassando no país. Lastimável. Então, o sujeito é míope ou um empulhador?
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Marcos Gouvêa de Souza: Miopia na demonização do consumo



Grassa na mídia e em ambientes governamentais a ideia de que o estímulo ao consumo já cumpriu seu papel na recuperação econômica do país e que o foco deveria agora ser direcionado para investimentos em infraestrutura.
Como se essas frentes fossem incompatíveis entre si e os recursos para uma inviabilizassem apoio para a outra. Nada mais equivocado e pueril, não fosse incoerente.
O que foi direcionado para o estímulo ao consumo nos últimos anos restringiu-se a alguma forma de desoneração do IPI para certas categorias e produtos e mais algum esforço dirigido para a desoneração da folha de pagamento de alguns segmentos empresariais, que transcendem ao âmbito do consumo.
De fato, o que conspirou a favor do aumento do consumo foi uma conjunção virtuosa do crescimento da renda real das famílias, com melhoria do nível de emprego formal, e do incremento da oferta de crédito e a elevação do nível de confiança do consumidor.
Esses elementos proporcionaram forte expansão das vendas do varejo em todo o país e criaram uma nova realidade social e econômica, sem que o governo fosse obrigado a fazer nenhum estímulo adicional.
No período de 2004 a 2012, vivemos uma profunda transformação estrutural do perfil de consumo. Perto de 40 milhões de brasileiros chegaram ao mercado, que se interiorizou e expandiu, gerando novas demandas por bens e serviços. Esse cenário permitiu o crescimento das vendas de varejo muito acima da evolução do PIB.
O investimento direto do governo para isso acontecer foi mínimo, e foi ele próprio o maior beneficiário. O aumento da arrecadação tributária advinda da formalização de negócios fez com que o crescimento da receita de impostos superasse, por larga margem, a expansão da economia.
Mas, nos últimos meses, tem havido forte pressão no sentido de que a prioridade do governo deveria ser redirecionada para investimentos em infraestrutura. Eles são absolutamente necessários levando-se em conta as carências contatadas no país, mas não deveriam pressupor a redução da atenção à ampliação e à melhoria do consumo.
Há espaço ainda para o aprofundamento do consumo, medido pela carência de produtos e serviços demandados pela população.
A penetração de alguns produtos nos domicílios brasileiros, segundo os dados da PNAD, do IBGE, mostra que, no período de 2001 a 2011, a presença de fogões cresceu de 97,8% para 98,6%. A de TV aumentou de 82,8% para 96,9%. As geladeiras avançaram de 84,4% para 95,8%. Em filtros de água, chegamos, em 2011, apenas a 53,2%, e em freezers a 16,4%. Se pensarmos em máquinas automáticas de lavar roupa, item relevante para a mulher que trabalha fora de casa, a penetração avançou de 32,9% para 50,9%.
E a obsolescência dos eletrodomésticos e dos produtos eletrônicos cria um mercado em constante renovação. O desejo de evolução e melhoria contínua é a essência do capitalismo e alimenta o desenvolvimento econômico, em especial num país como o Brasil, com uma população jovem, com idade média inferior a 30 anos.
Não devemos transigir na atenção que o consumo merece em um momento em que o aumento do emprego formal perde seu vigor, a expansão da renda real é menor, a oferta do crédito está mais limitada pela cautela do sistema financeiro privado e o nível de confiança do consumidor tem baixado desde o primeiro semestre de 2012, criando um indesejável cenário de tendência à contenção de gastos.
O país precisa de crescente atenção com sua debilitada infraestrutura, e qualquer pessoa de bom senso reconhece isso. Porém, fazê-lo à custa de uma redução de atenção e apoio à expansão do consumo é absoluta miopia.
MARCOS GOUVÊA DE SOUZA, 64, formado em administração pela Fundação Getulio Vargas e em propaganda e marketing pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), é conselheiro do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo)
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