terça-feira, 29 de outubro de 2013

O Grande Salto (para trás)

Gustavo Miquelin Fernandes 

Mao Zedong, no ápice de sua tomada de consciência revolucionária, resolveu lançar seu plano “O grande salto para frente” (1958-1962), esteira do que seria o sino-comunismo, e que aboliria a propriedade privada das terras agricultiváveis, coletivizando os sítios rurais, inclusive levando a estes modernização com o incremento da industrialização rural, dando novo modelo de produção e consumo a seu país.  O plano comunista, como é obvio, não deu certo e milhões de civis morreram de fome em sua estrita decorrência.


No Brasil, o plano pode ser essencialmente, em forma e fundo, diferente, mas o nome deveria ser ipsis litteris copiado com a devida modificação final: “Grande Salto para Trás”.

Esse é o plano da senhora Rousseff. Não há alternativas a serem pensadas. 

Assim, escolhido o pior plano, a pior equipe, ela cuidou de promover sua necessária concretização para o povo que fez o favor de escolher o pior Governo. 

O plano econômico em vigor é refratário à poupança interna, sendo também refratário ao investimento, já que são conceitos e fenômenos interdependentes. Sem poupança interna que, como dito, é necessária ao investimento produtivo, surge uma política intervencionista de consumo imediato e imeditado, geradora de inflação, super-endividamento, esvaziamento da poupança e, sempre em última instancia e na gênese de toda crise sistêmica, a tão temida bolha. 

Tratemos de consumir agora, para que investir? Com Keynes, grande guru desse pessoal todo, nosso “economista burguês” dizia: ”no longo prazo estaremos mortos”...

A ideia de que consumo leva a investimento é plenamente assente neste Governo medíocre, quem não tem um bom quadro técnico.

Gente que aceita inflação desde que haja crescimento não pode jamais ser levada a sério. E isso ocorre no país da hiperinflação recente e dos planos econômicos desastrados de Bresser-Pereira e toda sua turma! Veja o absurdo que chegamos! 

A deificação da demanda agregada, mantra dos keynesianos, doutrina furada que se esconde eternamente atrás de um New Deal, que não deu certo, ao contrário do que diz o mainstream acadêmico, é insustentável. E o Brasil que tentou fazer essa louca experiência está pagando esse alto preço. Há que se ter muita coragem para ser um empregador ou um trabalhador por aqui, tudo vai contra e nada a favor. E agora o pior: a assunção de um mirabolante esquema político-econômico com um cardápio de ações todas absurdas e fora da realidade, engendrado em repartições federais – o que dá o “beijo da morte” em nossas expectativas de desenvolvimento. Tudo sob as bênçãos da senhora Rousseff, que inclusive é economista formada. 

O consumismo sem freio é que causa, entre outros fatores, a inflação, desorganização urbana, o endividamento dos grupos sociais, etc. Não se trata de coibir o consumo, o que é verdadeiramente arbitrário e anti-liberal, mas de não artificialmente estimulá-lo, sacrificando o longo prazo e a sustentabilidade, criando uma entropia consumista,  que desregula todo mercado. É tão difícil entender isso?

O plano vai de bem a melhor, com todo fôlego estimulado por técnicos, pela mídia dita especializada e pelo espectro populista que grassa na população e nos burocratas.  É sempre bom termos três carros na garagem, duas geladeiras, trocar o mobiliário todo ano, não é? E não se trata de compra de votos, e sim, de justiça social e bem-estar do povo – dizem os burocratas.

O dinheiro desde muito deixou de ter lastro. Com a criação de bancos centrais, de impressoras governamentais, com a abolição de padrões mais rígidos e concretos (alguns sugerem a volta do ouro) o dinheiro com respaldo virou tosca mitologia.  O que importa é a necessidade do “povo”, sempre auto-imposta e presumida, a bondade de um político e o apoio maciço da população, sempre insatisfeita em suas necessidades prementes.

 Com esses planos mágicos, os recursos deixaram de ser escassos e foram anulados os trade-offs envolvidos nessas complexas relações humanas. 

Permanecem algumas políticas pró-empresas, sim, como a diminuição tributária seletiva a certos setores e por determinado tempo, mas não políticas pró- mercado ou pró-capitalismo – como deveria ser. Não se deram conta do efeito distorcivo desse mecanismo na economia real, algo que passa de elementar. As cadeias econômicas necessitam de segurança jurídica, planejamento, e estabilidade para bem produzirem com o menos desgaste e maior eficiência, beneficiando todos os agentes mercadológicos. 

Não entenderam que o mercado não pode ser totalmente controlado por um Estado factótum. Baixar juros na marra, sem atender peculiares condições, alterar tarifas manu militari, são medidas, além de arbitrárias, economicamente burras. Alguém sempre vai pagar esse preço. 

O dinheiro que irriga e atola o mercado, sem lastro produtivo, fez com que chegássemos aos limites do endividamento – o que é péssimo para uma economia que se pretende saudável. Famílias, as unidades de consumo, são sujeitas ao endividamento, ainda que o Governo não o seja, e isso jamais será motivo de mais investimento como querem os discípulos de Lord Keynes. 

No ramo da concessão do crédito, os bancos estatais, fundos garantidores e BNDES, todos eles na mais esplendorosa sintonia espiritual, funcionando a toque de caixa, torrando dinheiro de tributos com algumas poucas empresas, sem muito critério.

A formação bruta de capital (taxa de investimento) no país gira em torno de 18% do PIB, o que é bem baixo. Até a China semi-comunista tem algo a nos ensinar neste sentido.

O “capitalismo de laços” tal como explica o professor Sérgio Lazzarine ou o “capitalismo jeca”, que na impossibilidade da vigência unilateral dum socialismo aplicado, mescla seus conceitos com as estruturas de mercado, e dá de presente aos brasileiros, produtores e trabalhadores, esse monstrengo que confisca, mal distribui, desperdiça, corrompe e, de modo geral, tudo atrasa. 

Os socialistas já tiveram a grande sacada intelectual que nesse sistema sem o famigerado “cálculo de preços”, conforme experiência na URSS e China pré-Xiaoping, a sociedade estaria fadada à extinção e a morte, como efetivamente a História nos convenceu. Assim, essa mesclagem de sistemas econômicos, esse capitalismo-compadre, nossa ideologia brejeira e o terceiro-mundismo sempre a nos fazer de vítimas, e criar espantalhos, fazendo entrever que os verdadeiros vilões são o globalismo, o livre mercado, a exploração universal, e não nós mesmos – agentes do desenvolvimento e donos de nossa soberania. Isso, positivamente, nos impede de vermos o que há de errado e como corrigir tais erros. 

Tentar manejar a curva da demanda, e não da oferta, flertando com a volta da inflação parece precário, mas realmente é o que ocorre com as ações tomadas a cabo pela equipe da senhora Rousseff.

Gastos sempre em descontrole, sendo que a política fiscal hígida é regra áurea da macroeconomia, e que esse modelo vigente impede de pôr em pratica.  Dia desses, vi, estupefato, um economista defendendo quatro dezenas de Ministérios.

Veja na infraestrutura a bagunça que a Presidente da República causou. Veja o caso dos leilões – algo emblemático. Definitivamente, enquanto esses burocratas iluminados, salvadores, caridosos, superiores e perfeitos não assimilarem certa realidade, nada por aqui pode dar certo. Quão difícil é entender que Estado não pode nem deve ser empresário.

Liberdade econômica neste país é pecar de morte contra a santidade absoluta do Estado. Somos estatólatras, causa real do atraso. Estatolatria essa que gera monopólio, gastos crescentes, burocracia, corrupção e alta tributação e mais Estado. 

O ruim da estória é que não nos demos conta disso; veja o caso dos protestos de junho: protestamos contra o Estado e pedimos mais...Estado. Paradoxal?

O Brasil anda marcha à ré, em velocidade acelerada e sob efusivos aplausos da mídia, da população desinformada e de toda a Academia. 

O plano chinês de Mao era comunista o que faz lembrar que todo marxista adora um Keynesianismo, já que são auto-complementares, primos-irmãos, pela necessidade que um deposita sobre o outro. Ambos os teóricos necessitam da justificação do aparelhamento do outro, um sob viés político, outro, sob o olhar econômico.  

O projeto brasileiro “Grande Salto para Trás” nunca foi tão festejado. No Brasil, o festival do consumo precário, da ideologia e do populismo deixaram de ser projeto de Governo e viraram projeto de Estado. Institucionalizado foi o atraso. Keynesianismo é terceiro- mundismo puro. 

Paguemos a conta e no curto prazo ainda. Ainda estaremos vivos... 



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