terça-feira, 16 de junho de 2015

Como viviam os estudantes universitários.O ensino na Idade Média era bem melhor que o atual – Parte 4

Régine Pernoud

Universidade Jagelônica, Cracóvia, Polônia

Universidade Jagelônica, Cracóvia, Polônia
No conjunto, o estudante do século XIII não tem uma vida muito diferente da do século XX.
Conservaram-se e publicaram-se cartas dirigidas aos pais ou a colegas (Cf. Haskins, The life of medieval students as illustrated by their letters, in American Historical Review, III (1892), nº 2), que revelam aproximadamente as mesmas preocupações de hoje: os estudos, os pedidos de dinheiro e de provisões, os exames.

O estudante rico morava na cidade com o seu criado, os de condição mais modesta hospedavam-se em casas de burgueses do bairro Sainte-Geneviève e faziam-se exonerar de toda ou parte das suas taxas de inscrição na faculdade.

Encontramos frequentemente à margem, nos registros, uma menção indicando que fulano ou beltrano nada pagou, ou só pagou metade da remuneração, propter inopiam (devido à sua pobreza).

O estudante desprovido de recursos faz frequentemente pequenos trabalhos para viver. É copista, encadernador nos livreiros que têm loja na Rue des Écoles ou na Rue Saint-Jacques.
Além disso, pode ser custeado de cama e mesa nos colégios instituídos. O primeiro deles foi criado no Hôtel-Dieu de Paris por um burguês de Londres que, no regresso de uma peregrinação à Terra Santa, pelo fim do século XII, teve a ideia de fazer uma obra piedosa favorecendo o saber nas pessoas de modesta condição.

Deixou uma fundação perpétua, encarregada de albergar e de alimentar gratuitamente dezoito estudantes pobres, que só ficavam sujeitos a velar os mortos do hospital e a levar cruz e água benta por ocasião dos enterros.

Um pouco mais tarde fundaram-se de igual modo o colégio Saint-Honoré e o de São Tomás no Louvre, seguidos de muitos outros.

Universidad

Pouco a pouco, ganhou-se o hábito de organizar nesses colégios sessões de trabalho em comum, como nos seminários alemães, ou os grupos de estudos que funcionam desde alguns anos antes nas nossas faculdades.

Os professores vieram aí lecionar, alguns fixaram-se, e por vezes o colégio tornou-se mais frequentado do que a própria universidade, como acontece com o colégio da Sorbonne.
No conjunto havia todo um sistema de bolsas, não oficialmente organizado, mas correntemente em uso, e que se aparentava com a Escola Normal Superior francesa, menos o exame de entrada, ou ainda aquilo que se pratica nas universidades inglesas, nas quais o estudante bolsista recebe gratuitamente não apenas a instrução, mas ainda cama e mesa, e por vezes vestuário.

(Autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge” – Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)




O quê se estudava nas Universidades? O ensino na Idade Média – Parte 5 


Régine Pernoud

Jovem doutor em leis, seculo XV

O ensino é dado em latim. Divide-se em dois ramos: o triviumou artes liberais – gramática, retórica e lógica; e o quadrivium, quer dizer, as ciências – aritmética, geometria, música e astronomia.

Com as três faculdades de Teologia, Direito e Medicina, eles formam o ciclo dos conhecimentos.

Como método, utiliza-se sobretudo o comentário. Segundo a matéria ensinada, lê-se um texto — asÉtymologies(Etimologias) de Isidoro de Sevilha, asSentences (Sentenças) de Pedro Lombardo, um tratado de Aristóteles ou de Sêneca — e glosa-se o texto, fazendo todas as observações às quais ele pode dar lugar, do ponto de vista gramatical, jurídico, filosófico, linguístico, etc.

Portanto esse ensino é sobretudo oral, dá espaço importante à discussão — questiones disputate — de assuntos na ordem do dia, tratados e discutidos pelos candidatos na licenciatura perante um auditório de professores e alunos.

Alguns deram lugar a tratados completos de filosofia ou de teologia, e glosas célebres, passadas por escrito, eram comentadas e explicadas na continuação dos cursos.

Idade Media 21

As teses defendidas pelos candidatos ao doutoramento não são então simples exposições sobre uma obra inteiramente redigida, mas teses emitidas e defendidas perante todo um anfiteatro de doutores e de professores, durante as quais qualquer assistente pode tomar a palavra e apresentar as suas objeções.
Como se vê, esse ensino apresenta-se sob uma forma sintética, sendo cada ramo recolocado num conjunto onde adquire um valor próprio, correspondendo à sua importância para o pensamento humano.

Por exemplo, há nos nossos dias equivalência entre uma licenciatura em filosofia e uma licenciatura em espanhol ou inglês, ainda que a formação suposta por estas diferentes disciplinas se coloque num plano muito diferente.

Na Idade Média se pode ser mestre de filosofia, teologia ou direito, ou ainda mestre em artes, o que implica o estudo do conjunto ou do essencial dos conhecimentos relativos ao homem, representando otrivium as ciências do espírito, e oquadrivium as dos corpos e dos números que os regem.

Toda a série de estudos se aplica, portanto, a dar uma cultura geral, e só se faz realmente uma especialização ao sair da faculdade.

Oxford, Wadham College
Oxford, Wadham College.

É isto que explica o caráter enciclopédico dos sábios e dos letrados da época.
Um Roger Bacon, um Jean de Salisbury, um Alberto Magno dominaram realmente os conhecimentos da época e podem entregar-se sucessivamente aos mais diferentes assuntos sem temer a dispersão, pois a sua visão de base é uma visão de conjunto.

(Autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge” – Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)


Fonte: Língua Portuguesa Reformacional

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