terça-feira, 4 de outubro de 2011

Irresponsabilidade administrativa em Campo Grande, MS

O Ministério Público precisa se manifestar imediatamente, exigindo explicações dos diversos órgãos do Poder Executivo e, se necessário, denunciando criminalmente os responsáveis.

João Bosco Leal  


Ontem um incêndio no nono andar de um edifício na cidade de Campo Grande, MS, provocou a morte, por intoxicação, de um jovem de 24 anos que inalou muita fumaça tentando descer as escadas do prédio.

Querendo entender melhor o assunto, me dirigi a uma das sedes do Corpo de Bombeiros para conhecer seus equipamentos e conversei, por telefone, com o Coronel responsável geral dos bombeiros, que educadamente me deu uma verdadeira aula sobre ações preventivas e de segurança contra incêndio, mostrando inclusive que essa tragédia poderia ter sido evitada se os moradores tivessem mais orientações de como proceder nessa situação.

Todo projeto, para receber o alvará de construção, precisa seguir uma série de orientações técnicas fornecidas pelos bombeiros, como a distribuição de hidrantes, as mangueiras que disponibilizem água, iluminação de emergência e uma escada chamada "enclausurada", onde não entre fogo ou fumaça, por possuir as portas resistentes ao fogo e as janelas de iluminação vedadas e trancadas.

O prédio onde ocorreu a tragédia havia passado por uma vistoria do Corpo de Bombeiros quinze dias antes e nenhuma irregularidade foi encontrada. Os 3.000 litros de água utilizados para apagar o incêndio foram provenientes da caixa existente na cobertura do prédio, o que, conforme o Coronel, agilizou e facilitou o trabalho dos bombeiros. Mas, então, como explicar uma morte?

Por falta de informação, no andar onde ocorreu o incêndio, objetos foram colocados de forma a manter aberta a porta contra incêndio que dava acesso às escadas, o que provocou a rápida propagação da fumaça pela escadaria, exatamente aquela que deveria possibilitar a saída das pessoas em segurança, forçando os bombeiros a quebrar os vidros das janelas para dar vazão à fumaça.

A quantidade de fuligem depositada no chão das escadarias, mostrada em fotos divulgadas pela imprensa, é de impressionar o mais leigo dos seres nesse assunto, mas certamente suficiente para intoxicar e matar não só o jovem que faleceu, mas todos os que por ela tentaram descer.

Essa desinformação da população é de responsabilidade do poder público, que deveria proporcionar a todo morador de prédios esse tipo de orientação, talvez até obrigatória, com simulações, como as oferecidas em diversos países do mundo contra incêndios e terremotos, que aqui é gratuitamente oferecida pelos bombeiros.

Apesar de o Coronel haver me explicado que ações preventivas são as mais importantes contra incêndios, buscando mais informações, acabei sabendo, e ele me confirmou, que Mato Grosso do Sul possui um único veículo equipado com uma auto-escada mecânica. Isso mesmo, o único não só na capital, mas em todo o estado.
É um veículo de 1974, com 37 anos, que possui uma escada com capacidade de alongamento de 30 metros, o suficiente para atingir a altura aproximada de um apartamento no 9º andar de um edifício - exatamente onde ocorreu este incêndio -, desde que o caminhão que a sustente esteja na base do prédio.

Com o se explica o fato de uma capital, com mais de setecentos mil habitantes e centenas de prédios com alturas diversas acima dos 50 metros, só possuir um caminhão com escadas mecânicas e assim mesmo com capacidade máxima de 30 metros? Com as escadas tomadas pela fumaça, penso que uma das possibilidades talvez fosse a retirada de pessoas mais próximas do fogo por elas, mas como, se elas não atingem altura suficiente?

Alvarás de construção de prédios são liberados quase que semanalmente, tamanho o progresso da cidade, mas nenhuma exigência de orientação aos seus futuros moradores é feita. Independentemente de quem seria a responsabilidade, penso que o Prefeito Municipal da Capital de Mato Grosso do Sul deve imediatas explicações à sociedade sobre sua insegurança em casos de incêndio, ou vamos esperar uma tragédia ainda maior para orientar melhor a população e fornecer mais equipamentos aos bombeiros?

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