Telepatia? Aposentado é preso no INSS no mesmo dia em que escrevo sobre desacato..

Silveira compareceu ao INSS com uma ordem judicial e acabou preso por desacato

Telepatia? Aposentado é preso no INSS no mesmo dia em que escrevo sobre desacato..

Por Klauber Cristofen Pires


Prezados leitores,

Certas coincidências - no sentido de dois ou mais fatos que "incidem" simultânea ou sucessivamente - têm provocado em mim a sensação de que não resultam da mera sobreposição ocasionada pelo acaso. Isto porque não é nem a primeira nem a segunda vez que acontece tal fenômeno.

Digo isto porque no dia anterior ao que escrevo este texto - ontem - simplesmente do nada veio-me a impulsão de escrever sobre a mania das repartições públicas de alertarem por meio de previamente hostis avisos afixados nos vidros dos guichês sobre o delito previsto no art. 331 do Código Penal - desacato, em contraposição às usuais mensagens de agradecimento que se encontram em lugares semelhantes - por exemplo, nos vidros dos caixas - dos estabelecimentos privados. Pasmem, mas leiam o artigo:

Capitalismo: “Obrigado, volte sempre”; Socialismo: “desacato dá cana”!

Pois não é que, absolutamente sem saber, no mesmo dia em que eu escrevia, o aposentado João Santana Silveira, no RS, foi preso pelo enquadramento acima citado, após terido pela milésima vez ao INSS para obter explicações sobre um desconto indevido?

Agradeço imensamente à amiga dona do blog By Mel por ter me repassado a notícia divulgada pelo jornal Zero Hora, cuja matéria repasso logo abaixo:

"Busquei explicações e acabei preso", desabafa aposentado que se exaltou em agência do INSS

Vítima de cobrança indevida, João Santana Silveira alega não lembrar de ter feito ameaças a servidores

Humberto Trezzi | humberto.trezzi@zerohora.com.br

O aposentado João Santana Silveira acabou preso após ser exaltar em uma agência do INSS na manhã de segunda-feira, em Porto Alegre. E ainda responderá em liberdade por desacato. Segundo o INSS, ele xingou e fez ameaças aos servidores, e por isso foi contido pelos seguranças.

Após uma separação conjugal, conforme João, descobriu que a pensão para a ex-mulher estava sendo descontada em dobro. Além disso, o dinheiro ficava retido no INSS. Ele foi ao local, com uma ordem judicial em mãos, para tentar solucionar o caso.

— Eu não tinha ideia do que se tratava. Busquei explicações por meses e acabei preso, vê se pode — lamentou na segunda-feira, em entrevista concedida a Zero Hora três horas após ser liberado pela Polícia Federal.

Zero Hora — O senhor ameaçou mesmo quebrar o carro da gerente do posto do INSS?
João Santana Silveira — Não lembro disso, acho que não faria isso. Eu estava irritado e ameacei, sim, não sair do posto sem o meu dinheiro. Disse: só saio daqui quando resolverem meu problema. Nunca pedi nada a ninguém, mas, de uns tempos para cá, tenho ajuda da filha, porque o governo está ficando com meu dinheiro.

ZH — O senhor tentou solucionar o problema de uma forma amigável?
Silveira — Lógico. Fui dezenas de vezes ao posto do IAPI, e eles sempre me enrolando. Por que deixaram chegar nesse ponto a discussão? Eu fui tratado como marginal. Sinto depressão e raiva, sentimentos que ninguém deve alimentar. Enquanto isso, os funcionários do INSS vão tranquilos para casa. E eu, desesperado.

Leia a entrevista completa na Zero Hora desta terça-feira.

Entenda o caso
O idoso está há quase quatro meses sem receber pagamento por causa do erro e recorreu à Justiça. Com uma ordem judicial em mãos desde a semana passada, ele foi nesta manhã ao posto da Vila IAPI, em busca de uma solução, mas não conseguiu resolver o problema.

No local, foi informado que a supervisora não iria atendê-lo mais uma vez. Segundo a filha do aposentado, a médica Andresa Silveira Medeiros, o pai dela acabou se irritando com a demora e o descaso por parte do posto do INSS. O resultado foi a prisão de João Santana.

Segundo o INSS, o aposentado xingou e fez ameaças aos servidores e, por isso, foi contido pelos seguranças. Depois, ele foi detido pela Brigada Militar. Como se trata de um órgão federal, o caso foi encaminhado à Polícia Federal (PF).

O INSS confirmou que houve um equívoco no pagamento do aposentado, inclusive o desconto de uma parcela indevida. O órgão informou que o ofício judicial chegou sexta-feira passada e que já foram feitos os ajustes necessários, porém há um prazo para que os pagamentos atrasados seja efetuados.

O Instituto informou que o aposentado vai receber uma parcela na terça, outra na quinta feira e uma terceira na próxima segunda-feira.
ZERO HORA