quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Pequena reflexão sobre a honestidade pública


Como se pode esperar honestidade de uma ideologia desonesta?

Por Klauber Cristofen Pires


De uma certa vez, ouvindo sobre mais um escândalo de corrupção - e isto se deu há uns bons anos, quando o uso do termo "escândalo" ainda mantinha um resquício de sentido - um certo amigo meu proferiu-me sua opinião, como resposta à minha colocação anterior de que fazia-se necessário retirar boa parte de poder dos políticos por meio da redução do tamanho do estado: "- o que este país está precisando é de homens públicos honestos, que dediquem-se mais ao bem comum do que aos interesses pessoais."

Implícito está, como o leitor pode perceber, a tendência do meu interlocutor a prestigiar a instituição monopolista da força como provedora daquelas coisas que produzimos nós mesmos com o trabalho suado. Em sua concepção, o que falta ao perfeito funcionamento de uma sociedade socialista é que os homens se imbuam de honestidade, patriotismo, abnegação e altruísmo.

Não se negue que tais valores sejam assaz importantes. Não serei eu a contestar tais virtudes, especialmente quando se trata de confiar a alguém um cargo público. O que tenho a objetar é se estamos aqui diante de valores fundamentais ou decorrentes de algum princípio do qual sejam derivados e dependentes.

Ocorre que a doutrina que defende a primazia do estado como agente eficaz para a produção do bem-estar geral da sociedade e que clama para tanto a necessidade de homens honestos e probos é a mesma que proclama o homem como medida de todas as coisas e Deus como uma droga, literalmente.

Desta forma, nossa indagação repousa na dúvida: Há ateus honestos? Certamente que sim. Então, qual a explicação que poderíamos dar para isto? Da boca de alguns ateus, responderam-me que seria a teoria dos jogos. De forma mais clara, a honestidade é um bom negócio: se todos forem honestos, a sociedade como um todo haverá de desfrutar mais dividendos do que se fosse constituída por indivíduos rapineiros.

Temos então que a honestidade daqueles que assim pensam provém de um fundamento cujo lastro é a conveniência. À primeira vista, a teoria parece ser boa; no entanto, é possível perceber algumas falhas neste esquema: o primeiro está na condição atribuída a cada um dos cidadãos. Tendo em conta que o tempo de vida de um indivíduo é limitado e que a morte o levará à mais absoluta aniquilação, será que os ganhos sociais esperados pela honestidade coletiva poderá provê-lo de uma tranquila conformidade caso a sua posição na sociedade não lhe parecer satisfatória? 

Neste ponto, uma certa compreensão das circunstãncias se faz necessária: em um sistema socialista, a posição de alguém na sociedade reflete uma nítida hierarquia, à maneira dos postos militares, que há de ser considerada socialmente justa, como consequência lógica da própria reivindicação ideológica do regime.

Trata-se de algo muito diferente do que ocorre nas sociedades livres. Nestas, não prevalece uma relação direta entre a atividade que alguém exerce e uma esperada estratificação social como efeito da aplicação de uma austera justiça social. Em uma sociedade livre, alguém pode ao mesmo tempo ser um simples faxineiro e um respeitado pastor na sua igreja. Quando tais sentimentos de casta podem ser observados, é razoável atribui-los a certos vícios nos costumes, seja como resquícios de tempos onde havia escravidão e títulos nobiliárquicos transmitidos por herança, ou como ocorre dentro do serviço público, em que os funcionários amiúde acabam se comportando de uma forma semelhante à dos países socialistas, isto é, distingindo-se entre si conforme os cargos que ocupam.

A segunda dúvida é: será que cada um dos indivíduos tenderá a assumir honestamente a honestidade? Terei formulado corretamente a minha questão? O que indago é se a honestidade conveniente não pode ser relaxada, especialmente naqueles momentos quando ninguém está vendo... 

A terceira incerteza resulta da confluência das duas primeiras: Sendo a honestidade assumida por conveniência, e dado que a posição atual de qualquer um tende a ser potencialmente insatisfatória, como tenderá este valor a ser assumido pelos indivíduos? Interna ou externamente? Esta questão é muito importante porque resultará em uma generalizada fiscalização da vida alheia, até o ponto da neurose, caso a segunda venha a sobrepujar-se.  Não por acaso, quando olhamos os regimes comunistas que já existiram e que ainda resistem ao tempo podemos fotografar este fenômeno em todos eles, e um exemplo especial pode ser dado com os cubanos Centros de Defesa da Revolução, instalados em cada bairro, que mantêm em vigília permanente os passos de cada um dos habitantes das redondezas sob sua jurisdição.

Até este ponto analisei a teoria dos jogos. Não se trata, obviamente, da justificativa de todo e qualquer ateu. Do meu ponto de vista, eu mesmo não saberia dizer porquê um ateu honesto assim decide agir. Em linhas gerais, costumo dizer que quase todo mundo tem uma certa opinião sobre si próprio não exatamente coincidente com a realidade: há muitos religiosos que não têm tanta fé assim quanto se proclamam, assim como há os auto-denominados ateus que guardam consigo heranças da tradição cristã e mal se dão conta disso. Muitas vezes, trata-se de gente cansada de charlatanismos.

Vale frisar que é o regime socialista a verdadeira causa ateísta, antes dos cidadãos, individualmente considerados. Sendo a estrutura da sociedade formatada sob esta base, resta aos administrados tentarem se adaptar a ela como puderem, sejam ou não ateus eles próprios, até mesmo como medida de sobrevivência. 

Por fim, adicionemos também a reflexão sobre a honestidade  acima explanada com a estratégia permanente de dissimulação, caluniação e difamação como método de propaganda do movimento revolucionário internacional socialista e perguntemos como pode alguém criar-se neste ambiente e ao mesmo tempo manter a sua integridade moral intacta. 

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