Por Klauber Cristofen Pires
A proposta de retorno ao padrão-ouro vem ganhando força, e enganando os experts pautados pelo mainstream econômico. Há alguns dias atrás, a jornalista e economista Mírian Leitão associou os últimos sucessivos recordes de preço do metal às crises monetárias anteriores, classificando o atual evento como mais uma das fugas desesperadas de investidores nestas épocas de incertezas.
A sua versão dos fatos possivelmente resulta do seu completo alheamento, seja ele intencional ou espontâneo, do fato de que atualmente há um grande movimento político voltado para o retorno ao sistema metálico, tendo já vários estados americanos iniciado propostas de lei garantindo a sua aceitação como meio de pagamento.
Some-se a isto a crescente desilusão da sociedade mundial com as sucessivas corridas desvalorizatórias de cunho mercantilista promovidas pelos diversos países, o estado crônico de inflação neles imperante e os "infalíveis" planos econômicos que só aumentam o intervencionismo estatal, e teremos um quadro compreensivo de que o sol do sonho keynesianista já se espraia em tons laranja-avermelhados.
Com a difusão progressiva da doutrina liberal austríaca, a concepção de um sistema monetário lastreado em uma mercadoria de aceitação voluntária e universal (que a peneira dos milênios consagrou o ouro), vai abandonando seu status de teoria acadêmica para tornar-se ideia viva e proposta política consistente, com grande apoio popular.
O problema que exsurge, porém, é o de que uma moeda de verdade não há de admitir artificialismos monetaristas de espécie alguma, pois não há mágica capaz de fabricar ouro como se imprime papel e se empurra goela abaixo dos cidadãos.
Mesmo depois do plano Real, o Brasil jamais conseguiu se desvencilhar totalmente do vício da indexação e dos controles de preços. Começaram com algumas reservas para os contratos de financiamento da casa prória pela Caixa Econômica Federal, foram se espalhando para se infiltrar entre as taxas de juros, já atingiram o salário mínimo e pelo menos em tese, tambems os salários dos servidores públicos. Eu não tenho a mínima ilusão de que tenhamos como evitar uma nova escalada hiperinflacionista dentro da atual ordem vigente. O Brasil - de novo - já tá todo acorrentado por índices automáticos de reajustes de preços e de salários.
Dentro desta perspectiva, um padrão-ouro realmente só tem a oferecer uma brutal recessão. Em se tratando de um bem físico limitado, claro está que qualquer fixação legal de salários ou de preços não pode ter lugar. Um contínua valorização da moeda há de ocorrer, sem que isto necessariamente indique em danos à economia. Pelo contrário: embora com cada vez menos quantidade de ouro em mãos, os trabalhadores haverão de adquirir cada vez mais e melhores produtos e serviços.
Mesmo em um ambiente relativamente inflacionário como o hoje vigente a deflação ocorre sem que ningém tenha reclamado dela. Atualmente, um aparelho de tv de LED de 40" pode ser comprado por um preço 75 a 85% menor do que apenas há seis anos atrás, quando este produto começou a ser oferecido no mercado. Em um cenário de contínua desvalorização monetária, mesmo que seus preços tivessem subido - no geral - apenas um pouco menos do que os salários, isato já teria representado uma deflação.
Depois de quase cem anos de moeda-papel inconversível de curso forçado, tornou-se arraigada a crença na irredutibilidade dos salários como um legítimo direito trabalhista, de modo que a ideia que se lhe opõe parece um obstáculo quase intransponível. No entanto, basta demonstrar que tal irredutibilidade sempre assentou-se no campo da nominalidade, tendo os governos cronicamente dficitários espertamente dimimuído seu real poder de compra por meio da desvalorização cambial. Quando lembrarmos aos brasileiros os dias da glória sarneysista da multiplicação do dinheiro, aquele em que todo mês cada trabalhador recebia um significativo aumento em seus proventos, mas que tinha de gastá-lo todo no supermercado já no primeiro dia sob pena de vê-lo escorrer por entre os dedos, eles entenderão do que se trata.
Concluindo, o retorno ao padrão-ouro exige como requisitos a total desestatização das taxas de juros, e a completa extinção dos depósitos compulsórios e da irredutibilidade dos salários - inclusive o salário mínimo. Para tanto faz-se necessários que os governos sejam entidades enxutas e não interventoras e que seja garantido um autêntico regime de liberdade de mercado.
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