quarta-feira, 2 de junho de 2010

Um diabo cinquentão

Por Klauber Cristofen Pires

O site do jornal cubano Juventud Rebelde traz uma matéria, assinada por "vários autores" (estranho, não?), intitulada "Los domadores del "Diablo").

Trata a reportagem de tentar levantar "aquela" bola para a produção agrícola do país, que, vamos falar sério, é algo pior que sofrível...

No site, o leitor é brindado com uma foto ilustrativa (esta, acima) onde se apresenta um agricultor montado sobre uma geringonça indescritível que se assemelha a uma sucata de trator. Agora, pense, caro leitor: se o periódico cubano é antes um instrumento de propaganda do regime comunista ilhéu, então é bem provável que aquele exótico veículo seja a "menina dos olhos" do lugar. É pouco ou quer mais?

Sabe por que os sete repórteres (sim, faltou teclado para tantos dedos...) se referem ao "Diablo"? O "coisa ruim" é a terra, conforme atestam ser um lugar comum entre os "intelectuais" e burocratas cubanos. Analisemos como se expressam:

Si ahora mismo preguntáramos por los problemas de la agricultura cubana y sus posibles soluciones, un mar de voces se encresparía tratando de responder esa incógnita, más vieja que Matusalén.

Claro, si entre esos «contestadores» indagáramos cuáles de ellos estarían dispuestos a laborar a tiempo completo en el surco, probablemente no se produciría siquiera una leve ola, como alegoría de que el campo es visto como un «diablo», del cual se opina y se exige, aunque «mientras más lejos mejor».

Por eso en un país que jamás fue industrial, pero que estimuló en determinados momentos el trabajo intelectual por encima del manual, uno levanta las cejas hoy cuando encuentra a muchachos que han hecho del trabajo agrícola su oxígeno y su alegría, como si ese hallazgo fuese de otro mundo.

Os profetas do paraíso marxista anunciavam que os homens do novo tempo seriam intelectualmente superiores, até mesmo grandes filósofos. Acertaram em cheio. Calaram-se quanto aos agricultores. Deu nisto aí.

Querendo passar a idéia de que tem gente lá fazendo a diferença, ressaltam o depoimento de um jovem presidente de uma cooperativa de crédito e serviços nos termos seguintes:

«Se ha extendido la idea de que este mundo de las cooperativas es trabajo, trabajo y poco dinero; pero resulta una absolutización demasiado dañina, porque existen entidades de este tipo con buenos resultados económicos, como la nuestra, la Mártires del Cauto, en la que se obtienen 1.113 quintales de arroz por caballería» (...).;

A ver: um quintal, como unidade de medida, possui três dimensões diferentes: há o "quintal curto "norte-americano ("short hundredweight"), de aproximadamente 45,36 kg; o "quintal longo" britânico ("long hundredweight"), com cerca de 50,80 kg, e o métrico, que vale 100 kg.  Creio que, por influência da proximidade e da tradição americana, os cubanos se valham do "quintal curto". Já uma "caballería" equivale a 105 acres ou quase 42,49 hectares.

Fazendo as devidas conversões, então o que o jornal cubano divulga como bom resultado econômico é algo perto de 1.200 kg/hectare, no caso da medida norte-americana, ou até 2.600 kg/hectare, dentro de uma perspectiva mais favorável, segundo o sistema métrico. No Brasil, a média de produtividade gira em torno de 4.500 kg/hectare, sendo que no Rio Grande do Sul alcançam facilmente 5.500 kg/hectare e em Santa Catarina, pasmem, a produtividade ronda os 7.000 kg/hectare.

Isto significa que, por baixo, a produtividade tupiniquim é no mínimo o dobro da antilhana, sendo mais certo falarmos que a sobrejupa em 500 a 700%! Se um agricultor brasileiro tomasse a estúpida decisão de anunciar - vamos ser condescendentes  - os  2.600 kg/hectare, segundo o cálculo métrico, o Incra e o MST já teriam saltado como leões famintos sobre as suas terras. Mas é isto que Lula, Dilma, Marina e até o sonso do Serra nos prometeem: um outro mundo possível. "Possível", até que pode ser, já "desejável", é muito lá outra coisa...

Os autores aventam que os problemas da agricultura cubana representam uma incógnita mais velha que Matusalém. Equivocam-se: os seus problemas somam pouco mais de cinquenta anos, só isto. 

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