quarta-feira, 11 de abril de 2012

Anencefalia: um fim no amor ou no lixo


O que aqui discutimos primordialmente é como será esse fim: a mãe pode amar seu filho anencéfalo, trocar experiências e palavras de amor enquanto ele sobreviver e, assim, por meios naturais e dignos acompanhá-lo até a morte ou, se assim o STF deliberar, a mãe, sem o ter amado, decidir por antecipar a morte de seu filho e de forma violenta e indigna dá-lhe um fim numa lata de lixo. A morte é infelizmente inevitável, mas para os bebês anencéfalos estamos escolhendo o amor ou o lixo.

Paulo César Silva Tavares
Médico pediatra formado e especializado na UFRJ 


A discussão da legalidade do aborto de um bebê anencéfalo envolve várias abordagens tanto científicas, quanto éticas e religiosas. A única verdade em comum está na definição técnica: anencefalia é uma malformação rara e grave que consiste na ausência de formação do cérebro, cerebelo e da calota craniana e que por isso leva o nascituro a um estado de morte eminente, principalmente após seu nascimento. Contudo, sempre é preservado nesses casos o tronco cerebral, que garante por instantes ou até mesmo dias ou meses o funcionamento, mesmo que desordenado das funções vitais. 

As grandes discussões giram em torno de três questões: a primeira está no impasse se um bebê anencéfalo pode ou não ser considerado com morte encefálica no eletroencefalograma mesmo com atividade no tronco encefálico; a segunda está no relato de alguns casos reais de anencefalia (e não de malformações menos graves) que conseguiram ser viáveis por um tempo mais prolongado como dias e meses e a terceira está no que seria o pior sofrimento das mães desses anencéfalos: o de precipitar a morte de seu filho ou de levá-lo conscientemente até uma morte natural.

Independente de todas essas questões, sabemos que a anencefalia é uma doença grave, irreversível e que levará o bebê invariavelmente à morte. O que aqui discutimos primordialmente é como será esse fim: a mãe pode amar seu filho anencéfalo, trocar experiências e palavras de amor enquanto ele sobreviver e, assim, por meios naturais e dignos acompanhá-lo até a morte ou, se assim o STF deliberar, a mãe, sem o ter amado, decidir por antecipar a morte de seu filho e de forma violenta e indigna dá-lhe um fim numa lata de lixo. A morte é infelizmente inevitável, mas para os bebês anencéfalos estamos escolhendo o amor ou o lixo.


Fonte: Portal Um

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