terça-feira, 29 de novembro de 2011

Nacionalização da indústria naval: de volta ao passado.


A política e a mágica são a mesma arte de iludir o público: o que se mostra o distrai para ocultar o que se faz sumir.


Por Klauber Cristofen Pires




Uma reportagem ufanista divulgada pela Agência Brasil que comemora a entrega do navio Celso Furtado à Transpetro explora a política de nacionalização da construção de navios e anuncia o triunfal número de 60 mil empregos no setor. Motivo para comemorarmos?
De acordo com a reportagem, “A presidenta Dilma Rousseff voltou a dizer, no início da tarde de hoje (25), no Rio de Janeiro, que o Brasil não vai exportar empregos. “Estamos conseguindo garantir emprego e não vamos permitir que se exporte emprego para fora.”.
Muita calma nessa hora! Como diz o adágio dos austríacos, o que você vê esconde o que você não vê...
Segundo o título da matéria, o navio Celso Furtado foi o primeiro a ser construído totalmente no Brasil. Como oficial mercante, manifesto minha total desconfiança de que isto seja verdade, vez que há inúmeros equipamentos que devem ser importados, haja vista a inexistência de similares no Brasil. Ainda com relação aos equipamentos similares que porventura existam, há os que são mais caros, tecnologicamente defasados e de má qualidade.
Em praticamente nenhum lugar do mundo algum país lança mão de uma produção absolutamente nacional. Nem nos Estados Unidos, um país com uma logística invejável. Isto porque simplesmente é antieconômico.
Retornemos ao passado, para acompanharmos a história da Embraer, que malgrado o elogiável esforço dos governos militares, não conseguia “decolar” (perdoem-me, mas não resisti à metáfora), por conta da então vigente política de substituição de importações, que a impedia de adquirir peças e equipamentos importados para o desenvolvimento e o fabrico de suas aeronaves.
Bastou a revogação de tão bisonha legislação e a indústria aérea brasileira tornou-se um verdadeiro motivo de orgulho nacional, oferecendo ao mercado jatos intermediários de passageiros bastante confiáveis, silenciosos e baratos, bem como também mui recentemente um jato cargueiro militar de ponta, o KC-390, além do já conhecido Super Tucano, um turbo-hélice extremamente eficiente no combate ao solo e para a caça de helicópteros e aviões do narcotráfico.
A política de substituição de importações, em sua versão eletrônica, fez-se presente por meio da nefasta Lei de Reserva de Mercado da Informática, de autoria de Luís Henrique da Silveira, do PMDB, uma geringonça legislativa que nos aprisionou na idade da pedra dos computadores e softwares. Qualquer pessoa mais ou menos bem informada sabe perfeitamente que hoje em dia em um pc certas peças vêm de Taiwan enquanto outras são chinesas e outras ainda são de origem malasiana ou indonésia ou de qualquer outro lugar do planeta. A mais eficiente especialização de funções – graças a Deus – conduziu-nos ao mundo da interdependência.
Manter postos de trabalho no Brasil à marra torna-se uma vitrine muito bem enfeitada para o governo populista de Dilma Roussef e de seu antecessor, o Lula. Entretanto, a lógica econômica racional nos informa que muito mais do que sessenta mil postos de trabalho podem ter sido perdidos no Brasil por termos pago mais caro para manter os postos de trabalho da indústria naval aqui em nossas terras.
O dinheiro a mais pago pelos brasileiros para sustentar a nacionalização forçada da indústria naval pode ter faltado ao agrônomo, em Goiás, ou ao industrial de algum artefato eletrônico em São Paulo, ou ao empresário da pesca, em Santa Catarina, ou a quem mais se veja obrigado a pagar mais caro pela gasolina ou pelo óleo diesel em função do monopólio de que goza a estatal brasileira do petróleo.
Este filme todos já assistimos e todos sabemos que resultou em um retumbante fracasso. Como testemunha viva da decadência daquele período, informo aos meus leitores que os últimos navios eram em geral muito ruins e já entravam na água tecnologicamente defasados, como resultado da pouca concorrência que sofriam. Em vários casos, foram construídos com restos de estoques de massas falidas e sucatas.
Em todo caso, louvo a escolha do nome Celso Furtado para a embarcação recentemente entregue pela presidente Dilma Roussef. Não que eu seja um fã daquele que se notabilizou por sua desastrosa defesa intransigente da intervenção estatal sobre a economia e que criou o antro de corrupção que se tornou a Sudene. É porque a homenagem prestada tem tudo a ver com a atual conjuntura.

Dilma entrega primeiro navio da Petrobras construído inteiramente no Brasil

25/11/2011 - 15h27
Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – A presidenta Dilma Rousseff voltou a dizer, no início da tarde de hoje (25), no Rio de Janeiro, que o Brasil não vai exportar empregos. “Estamos conseguindo garantir emprego e não vamos permitir que se exporte emprego para fora. Não vamos permitir porque nosso compromisso é com a grandeza do nosso país e, para um país ser grande, seu povo tem que ter acesso ao emprego”. A declaração foi feita a um grupo de trabalhadores da indústria naval, na cerimônia de entrega do primeiro navio construído no âmbito do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef) da Petrobras.
“Esta cerimônia faz parte de uma luta, que vocês ajudaram muito a travar, mesmo antes de estarem empregados no estaleiro ou antes de estarem sendo beneficiados pelo fato de, no Brasil, termos emprego”, disse Dilma Rousseff, que fez questão de lembrar a crise que a indústria naval brasileira enfrentou ao longo de décadas. “Quando o presidente Lula chegou ao governo, a industria naval estava paralisada”.
O navio Celso Furtado, entregue hoje (25) à Transpetro, subsidiária da Petrobras do setor de logística, é um dos 49 previstos no Promef, criado pela estatal para impulsionar a indústria naval brasileira. “No Brasil, muita gente dizia que dava para crescer, mas que poucos ficariam ricos. [Celso] Furtado disse que crescimento era uma coisa e desenvolvimento era outra, que país só se desenvolvia se o povo crescesse junto”, disse a presidenta, citando o economista e imortal Celso Furtado, cujo nome foi escolhido para batizar o navio.
O Celso Furtado é um navio-tanque com 183 metros de comprimento e capacidade para transportar 56 milhões de litros de combustíveis, como gasolina e óleo diesel.
O Promef é apontado como o principal instrumento da modernização e ampliação da indústria naval brasileira. Três estaleiros já foram construídos para atender à demanda atual e à expectativa de crescimento do setor: o Rio Tietê, em São Paulo, e Atlântico Sul e STX-Promar, em Pernambuco. O programa também é responsável pela retomada do mercado de trabalho do setor. Na virada do século, os poucos estaleiros nacionais que resistiram à crise empregavam pouco mais de 2 mil pessoas. Atualmente, emprega quase 60 mil pessoas, segundo dados da Transpetro. Do total de embarcações projetadas, 41 foram encomendadas, envolvendo investimentos de R$ 9,6 bilhões. Oito navios ainda estão em processo de licitação.
Edição: Vinicius Doria

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