quarta-feira, 21 de julho de 2010

Tapinha dói? E porrete?

Por Klauber Cristofen Pires

O estado, que na figura do Sr Presidente da República, propõe a tipificação penal da palmadinha, alegando que a violência é o recurso de quem não tem autoridade ou não sabe argumentar, é o mesmo que nos estádios ou quaisquer aglomerações possui policiais armados de cassetetes. E agora?





O embalo midiático em torno da proposta de Lula de criminalizar o "tapinha" mantém-se a todo vapor. Reitero: não é o espancamento, mas qualquer tapinha, beliscão ou puxão de orelhas, ou mesmo - absolutamente  - qualquer coisa que por um estranho possa ser interpretado como "ameaça" ou "humilhação".

Ao ler os principais jornais do país, constato como abundam as reportagens com apoio incondicional ao projeto de lei, seja por jornalistas ou "especialistas", sem contudo, tocarem, nem incidentalmente, sobre a questão do direito dos pais a educarem seus filhos sem a intervenção estatal.

Toda a campanha se sustenta fundamentalmente em duas alegações: primeiro, a afirmação de que o tapinha causa dor física e emocional, e que pode gerar adultos agressivos, e a segunda, que o castigo físico é a obra de quem não sabe argumentar com seus filhos.

Ora, que causa alguma dor física, não duvido, pois a intenção é esta mesma, conquanto leve ou moderada. Quanto à questão emocional, isto muito depende da relação entre pais e filhos, de modo que posso afirmar, do meu próprio exemplo como pai, que há pouca ou nenhuma relação. A criança que é educada e que tem pais presentes que exercem a sua autoridade sente-se amparada e confiante, mesmo sabendo que, por seus escorregões, pode ser submetida a uma sansão física.

Há casos em que a criança decide deliberadamente desafiar a autoridade dos pais; testar os seus limites ou, principalmente, valer-se de uma oportunidade constrangedora no meio de terceiros. Nesses momentos, praticamente não há argumentação que resolva e nem sequer a promessa de sanções futuras baseadas, por exemplo, em corte da tv, e isto porque as crianças raramente pesam de maneira racional as escolhas presentes contra as futuras. Por outro lado, pode ser que sejam, sim, capazes, de pesar prós e contras, e conscientemente, prefiram desfrutam a sensação de prazer ou de poder em humilhar seus pais em frente às outras pessoas, mesmo sabendo que a tv será cortada ou que não poderá mais sair durante aquele dia.

Em tais ocasiões, sobrevém a necessidade da simples e pura afirmação da autoridade paterna. Este é um princípio que tem de ser assimilado pela criança. O respeito, o senso de oportunidade, a reverência e o acatamento às determinações dos pais precisam ser mantidos, senão a casa cai.

Ainda mais grave é lembrar que a educação que trazemos de casa, em muito amparada pelo senso de autoridade, é fundamental para a vida harmoniosa em sociedade. Senão, vejamos: será que o gerente sempre terá que convencer o funcionário a realizar alguma tarefa? Será que o diretor tem a necessidade - sempre -  de ter de justificar os seus atos perante o gerente ou ao faxineiro ou ao porteiro do prédio? Ou temos que, caso não seja manifestamente ilegal ou absurda, devemos acatar as suas determinações tão somente com base no valor de autoridade?

Todavia, peço mesmo o perdão por resvalar para este lado, qual seja, o que defender a necessidade da palmada, ou contrariamente, se fosse o caso, militar pela sua desnecessidade, pois debatê-lo sob a mira da proposta de sua criminalização significa justamente aceitar a sua legitimidade. Voltemos ao cerne da questão, isto é, àquilo que o governo e a imprensa escondem: sobre o direito dos pais de educarem seus filhos, pois a alternativa a esta estrutura é a do estado passar a tutelar a educação infantil.

Para tanto, convido o leitor a uma comparação de juízo de valor: o estado, que na figura do Sr Presidente da República, propõe a tipificação penal da palmadinha, alegando que a violência é o recurso de quem não tem autoridade ou não sabe argumentar, é o mesmo que nos estádios ou quaisquer aglomerações possui policiais armados de cassetetes.

Então eu pergunto: cadê a "moral" do estado?  Será que não possui capacidade de "argumentar" com a turba da "Fiel"? E porquê enfrentar bandidos com armas na mão? Será que não podemos simplesmente convencê-los de que cometeram um crime e que por isto eles devem se entregar espontaneamente?

Não me venham dizer que a comparação é absurda, que não é! A diferença entre os marginais ou entre as pessoas normalmente comuns mas que se exaltam quando em meio às massas, como são os torcedores, ou ainda, as crianças renitentes, é apenas de grau; em essência, ambos recusam-se a respeitar as regras e a autoridade.

Não é de hoje que a autoridade paterna vem sendo vilipendiada: isto tem acontecido há décadas, por meio das novelas e das músicas pop. Da mesma forma, as propostas de educação escolar transformaram os jovens estudantes em seres que tudo podem, a ponto de um professor não saber se vai entrar na sala para ensinar ou apanhar ou perder o emprego por "ofender" ou "traumatizar" um de seus pimpolhos que de tão mimados tornam-se perigosamente prepotentes.  

Curiosamente, no mesmo grau em que isto acontece, mais e mais se agiganta a violência pública, e mais e mais o estado se vale de porretes e fuzis para conter a população. Então, o que dóis mais? A palmadinha ou o cassetete?

Um comentário:

  1. Cuidado! Proibir de ver TV ou jogar vídeo-game vai causar trauma e humilhar a criança! Você vai acabar preso desse jeito!

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