Por João Bosco Leal
Sempre me disseram que a vida passa muito rapidamente, mas não sabia que era assim, tão rápido. Nem percebi, e agora, com cinqüenta e seis anos, dois filhos e quatro netos, percebo mais claramente, nos pequenos detalhes, como já estou na segunda metade da vida.
Não que não soubesse disso. É claro que uma pessoa com minha idade já passou da metade do que, cronologicamente, teria para viver. Mas não é em relação idade cronológica a que me refiro, e sim em relação às mudanças que estão ocorrendo à minha volta, que me fazem pensar em como já estou “passado”.
Quando criança, ou mesmo quando adolescente, nas escolas ou em casa, tínhamos regras e horários para brincar, estudar ou qualquer outra atividade. Todos se dirigiam aos mais velhos como “senhor”, independentemente do grau de conhecimento ou parentesco. Isso fazia com se mantivesse um determinado senso hierárquico, dentro ou fora de casa, que a meu ver ajudava muito na educação e formação do caráter dos jovens.
Desde o primário, todos ficavam de pé quando o professor entrava na sala de aula e só se sentavam quando este autorizava. Quarenta anos atrás eu frequentava aulas na faculdade de paletó e gravata exigência que só acabou em minha época, depois de muita cobrança do Diretório Acadêmico dos alunos daquela faculdade. Era um absurdo, num país com o nosso clima, mas era a regra, “em respeito aos mestres”.
Alguns anos depois, a “igualdade” tão sonhada pelas mulheres tirou-as de casa para o trabalho e as crianças passaram a ficar aos cuidados de avós, de babás ou de creches. Talvez por “culpa”, esses pais mais ausentes do convívio diário com os filhos, começaram a “ficar com dó” de repreender um filho mais rispidamente quando necessário, ou até de dar-lhes uma boa palmada, pois só viam os mesmos à noite e, então, como “recompensa” por sua ausência, eles começaram a “abrir concessões”, que não existiram na sua própria educação.
Atualmente, crianças e jovens não são cobrados por regras, horários e nem por respeito, seja com os seus, os próximos ou com estranhos. Passam o dia diante de uma televisão, um computador ou um jogo eletrônico qualquer, mas de estudar ou praticar esportes, nada. Tudo que os filhos fazem atualmente é “lindo”, porque é “novinho”, “ainda é jovem”, “a juventude é assim mesmo”, ou “com a idade isso passa”. As meninas dormem na casa dos namorados e vice versa, e tantas outras “diferenças” de meu tempo que não conseguiria resumir.
Penso que as consequências são visíveis em todas as camadas sociais. Têm sido muito frequente os casos de filhos que não respeitam os pais, chegando a agredi-los tanto oral como fisicamente, o mesmo ocorrendo entre alunos e professores. Não se vê mais respeito algum com nenhuma pessoa mais velha e nenhuma espécie de hierarquia social. Todos são “você”, “tio”, ou qualquer outra designação do gênero. Parece ser uma bobagem, a diferença entre chamar alguém de “você” ou “senhor”, mas aí começa a ser quebrada, para a criança, a diferença hierarquia que ela deveria entender haver, entre ela, seus pais e os mais velhos. Esta é a base da boa educação.
Agora, nova legislação aprovada no país proíbe qualquer tipo de repreensão física aos filhos, taxando de “crime”, uma bela palmada ou mesmo uma bela sova que nunca fez mal a ninguém da minha geração ou de todas as outras que nos antecederam nos milhares de anos. Será uma nova experiência na maneira de como se educar filhos e, por consequência, de se criar uma nova sociedade. No meu tempo, já “passado”, experiências eram feitas com animais, cobaias, e não com seres humanos, menos ainda com filhos.
Ainda bem que já não estarei aqui, pois não quero ver os resultados.
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