terça-feira, 27 de julho de 2010

Quem você financiaria?

Por Klauber Cristofen Pires

As ditaduras do "bem" são a cumbuca da concentração do poder. As pessoas, em geral, não compreendem que cada nova legislação, seja autêntica ou levada a efeito pela via administrativa, sempre vem a lume com segundas e inconfessáveis intenções.


Não raro recebo comentários de leitores que discordam quando denuncio os passos da Anvisa, do Inmetro, do Ministério do Trabalho ou de qualquer outro órgão do governo, ou ainda, as novas leis que são baixadas para interpolarem o estado em meio às relações que se situam no plano de competência das pessoas.

Quando trata-se de comentários insultosos, não tenham dúvida: deleto no ato, como quem mata uma barata! Entretanto, sinto-me na obrigação moral de publicar as opiniões discordantes, mesmo aquelas que se mostram mais indignadas.

Não as culpo integralmente, embora não lhes alivie em suas responsabilidades. Como uma vez proferiu o meu amigo Nivaldo Cordeiro de forma muito apropriada, talvez o único pecado que Deus não perdoa é a ignorância, especialmente a ignorância voluntária, e este "mandamento", digamos assim, se estende também coletivamente aos povos, como o nosso, que de tão frívolo, acabará por se submeter futuramente a alguma força estrangeira tecnologica e socialmente mais avançada e com um povo mais sério.

Para estas pessoas, repito: se tem uma ditadura que realmente me atemoriza, é a do bem. Quem quer falar dos nazistas? O canal The History Channel anda divulgando uma reportagem em que anuncia o neo-nazismo se reeeguendo das cinzas, mas tudo não passa de balela. Salvo meia dúzia de dois ou três drogados, absolutamente ninguém ousa caminhar com uma camisa coma a figura estampada de Hitler, ou com a suástica amarrada ao braço. Porém, sinais comunistas são amplamente aceitos, e até mesmo incentivados. E as tais camisas do Che, então...

As ditaduras do "bem" são a cumbuca da concentração do poder. As pessoas, em geral, não compreendem que cada nova legislação, seja autêntica ou levada a efeito pela via administrativa, sempre vem a lume com segundas e inconfessáveis intenções.

Toda a propaganda em favor do aborto nunca levou em conta a liberdade das mulheres, conquanto seja este o argumento apresentado pelos seus advogados. O que eles almejam é criar condições de controle populacional pelo estado, mediante artifícios de sanções e incentivos.

Da mesma forma, toda propaganda e ação por parte do governo para aumentar o currículo escolar  - mesmo se dando conta que os estudantes não estão aprendendo absolutamente nada, tanto é que são aprovados "na marra" - também obedece ao mesmo projeto de controle demográfico, pois visa a conduzir as mulheres ao casamento somente depois de formadas, o que hoje somente acontece amiúde por volta dos vinte e cinco anos. Considerando um lapso de tempo razoável para a conquista do primeiro emprego, a data provável para decidirem ter filhos se situa na faixa dos trinta anos, quando a fertilidade já se encontra deveras reduzida.

Toda a propaganda a favor do desarmamento civil jamais teve em vista a diminuição da criminalidade, mas, em primeiro lugar, abrir a porteira para que os bandidos e traficantes levem a população a um estado de desespero, propício para a deflagração de comoções e em seguida, o mais importante, impedir a revolta armada dos cidadãos perante a revolução socialista nos seus termos finais de implantação.

Toda propaganda em defesa do casamento gay tem em mira solapar os fundamentos do que se chama propriamente de "casamento", que foi criado justamente para se diferenciar de todas as perversões que reinavam no mundo antigo e que submetiam mulheres e crianças.

Toda propaganda contra a palmadinha visa apenas retirar o patrio-poder do pai e da mãe para transferir ao estado o monopólio da educação sobre os seus filhos. Jamais o bem-estar das crianças esteve na cabeça dos seus idealizadores. É por isto que reviro os olhos pra cima sempre que um néscio bem-intencionado vem falar sobre violência doméstica. Só uma pessoa tão ignorante do que se passa pode passar ao largo do tratamento carinhoso que o estado dispensa aos seus pupilos na FEBEM.

Dei os exemplo acima do que estava na ponta da língua. Há muito e muito mais.

As pessoas que aplaudem quando o governo decide impor uma dieta aos gordinhos, ou proibir de fumar, ou obrigar as firmas a guardarem uma cópia do CDC, ou ainda, proibir as palmadinhas, não levam em conta que tais parcelas de poder que vão sendo transferidas dos indivíduos para o estado podem depois ser usadas contra o que elas pensam ser certo, mas que o estado pode passar a considerar errado. Entretanto, quando elas se virem vítimas da opressão estatal, já lhes será tarde demais.

Ludwig von Mises declarou com muita precisão: estas pessoas aplaudem o estado forte a partir das suas próprias convicções: elas sempre acham que farão parte do grupo social que dita as normas, e não daquele grupo que é submetido; elas sempre acham que o estado vai impor aquelas mesmas regras que elas mesmas outorgariam se tivessem a autoridade para tal, mas nunca se dão conta de que podem um dia a ser o alvo da tirania.  

Para estas pessoas, eu transmito um dos raciocínios mais lúcidos que li de quem defende a sociedade livre, onde predomina a ausência de iniciação de força contra o vizinho, onde reina a confiança mútua e onde  impera o direito de propriedade: Hans-Hermann Hoppe. Seu argumento para estas pessoas é claro e límpido, na forma de uma pergunta: "- quem você financiaria"?

Colocando a sua questão em termos práticos: em uma sociedade livre e desburocratizada, uma empresa pode ocultar o fato de que utiliza gordura "trans" em seus alimentos. Todavia, qualquer concorrente, ou qualquer organização civil pode investigar e denunciar este fato. Pois, quem você, leitor, continuaria a financiar com o seu dinheiro, isto é no momento de decidir comprar ou mesmo doar o seu dinheiro para pesquisas?

Houve certa vez que uma determinada organização beneficente pediu o meu dinheiro para as suas atividades e eu disse um bom "não", após ter sabido que seus principais cabeças viviam nababescamente em uma ilha particular em Angra dos Reis. O estado, todavia, quando quer dinheiro para os seus fins, não me pede: ele me revira de cabeça pra baixo até cair algum trocado e me põe na cadeia se eu lhe resistir. Agora pergunto, caro leitor inconformado: você prefere financiar o estado que lhe toma os recursos à força e se auto-dispensa de prestar contas dos seus atos ou prefere financiar uma entidade séria e idônea, que depende permanentemente do seu julgamento?

Portanto, caro leitor indignado com os meus arroubos libertários, tenha em boa conta que não olvido que empresas e indivíduos maus poderiam aparecer em um cenário de uma sociedade livre: todavia, nesta mesma sociedade livre, eles podem ser desmascarados e serem obrigados a abandonar seus malfeitos por falta de patrocínio... Ou você continuaria a lhes financiar as atividades?

Um comentário:

  1. O problema vem de muito antes: leis trabalhistas, lei de aposentadoria, saúde pública (gratuita ou não)... Tudo tem na sua raiz tomar à força riqueza de quem nem sempre está disposto a contribuir. Posso ter o desejo de não me aposentar, mas sou OBRIGADO pelo Estado a recolher para isso. Posso querer tratar da minha saúde com o meu próprio dinheiro, e não dá-lo de mão beijada para o Estado gastar do jeito que achar melhor. Mas para tudo isso o dinheiro me é tomado à força. A partir daí, se o governo aperta o cerco contra os gordos, acabo tendo que concordar, para que o dinheiro que me tomaram não seja gasto com quem cria problemas para si mesmo não sabendo fechar a boca, e depois vai gastar o meu dinheiro para fazer cirurgia para redução de estômago. Que aliás, é a prova de que se comesse pouco, como a redução de estômago OBRIGA, o sujeito emagreceria. Não adianta lutar contra esses erros conseqüentes dos erros primordiais, se os primordiais continuam intactos. Temos que derrubá-los também.

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