“Conhece-te a ti mesmo, não pretendas escutar Deus, o estudo que convém à Humanidade é o homem. Colocado neste istmo de um estado intermediário, um ser obscuramente sábio, e rudemente grande, com demasiado conhecimento para o lado dos céticos, com demasiada franqueza para o valor dos estoicos, ele oscila entre ambos; em dúvida se há de agir ou descansar; em dúvida se se julgar um deus ou uma fera, em dúvida se prefere seu corpo ou sua mente; nasce só para morrer, raciocina só para errar... O estudo que convém à Humanidade é o Homem... Único juiz da Verdade, em infindáveis erros tropeça, é a glória, o ridículo e o enigma do mundo!” (POPE)
No trato da vida, escreveu um jornalista inglês, o filósofo tem seu lugar reservado nos balcões, donde observa de longe o cenário da peça representada no palco. É possível que esta posição exteriorizada o capacite a fazer julgamentos adequados sobre tudo aquilo.
Aqueles que se sentam nos balcões ante a Exibição Passageira deste Mundo tem uma visão mais aproximada do que aqueles que se sentam na galeria, mas necessariamente não têm um conceito real da representação. O misterioso sentido da vida nada significa para nós. Não queremos que esse problema penetre em nossa consciência. Preferimos deixar essa investigação aos velhos caducos que gostam de filosofar ou aos incrédulos párocos.
A busca da Verdade aborrece os homens. O que devia representar para nós um objetivo atraente se tornou em nossos dias um interesse inconfessável, assunto de conversão inadmissível na polida sociedade. Deus escreve Sua mensagem na face do nosso redondo planeta, mas o homem cego é incapaz de ler essa mensagem. Uns poucos, tendo vista, a interpretam para os outros.
Contudo, a massa humana ri cinicamente dos seus esforços e só os poucos intuitivos entre os espíritos cultos e inteligentes e algumas almas singelas entre os operários e camponeses, recebem essa mensagem e a retribuem na afeição aos mensageiros.
Não se deve estranhar, portanto que a história contemporânea seja uma longa sequência de tragédias e lágrimas; aliás a história completa da humanidade não é uma tragédia nem uma comédia: não cai nenhuma cortina nem nenhum fim.
As pessoas, pequenas personalidades estão totalmente absolvidas com a importância das nossas lutas e aspirações ou vitórias e derrotas. Somos escravos dos nossos bens materiais e nos apoquentamos e afligimos por causa deles. Não podemos evitá-los, pois somos humanos.
Entretanto, a Esfinge, erguendo-se das areias do Egito e comtemplando a raça dos homens mortais, sorri... sorri e sorri. Bertrand Russel, um pessimista de fé, escreveu: “Que o homem é o produto de causas que não tinham qualquer previsão do fim que realizavam; que sua origem, seu crescimento, suas esperanças e seus temores, amores e crenças são consequências de combinações fortuitas de átomos; que nenhum fogo, nenhum heroísmo, nenhuma intensidade do pensamento e sentimento pode preservar a vida individual além do túmulo; que todos os trabalhos dos séculos, toda a devoção, toda a inspiração, todo o brilho fulgurante do gênio humano estão destinados a extinguir-se na vasta imensidão do sistema solar... Todas estas coisas, se não estão totalmente além de controvérsias, estão, no entanto tão perto da verdade, que nenhuma filosofia que as rejeite pode subsistir.”
Para aceitar esta e outras filosofias devemos, porém, antes de tudo, nos libertar da ilusão de que nossa personalidade tem proporções exata e ideia clara quanto à consciência. Primeiramente, temos de criar em nós uma humildade sincera se queremos nos aproximar da Verdade que nos liberta.
Como o inteligente Descartes, devemo-nos pôr no mesmo estado mental que estava quando ele escrevia numa de suas obras: “Percebi que, desde a minha infância, tomei uma porção de coisas por verdadeiras, que hoje considero falsas; não tenho motivo para supor que nada seja mais certo do que a minha conclusão; provavelmente tudo o que pensei e em que acreditei era falso.
O que então pode ser estimado como verdadeiro? Talvez uma coisa... nada no mundo é certo...”. O grande filósofo alemão Kant disse que havia, entre todas as maravilhas da criação de Deus, duas que deixavam para trás as outras: uma é acima de nós – a imensidão dos céus estrelados; a outra, dentro de nós – o espírito do homem. Embora as conquistas da ciência sejam tão prodigiosas no mundo exterior, neste século podemos esperar descobertas ainda maiores no campo da Psicologia.
O homem recuará estupefato quando compreender, enfim, o misterioso processo que se desenrola dentre dos seus hemisférios cranianos.
Àqueles que brincam com a liberdade e o livre arbítrio deveriam saber que mesmo que tivéssemos estudado toda a literatura e exumado todos os antigos papiros, não encontraríamos o preceito mais sábio do que o oráculo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo”, e o que exortavam os rischis da Índia: “Busca em teu Interior”.
Embora sejam palavras mais antigas do que as múmias do Museu Britânico, poderiam ter sido escritas num computador de um pensador contemporâneo. Os séculos jamais poderão matar a Verdade e o primeiro homem que a proferiu fará ressoar o eco ininterrupto até o fim dos tempos, apesar dos poderosos e castradores da liberdade.
Um sofista, aproximando-se um dia de um sábio da Grécia antiga, queria confundi-lo com perguntas embaraçosas; mas Mileto mostrou-se à altura da prova e respondeu a todas as perguntas sem vacilar, com a maior exatidão.
Eis as perguntas:
1. Qual é a coisa mais antiga? Deus – porque sempre existiu.
2. Qual é a coisa mais bela? O Universo – porque é a obra de Deus.
3. Qual das coisas é a maior? O Espaço – porque contém tudo o que foi criado.
4. Qual é a coisa mais constante? A Esperança – porque perdura no homem, mesmo depois de ter ele perdido tudo.
5. Qual é a melhor das coisas? A Virtude porque sem ela nada pode ser bom.
6. Qual a mais rápida de todas as coisas? O Pensamento – porque em menos de segundo percorre o Universo.
7. Qual é a mais forte de todas as coisas? A Necessidade – porque faz o homem enfrentar todos os perigos da vida.
8. Qual das coisas é a mais fácil de fazer? Dar conselhos.
Porém, quando chegou a nona pergunta, o sábio deu a resposta paradoxal, cujo sentido profundo – tenho certeza – jamais foi compreendido pelo interlocutor imbuído do saber intelectual, bem como para a maioria das pessoas terá apenas um sentido superficial.
A pergunta foi esta: - Qual das coisas é a mais difícil de realizar? E o sábio milésio respondeu: “Conhecer-se a si mesmo.” Esta foi à mensagem dos sábios dirigida aos homens ignorantes pelos antigos sábios; esta é também a mensagem da nossa época, para o nosso Brasil.
A parábola cristã do Filho Pródigo tem um significado tanto mundial como individual. Quando os povos se cansarem de suas intermináveis perturbações, por eles próprios criadas, batidos pelos seus monstros frankenstaineanos das guerras cientificamente empreendidas, dos massacres das massas e das desastrosas imposições econômicas que revelam sua falta de boa vontade, eles volverão seus rostos para a casa paterna e encetarão a viagem de volta para uma vida melhor.
Armando Soares – economista
e-mail: teixeira.soares@uol.com.br
A meta única do sábio, que só conhece uma certeza: a morte física.
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