ESPAÇO CULTURAL LIBERTATUM.
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Bruno Tolentino
Bruno Lúcio de Carvalho Tolentino (Rio de Janeiro,
12 de novembro de 1940 — São Paulo, 27 de junho de 2007) foi um poeta
brasileiro. Nascido numa tradicional e rica família carioca, conviveu desde
criança com intelectuais e escritores, entre eles Cecília Meireles, Manuel
Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto. Foi ensinado a
falar francês e inglês antes mesmo de se alfabetizar no português.
Seu avô foi
conselheiro do Império e fundador da Caixa Econômica Federal. Saiu do Brasil em
1964, mudando-se para a Europa, onde viveu por mais de 30 anos, tendo
trabalhado com o poeta inglês W. H. Auden, e convivido com os escritores
Giuseppe Ungaretti, Elizabeth Bishop e Samuel Beckett. Foi professor nas
universidades de Oxford, Essex e Bristol, publicando obras em Paris e Oxford
durante a década de 1970. Em 1987, é condenado à prisão de 11 anos, sob a
acusação de tráfico de drogas. Cumpriu 22 meses da pena em Dartmoor.
Tolentino retornou ao Brasil em 1993, publicando,
em 1994, o livro "As Horas de Katarina", pelo qual recebeu o Prêmio
Jabuti de Literatura. Bruno também recebeu o prêmio em 2003, com o livro
"O Mundo como Idéia", o qual escreveu ao longo de 40 anos.
No Brasil, o poeta teve um histórico de aparições
na mídia devido a polêmicas. Numa entrevista a Revista Veja, em 1996, criticou
Caetano Veloso, Chico Buarque e os irmãos concretistas Haroldo de Campos e
Augusto de Campos. Teve também desavenças com críticos literários e professores
de filosofia da Universidade de São Paulo.
Tolentino, que tinha Aids e já havia superado um
câncer, esteve internado durante um mês na Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, onde veio a falecer, aos 66 anos de
idade, vitimado por uma falência múltipla de órgãos, em 27 de junho de 2007.
Nota de Libertatum.
Bruno Tolentino foi um poeta extraordinário. Para mim, sem dúvida, um dos cinco maiores poetas da língua portuguesa, e o maior poeta contemporâneo do Brasil. Bruno não era um artista engajado, um falastrão politicamente correto. Antes pelo contrário. Atirava acido sulfúrico e napalm transvestidos nas muitas verdades que dizia na cara dos intelectuais esquerdistas e showzeiros intelectualóides incensados como gênios pelos acadêmicos bocós. Por isso era detestado pela mídia socialista, e ainda hoje, sua obra é ausente dos templos marxistas brasileiros, as universidades.Quem perdeu e segue perdendo? O Brasil, que oPTou por Zeca Tatu e Marilena Chaui...
Felizmente, o território livre - ainda - da internet possui muitas referências sobre a vida e a obra de Bruno Tolentino disponibilizadas a quem se interessar por ele e sua vida de artista singular. Dentre as homenagens prestadas a Bruno Tolentino e disponibilizadas na internet encontra-se a do Filósofo Olavo de Carvalho em seu site Sapietiam Autem Non Vincit Malicia.
Bruno Tolentino lapidava com esmero de grande artista a poesia clássica, tinha imensa formação cultural, lecionou literatura no exterior, e foi muito admirado e elogiado por grandes nomes da literatura internacional, sobretudo grandes poetas.
Ao perder uma namorada que morreu ao cair acidentalmente no fosso de um elevador, Bruno escreveu um poema em que, transtornado pela dor, chega a duvidar da onisciência divina. "O Divino Assassino", escrito em Terza Rima, é o nome dessa obra prima de Bruno Tolentino.
Bruno Tolentino era um católico fervoroso, místico. Na estreia de Espaço Cultural Libertatum pulicamos, abaixo, em sintonia com a data natalina, o seu poema O Anjo Anunciador.
Ivan Lima.
— Ouve, Maria, a nossa
(não, não te assustes!) é uma luminosa
tarefa: retecer
o pequeno clarão que abandonaram,
o lume que anda oculto pela treva!
Porque irás conceber!
Porque a mão, desejosa
e tosca, que O tentara
reter, ainda que leve,
desfez-se ao toque, assim como uma vez
tocado o sopro se desfaz a avara,
a dura contração do peito ansiado...
Mas a haste, o jasmim despetalado,
é tudo o que ainda resta
dos canteiros do céu aqui na terra,
que um seco vento cresta
e uma longa agonia dilacera.
No entanto a morte há de morrer se tu quiseres,
ó gota concebida
bendita entre as mulheres
para que houvesse vida
outra vez, e nascesse desse fundo
obscuro do mundo,
o ninho incompreensível do teu ventre.
Não, não toques ainda
nem a fímbria do manto nem o centro
do mistério que anima a tua túnica:
aguarda, ó muito séria, a ave mansa
e recebe em teu corpo de criança
a Verônica única,
a enxurrada de pétalas te abrindo.
Em tumulto reunidas,
as cores da perdida Primavera
vão retornar, virão
numa enchente de asas, aluvião,
púrpura, sempre-viva, nascitura
estranheza do amor da criatura,
constelação descendo ao rosto teu:
é Ele, é O que reúne o coração
e o grande anel da esfera,
o fogo, a língua ardendo, o incêndio vivo,
a coluna de luz, o capitel que se perdeu...
Que eu
venho anunciar apenas a um esquivo,
humílimo veludo, a frágil chama
que há de crescer em ti, que hás de ser cama
ao parto do Perfeito, e hás de ser cântaro
e fonte e ânfora e água,
hás de ser lago
em que as sombras se afogam, que naufragam
no imenso, ó jovem branca como um lenço;
hás de conter a lágrima
do Infinito, o Seu vulto
e os tumultos da luz na travessia
entre a dádiva, a perda e a renúncia:
quando de um certo dia
cheio de luz amarga
em que serás enfim a sombra esguia
que O deu à luz e que O assistiu morrer...
Atravessa, ó Maria,
os abismos do ser,
ouve este estranho anúncio
e deixa-te invadir para colher,
mais fundo que a razão
e o corpo, o sopro cálido, o prenúncio
da mais viva alegria:
entreabre-te ao clarão
da visita suave,
mas terrível, terrível, deixa a ave
do imenso sacrifício te ofender.
Ó pétala intocada,
hás de sofrer
intensa madrugada
e num lago de luz como afogada
hás de durar suspensa
entre a graça imortal e a dor imensa.
Mas canta, canta agora
como a fonte borbulha, como a agulha
atravessa o bordado,
canta como essa luz pousa ao teu lado
e te penetra e tece a nova aurora,
a nova Primavera e a tessitura
do ramo que obedece e se oferece
para o mistério e pela criatura.
Canta a alucinação,
o toque enfim possível dessa mão
que há de colher para perder e ter
o infinito que nasce do deserto
e a semente que morre se socorre
tudo o que no estertor tentava ser.
Canta a canção do lírio e do alecrim,
essa canção que és e que na treva,
na escuridão da carne, andava perto
da imensidade que te invade. E assim
como o imenso te ampara,
ó voz tão clara
que consolas e elevas,
vem, desperta,
matriz da eternidade e d'O sem-fim,
ó mãe de Deus, canta e roga por mim
(não, não te assustes!) é uma luminosa
tarefa: retecer
o pequeno clarão que abandonaram,
o lume que anda oculto pela treva!
Porque irás conceber!
Porque a mão, desejosa
e tosca, que O tentara
reter, ainda que leve,
desfez-se ao toque, assim como uma vez
tocado o sopro se desfaz a avara,
a dura contração do peito ansiado...
Mas a haste, o jasmim despetalado,
é tudo o que ainda resta
dos canteiros do céu aqui na terra,
que um seco vento cresta
e uma longa agonia dilacera.
No entanto a morte há de morrer se tu quiseres,
ó gota concebida
bendita entre as mulheres
para que houvesse vida
outra vez, e nascesse desse fundo
obscuro do mundo,
o ninho incompreensível do teu ventre.
Não, não toques ainda
nem a fímbria do manto nem o centro
do mistério que anima a tua túnica:
aguarda, ó muito séria, a ave mansa
e recebe em teu corpo de criança
a Verônica única,
a enxurrada de pétalas te abrindo.
Em tumulto reunidas,
as cores da perdida Primavera
vão retornar, virão
numa enchente de asas, aluvião,
púrpura, sempre-viva, nascitura
estranheza do amor da criatura,
constelação descendo ao rosto teu:
é Ele, é O que reúne o coração
e o grande anel da esfera,
o fogo, a língua ardendo, o incêndio vivo,
a coluna de luz, o capitel que se perdeu...
Que eu
venho anunciar apenas a um esquivo,
humílimo veludo, a frágil chama
que há de crescer em ti, que hás de ser cama
ao parto do Perfeito, e hás de ser cântaro
e fonte e ânfora e água,
hás de ser lago
em que as sombras se afogam, que naufragam
no imenso, ó jovem branca como um lenço;
hás de conter a lágrima
do Infinito, o Seu vulto
e os tumultos da luz na travessia
entre a dádiva, a perda e a renúncia:
quando de um certo dia
cheio de luz amarga
em que serás enfim a sombra esguia
que O deu à luz e que O assistiu morrer...
Atravessa, ó Maria,
os abismos do ser,
ouve este estranho anúncio
e deixa-te invadir para colher,
mais fundo que a razão
e o corpo, o sopro cálido, o prenúncio
da mais viva alegria:
entreabre-te ao clarão
da visita suave,
mas terrível, terrível, deixa a ave
do imenso sacrifício te ofender.
Ó pétala intocada,
hás de sofrer
intensa madrugada
e num lago de luz como afogada
hás de durar suspensa
entre a graça imortal e a dor imensa.
Mas canta, canta agora
como a fonte borbulha, como a agulha
atravessa o bordado,
canta como essa luz pousa ao teu lado
e te penetra e tece a nova aurora,
a nova Primavera e a tessitura
do ramo que obedece e se oferece
para o mistério e pela criatura.
Canta a alucinação,
o toque enfim possível dessa mão
que há de colher para perder e ter
o infinito que nasce do deserto
e a semente que morre se socorre
tudo o que no estertor tentava ser.
Canta a canção do lírio e do alecrim,
essa canção que és e que na treva,
na escuridão da carne, andava perto
da imensidade que te invade. E assim
como o imenso te ampara,
ó voz tão clara
que consolas e elevas,
vem, desperta,
matriz da eternidade e d'O sem-fim,
ó mãe de Deus, canta e roga por mim
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