terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Os professores contra o mercado




Autor Flavio Morgenstern

Tradutor, redator, e analista de mídia.

Não há que se duvidar que as pessoas adquirem sua ojeriza brutal pelo mercado principalmente a partir das aulas de História, Geografia e outros estudos sociais a partir do ensino médio.
Useiros e vezeiros de um vocabulário de aparência científica, mas na verdade ideológico a ponto de servir como um cabresto, os jovens entram na faculdade com uma opinião sobre o mundo, e não mudam tal opinião até se formarem.

Curiosamente, costumam acreditarem-se “críticos”, justamente por repetirem sem nenhuma crítica um discurso pronto. E raramente notam que, afinal, têm a mesma opinião desde a tenra adolescência, fugindo e escapando de estudos contrários à sua crença.
Certos professores costumam ser vistos desde cedo como espécies de oráculos e exemplos a serem seguidos e obedecidos. Além do velho e falso discurso sobre a “exploração” capitalista, costumam pautar suas aulas sobre uma crítica da “desigualdade” provocada pelo livre mercado, que precisaria ser “corrigida” pelo Estado.

Recentemente, um concurso público ofereceu vagas para ensino fundamental completo, oferecendo um salário para professores pouco maior do que o salário para operador de empilhadeira (ensino fundamental completo). Sem perceber, esse é exatamente o modelo de gestão que os professores que visam tanto acabar com a desigualdade defendem.

Um mundo sem desigualdade é um mundo em que alguém que faça um trabalho que não exija instrução receba o mesmo que alguém que tenha uma profissão “importante”, no sentido de exigir muito estudo (um médico, um professor, um engenheiro). Qualquer plano de carreira mínimo imediatamente criará uma pequena desigualdade que, através de contas simples com juros compostos, criará um fosso intransponível entre aqueles no topo da carreira e os que não galgaram todos os níveis – que dirá a sorte para os filhos de cada um, e assim por diante.

Por isso, Robert Nozick, quando critica a Teoria da Justiça de John Rawls em Anarquia, Estado e Utopia, define que muito mais importante do que saber qual a “faixa salarial” mínima de uma sociedade, é saber quem receberá o dinheiro. Os produtores de riquezas e bens intelectuais não podem receber menos do que os destruidores. É quase instintivo perceber que um médico deve ganhar mais do que um auxiliar em começo de carreira. Que um engenheiro deve ter seu esforço recompensado, podendo ganhar mais do que um entregador de pizza.

Ou que um professor deve receber mais do que um operador de empilhadeira. E é exatamente nesse ponto em que alguns dos próprios professores pregam uma situação nociva a eles próprios através de um discurso platiforme sobre “desigualdade”, sem atentar para as consequências inescapáveis de tentar diminuí-la à força (ou seja, com o Estado “corrigindo” o mercado, que tende sempre a recompensar o esforço e a qualidade do trabalho).

Ora, é claro que queremos uma sociedade com mais engenheiros do que entregadores de pizza. Porém, não se nasce engenheiro, e pode-se ter trabalhos mais simples quando se é mais jovem apenas para se adquirir experiência – ou mesmo trabalhos para jovens mesmo, como os famosos entregadores de jornais americanos, que apenas lhes deem um substituto à mesada, e algumas noções sobre responsabilidade que são o exato oposto de um “sub trabalho”.

Porém, recompensar o professor, o engenheiro, o médico é, justamente, defender a “desigualdade”. Apesar de a palavra ser feia (o prefixo des- já passa uma errônea interpretação de que a igualdade veio antes, e é necessariamente vantajosa), é justamente o que os professores querem: ora, sendo uma profissão “importante”, que define os rumos dos jovens e fazem a ensinança das crianças, parece justo que sejam mais recompensados do que ladrões, corruptos, agiotas – ou mesmo do que a tia que faz pastel na cantina ou na feira, que não teve instrução e tem um trabalho tão repetitivo.

Aí se vê que, muitas vezes, o trabalho “sem instrução” da tia do pastel é, apesar de tudo, bem recompensado – afinal, pastel é gostoso, e vende bem. Às vezes, mais do que aulas. E como um professor aceitaria com facilidade que ele, o instruído, receba apenas pouco mais, ou quiçá até menos, do que “a tia do pastel”?
É preciso entender que o mercado recompensa boas ideias lucrativas – sejam elas telefones celulares com câmeras e joguinhos 4D ou pastéis bem feitos. E é justamente essa a vantagem do odiado mercado: independente de um planejamento central e de uma economia de comando ou intervencionista, todos podem aproveitar os seus talentos e lucrarem com ele – desde que saibam que nem todos os talentos ou ideias são lucrativos (os arcanos talentos para ler runas élficas ou ser vice-campeão interquarteirões de Super Mario Kart ainda são pouco recompensados em nossa injusta e impiedosa sociedade).

Em uma economia planificada, a “igualdade” é, obrigatoriamente, apenas um achatamento dos vencimentos que o Estado devolve a cada indivíduo – e, obviamente, arredondados para baixo. Muito para baixo.
E, na hora que veem o que isso significa na prática, poucos são os professores de viés anti-mercado que aceitam perceber como é a vida longe de uma privilegiada profissão de “respeito”, e notar como é a vida sem “desigualdade”.

Infelizmente, essa é uma das muitas relações de causa e efeito que dificilmente consegue ser explicada a mentes já doutrinadas por uma ideologia que contamina os próprios signos linguísticos (e não apenas os conceitos e idéias) - ideologia dificilmente medicável mesmo depois de quilométricos tratados que já circularam mundo afora, e nunca passam sequer perto da religião acadêmica do estatismo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá! Seja benvindo! Se você deseja comunicar-se, use o formulário de contato, no alto do blog. Não seja mal-educado.