Os professores contra o mercado
Autor Flavio Morgenstern
Tradutor, redator, e analista de mídia.
Não há que se duvidar que
as pessoas adquirem sua ojeriza brutal pelo mercado principalmente a partir das
aulas de História, Geografia e outros estudos sociais a partir do ensino médio.
Useiros
e vezeiros de um vocabulário de aparência científica, mas na verdade ideológico
a ponto de servir como um cabresto, os jovens entram na faculdade com uma
opinião sobre o mundo, e não mudam tal opinião até se formarem.
Curiosamente,
costumam acreditarem-se “críticos”, justamente por repetirem sem nenhuma crítica um discurso
pronto. E raramente notam que, afinal, têm a mesma opinião desde a tenra
adolescência, fugindo e escapando de estudos contrários à sua crença.
Certos
professores costumam ser vistos desde cedo como espécies de oráculos e exemplos
a serem seguidos e obedecidos. Além do velho e falso discurso sobre a “exploração”
capitalista, costumam pautar suas aulas sobre uma crítica da
“desigualdade” provocada pelo livre mercado, que precisaria ser “corrigida”
pelo Estado.
Recentemente,
um concurso público ofereceu vagas para ensino fundamental completo, oferecendo
um salário para professores pouco maior do que o salário para operador de
empilhadeira (ensino fundamental completo). Sem perceber, esse é exatamente o
modelo de gestão que os professores que visam tanto acabar com a desigualdade
defendem.
Um
mundo sem desigualdade é um mundo em que alguém que faça um trabalho que não
exija instrução receba o mesmo que alguém que tenha uma profissão “importante”,
no sentido de exigir muito estudo (um médico, um professor, um engenheiro).
Qualquer plano de carreira mínimo imediatamente criará uma pequena desigualdade
que, através de contas simples com juros compostos, criará um fosso
intransponível entre aqueles no topo da carreira e os que não galgaram todos os
níveis – que dirá a sorte para os filhos de cada um, e assim por diante.
Por
isso, Robert Nozick, quando critica a Teoria da Justiça de John Rawls em Anarquia,
Estado e Utopia, define que muito mais importante do que saber qual
a “faixa salarial” mínima de uma sociedade, é saber quem receberá
o dinheiro. Os produtores de riquezas e bens intelectuais não podem receber
menos do que os destruidores. É quase instintivo perceber que um médico deve
ganhar mais do que um auxiliar em começo de carreira. Que um engenheiro deve
ter seu esforço recompensado, podendo ganhar mais do que um entregador de
pizza.
Ou
que um professor deve receber mais do que um operador de empilhadeira. E é
exatamente nesse ponto em que alguns dos próprios professores pregam uma
situação nociva a eles próprios através de um discurso platiforme sobre
“desigualdade”, sem atentar para as consequências inescapáveis de tentar
diminuí-la à força (ou seja, com o Estado “corrigindo” o mercado, que tende
sempre a recompensar o esforço e a qualidade do trabalho).
Ora,
é claro que queremos uma sociedade com mais engenheiros do que entregadores de
pizza. Porém, não se nasce engenheiro, e pode-se ter trabalhos mais simples
quando se é mais jovem apenas para se adquirir experiência – ou mesmo trabalhos
para jovens mesmo, como os famosos
entregadores de jornais americanos, que apenas lhes deem um substituto à
mesada, e algumas noções sobre responsabilidade que são o exato oposto de um
“sub trabalho”.
Porém,
recompensar o professor, o engenheiro, o médico é, justamente, defender a
“desigualdade”. Apesar de a palavra ser feia (o prefixo des- já passa uma errônea
interpretação de que a igualdade veio antes,
e é necessariamente vantajosa), é justamente o que os professores querem: ora,
sendo uma profissão “importante”, que define os rumos dos jovens e fazem a
ensinança das crianças, parece justo que sejam mais recompensados do que
ladrões, corruptos, agiotas – ou mesmo do que a tia que faz pastel na cantina
ou na feira, que não teve instrução e tem um trabalho tão repetitivo.
Aí
se vê que, muitas vezes, o trabalho “sem instrução” da tia do pastel é, apesar
de tudo, bem recompensado – afinal, pastel é gostoso, e vende bem. Às vezes,
mais do que aulas. E como um professor aceitaria com facilidade que ele, o
instruído, receba apenas pouco mais, ou quiçá até menos, do que “a tia do
pastel”?
É
preciso entender que o mercado recompensa boas ideias lucrativas – sejam elas
telefones celulares com câmeras e joguinhos 4D ou pastéis bem feitos. E é
justamente essa a vantagem do odiado mercado: independente de um planejamento
central e de uma economia de comando ou intervencionista, todos podem
aproveitar os seus talentos e lucrarem com ele – desde que saibam que nem todos
os talentos ou ideias são lucrativos (os arcanos talentos para ler runas
élficas ou ser vice-campeão interquarteirões de Super Mario Kart ainda são
pouco recompensados em nossa injusta e impiedosa sociedade).
Em
uma economia planificada, a “igualdade” é, obrigatoriamente, apenas um
achatamento dos vencimentos que o Estado devolve a cada indivíduo – e,
obviamente, arredondados para baixo. Muito para baixo.
E,
na hora que veem o que isso significa na prática, poucos são os professores de
viés anti-mercado que aceitam perceber como é a vida longe de uma privilegiada
profissão de “respeito”, e notar como é a vida sem “desigualdade”.
Infelizmente,
essa é uma das muitas relações de causa e efeito que dificilmente consegue ser
explicada a mentes já doutrinadas por uma ideologia que contamina os próprios
signos linguísticos (e não apenas os conceitos e idéias) - ideologia
dificilmente medicável mesmo depois de quilométricos tratados que já circularam
mundo afora, e nunca passam sequer perto da religião acadêmica do estatismo.
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