Política errática: Governo pipoca faculdades e depois as extingue. Quem paga?
Por Klauber Cristofen
Pires
Os últimos “investimentos”
do governo do PT na área da educação têm sido o corte de milhares
de vagas dos mais diversos cursos, alegadamente por má qualidade dos
mesmos. Segundo o divulgado pela Agência Brasil, os cortes deverão
atingir mais de 50 mil vagas.
Não tarda aos articulistas
de opinião da mídia chapa-branca aplaudirem as medidas, se já não
o têm feito, alegando haver nisto um zelo de um governo comprometido
com a questão da educação e com o bom uso do dinheiro público.
Como diz o ditado, a cada manhã pelo menos um otário decide tirar
os pés da cama.
Contudo, o histórico de um
ministro famoso pelo seu empenho empenho em sabotar o uso da língua
culta e implementar o kit gay não combina de jeito nenhum com tal
perspectiva. A verdade, inconveniente que é, deu suas caras nas
manchetes de pessoas mortas em hospitais públicos por erros
grosseiros nos procedimentos efetuados por pessoas brindadas com um
diploma sem que tivessem adquirido um mínimo de conhecimento. Não
foi por outro motivo o que fez a burocracia palaciana partir para um
plano de gerência de danos.
O fato é que a gestão
populista Lula-Dilma/Haddad criou fábricas de diplomas pelo Brasil
inteiro feito pipoca estourando na panela, e deixou-a queimar! Foi o
tempo da “universidade para todos”, um festival de subsídios
liberados sem nenhum critério para que qualquer um que no caminho da
padaria passasse desavisado em frente a uma faculdade particular
acabasse ganhando um diploma.
O PT sempre foi extremamente
hábil em manipular as fraquezas humanas: a criação de milhares de
diplomas de bacharelado sem que o mercado tivesse a mínima condição
de absorvê-los foi a fórmula que uniu o tino demagógico de Lula e
de sua sigla com os anseios não poucas vezes meramente vaidosos de
uma massa de indivíduos ressentidos com a ignorância que
voluntariamente têm adotado para si.
Quem se dispuser a
quantificar o volume de recursos públicos destinados a cobrir
tamanha orgia eleitoreira haverá de encontrar uma boa razão pela
qual nossas estradas estão despedaçadas, a segurança um caos e a
própria educação uma das piores do mundo.
Enquanto isto, milhares de
pessoas estão aí com seu canudo na mão – boa parte ainda iludida
– sem perceber que desperdiçaram quatro ou cinco anos de suas
vidas em um empreendimento fadado ao fracasso, por falta de
informações confiáveis que lhes permitissem um planejamento mais
concreto para suas vidas. E o pior: muitas delas com uma enorme
dívida a pagar, contraída do FIES.
Não há a menor necessidade
de que “todos” tenham educação de nível superior pelo só fato
de que apenas uma pequena parcela da população, constituída pela
sua elite intelectual, é que há de explorar as fronteiras do
conhecimento. Isto não é uma questão de preconceito. É a
realidade da vida.
O caso do Brasil não
constitui uma exceção, porquanto o espalhamento do acesso ao nível
superior resultou na queda do nível do ensino, de modo que na
prática acabou se formando em uma espécie de continuação de um
segundo grau profissionalizante. A rigor, quem sai das faculdades
brasileiras não pode ser chamado de bacharel, mas antes, de um
operário qualificado – se muito.
O ensino em uma sociedade
estatizada
Em uma sociedade onde a
educação é tornada completamente refém do estado, o ensino serve,
terciariamente ou em último lugar, para a obtenção de uma
permissão para trabalhar; secundariamente, para o atingimento de
metas de políticas públicas diversas (por exemplo, para conter a
taxa de natalidade), e prioritariamente, para a doutrinação dos
cidadãos segundo a ideologia estatista, de modo a cumprirem
fielmente os regulamentos governamentais sem questioná-los.
Façamos do curso de Direito
o nosso exemplar estudo de caso: Até o início do século XX, esta
atividade podia muito bem ser realizada por um indivíduo desprovido
do diploma de curso superior. Há inúmeros casos de processos muito
bem conduzidos pelos então “rábulas”.
Na verdade, a advocacia
podia ser exercida até mesmo pelo cidadão comum, em defesa própria.
Ora, então a lei não foi feita para ser cumprida por todo e
qualquer cidadão? Se foi – e no início era assim – todo
indivíduo tinha conhecimento dela, senão especificamente, mas pelo
menos de acordo com um sistema jurídico cujos princípios, baseados
majoritariamente no direito natural, eram facilmente assimiláveis
por qualquer pessoa.
Foi um movimento
corporativista, em busca da reserva de mercado, à maneira das
guildas, cuja origem remonta às gangues mafiosas do Império Romano,
o que fez com que o Instituto dos Advogados do Brasil viesse a se
consolidar como uma autarquia, e que, uma vez tendo conquistado
tamanho poder, passasse a estipular dificuldades cada vez maiores
para o ingresso na carreira, começando pela exigência do curso de
nível superior, aumentando gradativamente a grade curricular, depois
criando a prova para o exame de ordem e por fim, usando-a como um
instrumento de filtragem para a admissão de um número irrisório de
candidatos. Ah, e claro, apoiando a complicação das leis com base
na doutrina estatista-positivista.
Pari passu, o sócio
desta organização, isto é, o estado, viu-se na oportunidade de
inserir na grade curricular uma série de disciplinas absolutamente
desnecessárias para a formação de um advogado, mas convenientes
para a sua formação como um agente transformador da sociedade, ou
para o mero fim de dar emprego a algumas outras profissões cujos
cursos de nível superior também foram criados pelo próprio com
finalidades políticas.
A educação em uma
sociedade livre
O que vou expor agora não
se trata de utopia: já foi a própria realidade de um efervescente
mundo cujas ideias liberais nem sequer chegaram a ser conhecidas ou
aplicadas em sua plenitude, como nos ensina o filósofo economista
Ludwig von Mises, mas que operaram a maior revolução benfazeja da
história da humanidade.
Entre os séculos XVI e XIX,
já havia várias faculdades e universidades – aliás, estas foram
inventadas justamente pela iniciativa privada. Porém, havia uma
crucial diferença: era o conhecimento que dava peso ao diploma, e
não o contrário. Isto porque, em uma sociedade livre da intervenção
estatal, o ensino prestava-se à sua função de prover o
conhecimento adequado para o melhor desempenho de uma determinada
finalidade. Simples assim.
Em um sistema de ensino
puramente livre, o ensino é patrocinado por entidades envolvidas no
mercado ou pelos próprios estudantes, de forma que apenas o volume
de recursos de um e/ou de outro são utilizados. Os estudantes,
conhecedores da escassez dos recursos, planejam suas vidas com
responsabilidade, o que acarreta um razoável grau de acerto quanto
ao retorno do investimento.
Além disso, o indivíduo de
uma sociedade livre que se lança ao nível superior provavelmente já
tem tido uma notável experiência prática no ofício, seja por ter
acompanhado profissionais mais experientes ou frequentado cursos
intermediários específicos, de modo que sua vocação já está bem
testada, e seus conhecimentos já são bastante acurados, o que
resulta, por sua vez, em que o próprio curso de nível superior já
parta de um nível que hoje seria considerado inalcançável para um
calouro brasileiro.
Porém, isto não é tudo: o
fato de que são os próprios estudantes ou seus patrocinadores
diretos (por exemplo, a firma onde trabalham) os que pagam pelo seu
curso, o interesse pela inclusão de disciplinas pouco objetivas e
afins é mínimo, assim como são rejeitadas muito facilmente as
doutrinas e teorias que não se fazem reais na prática. Isto
significa que a doutrinação ideológica tem pouca chance de criar
raízes. Em nossa sociedade, tais disciplinas formam atualmente a
maior parte da grade curricular, eis que são impostas pelo estado.
Mas o mais benéfico para o
estudante de uma sociedade livre é que com tenra idade ele já pode
trabalhar, o que alavanca ainda mais o potencial produtivo de sua
sociedade. Se eu puder citar uma das maiores causas de desperdício
econômico de nosso país, afirmarei ser a idade avançada com que
nossos jovens bacharéis estão se lançando ao mercado de trabalho,
a maioria lá pelos vinte e três anos ou mais, e o pior de tudo,
completamente crus. É um verdadeiro escândalo econômico que
bilhões ou trilhões de reais deixem de ser produzidos por mãos e
mentes justamente na fase em que estão mais saudáveis e cheias de
energia, criatividade e ambição.
Rapazes e moças com
dezesseis anos em diante já poderiam começar a trabalhar, adquirir
conhecimento teórico e prático ao lado de profissionais experientes
e ir fazendo cursos específicos ao longo de suas carreiras, de modo
que aos vinte ou vinte e um anos já teriam recursos para bancar a si
mesmos e para fundarem suas próprias famílias. Por fim, para os
mais talentosos e esforçados que estiverem dispostos a sacrificar
outras áreas de suas vidas, o curso de nível superior seria uma
opção a mais.
Todos estes fatores terminam
por acarretar um mínimo de desperdício dos recursos da sociedade,
de modo que o excedente (comparado ao modelo estatal de patrocínio
indiscriminado de vagas e de preenchimento compulsório de cargos em
empresas) pode ser aplicado no processo produtivo com um retorno
muito maior para todos os cidadãos, inclusive e até mesmo para os
que não têm nenhum estudo.
Concluindo: a política da
“universidade para todos” ocasionou a criação de centenas de
faculdades oportunistas de olho nos recursos públicos distribuídos
a mancheias, que se tornaram meras fábricas de diplomas, porque
nunca houve a exigência de prover um ensino de qualidade. Somente os
estudantes ou o mercado podem objetivamente exercer este papel, isto
é, quando são um e/ou outro quem paga pelo serviço. Deu no que
deu. A extinção tardia de milhares de vagas não devolverá à
sociedade os recursos desperdiçados, mas a fará muito sofrer pelos
diplomados que ainda algum dia cometerão atos de imperícia. Isto
não reflete uma boa gestão pública, mas ao contrário, um
politiquismo ralé, malplanejado e mal-executado.
Perfeito. Nem uma palavra a acrescentar. Obrigado Klauber.
ResponderExcluirInfelizmente,eu também fui bolsista do ProUni sem saber que estava sendo enganado por um governo criminoso.Final da história:sou bacharel,mas desempregado.Serei obrigado a recomeçar minha vida.
ResponderExcluirSe eu puder citar uma das maiores causas de desperdício econômico de nosso país, afirmarei ser a idade avançada com que nossos jovens bacharéis estão se lançando ao mercado de trabalho, a maioria lá pelos vinte e três anos ou mais, e o pior de tudo, completamente crus.
ResponderExcluirConcordo plenamente.Existem pessoas que até desistem porque o mercado fechou e lacrou as portas.
Sugestão: "erro"
ResponderExcluirComo se trata de tema sobre ensino, tomo a liberdade de sugerir que, em vez de "má qualidade DOS MESMOS", escreva-se "má qualidade DELES".
Apesar de largamente usado, é incorreto o emprego deste tal "o mesmo", com a função e significação que se lhe dão. "O mesmo" quer dizer "igual", "idêntico". Por exemplo: "eu tenho o mesmo conceito do autor da matéria." Outro> "você fez o curso X? Eu também fiz o mesmo" Este defeito que se difundiu na comunicação é da mesma categoria do "a nível de". E quando espalha o erro, o certo acaba parecendo errado.