terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A educação brasileira em colapso


Política errática: Governo pipoca faculdades e depois as extingue. Quem paga?
Por Klauber Cristofen Pires

Os últimos “investimentos” do governo do PT na área da educação têm sido o corte de milhares de vagas dos mais diversos cursos, alegadamente por má qualidade dos mesmos. Segundo o divulgado pela Agência Brasil, os cortes deverão atingir mais de 50 mil vagas.
Não tarda aos articulistas de opinião da mídia chapa-branca aplaudirem as medidas, se já não o têm feito, alegando haver nisto um zelo de um governo comprometido com a questão da educação e com o bom uso do dinheiro público. Como diz o ditado, a cada manhã pelo menos um otário decide tirar os pés da cama.
Contudo, o histórico de um ministro famoso pelo seu empenho empenho em sabotar o uso da língua culta e implementar o kit gay não combina de jeito nenhum com tal perspectiva. A verdade, inconveniente que é, deu suas caras nas manchetes de pessoas mortas em hospitais públicos por erros grosseiros nos procedimentos efetuados por pessoas brindadas com um diploma sem que tivessem adquirido um mínimo de conhecimento. Não foi por outro motivo o que fez a burocracia palaciana partir para um plano de gerência de danos.
O fato é que a gestão populista Lula-Dilma/Haddad criou fábricas de diplomas pelo Brasil inteiro feito pipoca estourando na panela, e deixou-a queimar! Foi o tempo da “universidade para todos”, um festival de subsídios liberados sem nenhum critério para que qualquer um que no caminho da padaria passasse desavisado em frente a uma faculdade particular acabasse ganhando um diploma.
O PT sempre foi extremamente hábil em manipular as fraquezas humanas: a criação de milhares de diplomas de bacharelado sem que o mercado tivesse a mínima condição de absorvê-los foi a fórmula que uniu o tino demagógico de Lula e de sua sigla com os anseios não poucas vezes meramente vaidosos de uma massa de indivíduos ressentidos com a ignorância que voluntariamente têm adotado para si.
Quem se dispuser a quantificar o volume de recursos públicos destinados a cobrir tamanha orgia eleitoreira haverá de encontrar uma boa razão pela qual nossas estradas estão despedaçadas, a segurança um caos e a própria educação uma das piores do mundo.
Enquanto isto, milhares de pessoas estão aí com seu canudo na mão – boa parte ainda iludida – sem perceber que desperdiçaram quatro ou cinco anos de suas vidas em um empreendimento fadado ao fracasso, por falta de informações confiáveis que lhes permitissem um planejamento mais concreto para suas vidas. E o pior: muitas delas com uma enorme dívida a pagar, contraída do FIES.
Não há a menor necessidade de que “todos” tenham educação de nível superior pelo só fato de que apenas uma pequena parcela da população, constituída pela sua elite intelectual, é que há de explorar as fronteiras do conhecimento. Isto não é uma questão de preconceito. É a realidade da vida.
O caso do Brasil não constitui uma exceção, porquanto o espalhamento do acesso ao nível superior resultou na queda do nível do ensino, de modo que na prática acabou se formando em uma espécie de continuação de um segundo grau profissionalizante. A rigor, quem sai das faculdades brasileiras não pode ser chamado de bacharel, mas antes, de um operário qualificado – se muito.
O ensino em uma sociedade estatizada
Em uma sociedade onde a educação é tornada completamente refém do estado, o ensino serve, terciariamente ou em último lugar, para a obtenção de uma permissão para trabalhar; secundariamente, para o atingimento de metas de políticas públicas diversas (por exemplo, para conter a taxa de natalidade), e prioritariamente, para a doutrinação dos cidadãos segundo a ideologia estatista, de modo a cumprirem fielmente os regulamentos governamentais sem questioná-los.
Façamos do curso de Direito o nosso exemplar estudo de caso: Até o início do século XX, esta atividade podia muito bem ser realizada por um indivíduo desprovido do diploma de curso superior. Há inúmeros casos de processos muito bem conduzidos pelos então “rábulas”.
Na verdade, a advocacia podia ser exercida até mesmo pelo cidadão comum, em defesa própria. Ora, então a lei não foi feita para ser cumprida por todo e qualquer cidadão? Se foi – e no início era assim – todo indivíduo tinha conhecimento dela, senão especificamente, mas pelo menos de acordo com um sistema jurídico cujos princípios, baseados majoritariamente no direito natural, eram facilmente assimiláveis por qualquer pessoa.
Foi um movimento corporativista, em busca da reserva de mercado, à maneira das guildas, cuja origem remonta às gangues mafiosas do Império Romano, o que fez com que o Instituto dos Advogados do Brasil viesse a se consolidar como uma autarquia, e que, uma vez tendo conquistado tamanho poder, passasse a estipular dificuldades cada vez maiores para o ingresso na carreira, começando pela exigência do curso de nível superior, aumentando gradativamente a grade curricular, depois criando a prova para o exame de ordem e por fim, usando-a como um instrumento de filtragem para a admissão de um número irrisório de candidatos. Ah, e claro, apoiando a complicação das leis com base na doutrina estatista-positivista.
Pari passu, o sócio desta organização, isto é, o estado, viu-se na oportunidade de inserir na grade curricular uma série de disciplinas absolutamente desnecessárias para a formação de um advogado, mas convenientes para a sua formação como um agente transformador da sociedade, ou para o mero fim de dar emprego a algumas outras profissões cujos cursos de nível superior também foram criados pelo próprio com finalidades políticas.
A educação em uma sociedade livre
O que vou expor agora não se trata de utopia: já foi a própria realidade de um efervescente mundo cujas ideias liberais nem sequer chegaram a ser conhecidas ou aplicadas em sua plenitude, como nos ensina o filósofo economista Ludwig von Mises, mas que operaram a maior revolução benfazeja da história da humanidade.
Entre os séculos XVI e XIX, já havia várias faculdades e universidades – aliás, estas foram inventadas justamente pela iniciativa privada. Porém, havia uma crucial diferença: era o conhecimento que dava peso ao diploma, e não o contrário. Isto porque, em uma sociedade livre da intervenção estatal, o ensino prestava-se à sua função de prover o conhecimento adequado para o melhor desempenho de uma determinada finalidade. Simples assim.
Em um sistema de ensino puramente livre, o ensino é patrocinado por entidades envolvidas no mercado ou pelos próprios estudantes, de forma que apenas o volume de recursos de um e/ou de outro são utilizados. Os estudantes, conhecedores da escassez dos recursos, planejam suas vidas com responsabilidade, o que acarreta um razoável grau de acerto quanto ao retorno do investimento.
Além disso, o indivíduo de uma sociedade livre que se lança ao nível superior provavelmente já tem tido uma notável experiência prática no ofício, seja por ter acompanhado profissionais mais experientes ou frequentado cursos intermediários específicos, de modo que sua vocação já está bem testada, e seus conhecimentos já são bastante acurados, o que resulta, por sua vez, em que o próprio curso de nível superior já parta de um nível que hoje seria considerado inalcançável para um calouro brasileiro.
Porém, isto não é tudo: o fato de que são os próprios estudantes ou seus patrocinadores diretos (por exemplo, a firma onde trabalham) os que pagam pelo seu curso, o interesse pela inclusão de disciplinas pouco objetivas e afins é mínimo, assim como são rejeitadas muito facilmente as doutrinas e teorias que não se fazem reais na prática. Isto significa que a doutrinação ideológica tem pouca chance de criar raízes. Em nossa sociedade, tais disciplinas formam atualmente a maior parte da grade curricular, eis que são impostas pelo estado.
Mas o mais benéfico para o estudante de uma sociedade livre é que com tenra idade ele já pode trabalhar, o que alavanca ainda mais o potencial produtivo de sua sociedade. Se eu puder citar uma das maiores causas de desperdício econômico de nosso país, afirmarei ser a idade avançada com que nossos jovens bacharéis estão se lançando ao mercado de trabalho, a maioria lá pelos vinte e três anos ou mais, e o pior de tudo, completamente crus. É um verdadeiro escândalo econômico que bilhões ou trilhões de reais deixem de ser produzidos por mãos e mentes justamente na fase em que estão mais saudáveis e cheias de energia, criatividade e ambição.
Rapazes e moças com dezesseis anos em diante já poderiam começar a trabalhar, adquirir conhecimento teórico e prático ao lado de profissionais experientes e ir fazendo cursos específicos ao longo de suas carreiras, de modo que aos vinte ou vinte e um anos já teriam recursos para bancar a si mesmos e para fundarem suas próprias famílias. Por fim, para os mais talentosos e esforçados que estiverem dispostos a sacrificar outras áreas de suas vidas, o curso de nível superior seria uma opção a mais.
Todos estes fatores terminam por acarretar um mínimo de desperdício dos recursos da sociedade, de modo que o excedente (comparado ao modelo estatal de patrocínio indiscriminado de vagas e de preenchimento compulsório de cargos em empresas) pode ser aplicado no processo produtivo com um retorno muito maior para todos os cidadãos, inclusive e até mesmo para os que não têm nenhum estudo.
Concluindo: a política da “universidade para todos” ocasionou a criação de centenas de faculdades oportunistas de olho nos recursos públicos distribuídos a mancheias, que se tornaram meras fábricas de diplomas, porque nunca houve a exigência de prover um ensino de qualidade. Somente os estudantes ou o mercado podem objetivamente exercer este papel, isto é, quando são um e/ou outro quem paga pelo serviço. Deu no que deu. A extinção tardia de milhares de vagas não devolverá à sociedade os recursos desperdiçados, mas a fará muito sofrer pelos diplomados que ainda algum dia cometerão atos de imperícia. Isto não reflete uma boa gestão pública, mas ao contrário, um politiquismo ralé, malplanejado e mal-executado.  

4 comentários:

  1. Perfeito. Nem uma palavra a acrescentar. Obrigado Klauber.

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  2. Infelizmente,eu também fui bolsista do ProUni sem saber que estava sendo enganado por um governo criminoso.Final da história:sou bacharel,mas desempregado.Serei obrigado a recomeçar minha vida.

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  3. Se eu puder citar uma das maiores causas de desperdício econômico de nosso país, afirmarei ser a idade avançada com que nossos jovens bacharéis estão se lançando ao mercado de trabalho, a maioria lá pelos vinte e três anos ou mais, e o pior de tudo, completamente crus.

    Concordo plenamente.Existem pessoas que até desistem porque o mercado fechou e lacrou as portas.

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  4. Sugestão: "erro"

    Como se trata de tema sobre ensino, tomo a liberdade de sugerir que, em vez de "má qualidade DOS MESMOS", escreva-se "má qualidade DELES".
    Apesar de largamente usado, é incorreto o emprego deste tal "o mesmo", com a função e significação que se lhe dão. "O mesmo" quer dizer "igual", "idêntico". Por exemplo: "eu tenho o mesmo conceito do autor da matéria." Outro> "você fez o curso X? Eu também fiz o mesmo" Este defeito que se difundiu na comunicação é da mesma categoria do "a nível de". E quando espalha o erro, o certo acaba parecendo errado.

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