Sr Deputado! O que move os conselhos de classe, OAB inclusa, é o mais anacrônico e inadmissível senso de reserva de mercado! Sem absolutamente nenhum exagero, afirmo categoricamente que os conselhos de classe são verdadeiros cartéis legalizados!
Prezado Deputado,
Prezado Deputado,
Meu nome é Klauber
Cristofen Pires, sou brasileiro, com 42 anos de idade, graduado em
nível superior como Oficial de Máquinas da Marinha Mercante e em
nível de especialização em Direito Tributário.
Tenho ao longo dos últimos
anos estudado de forma autodidata com afinco os problemas
brasileiros, mormente à luz da Escola Austríaca de Economia, sendo
que tenho sob minha autoria diversos artigos publicados em
respeitáveis sites de economia, conjuntura, e jurídicos, tais como
o Mídia sem Máscara, o Instituto Ludwig von Mises - Brasil, o
Instituto Liberdade/RS, o Fiscosoft, o Conjur, o Jus Navigandi e o
Coad, além do meu próprio blog LIBERTATUM, no qual, inclusive,
tenho prestado permanente apoio ao Movimento Pela Legítima Defesa,
do qual o Senhor é porta-voz.
Assevero que presto minha
solidariedade à causa da liberdade de o cidadão portar armas porque
considero-o como um direito natural e inalienável, isto é, que
dentre a parcela de poder que o cidadão abdica em favor da
constituição do estado democrático e de direito não se encontra –
e nem pode logicamente se encontrar - delegação que permita a este
último tomar-lhe os meios de se defender, inclusive do próprio ente
coletivo.
Todavia, não venho tecer
maiores comentários sobre o direito do cidadão de portar armas,
conquanto tenha aludido ao tema, em primeiro lugar, para apresentar
os meus votos de estima e admiração pelo seu honrado trabalho como
homem público, e em segundo e mais importante, para usá-lo como
reivindicação de coerência para outro assunto, qual seja, sobre o
projeto de lei 6867/2010, de sua autoria, cujo objeto é a
instituição de exame de proficiência para os bacharéis ligados à
área da saúde.
Conforme a redação, que
tem por exemplo o exame de ordem para a OAB como requisito para o
exercício da profissão de advocacia, a proposta é a de que o
respectivo conselho federal estipule as provas para os
recém-formados,, e que suas projeções estaduais o apliquem, e a
justificativa é a de que atualmente se verifique um alto nível de
estudantes com baixo desempenho, até mesmo superior a 50%.
O que pretendo demonstrar
adiante é o equívoco em que incorre esta medida, caso venha a ser
promulgada como lei.
Não hei de contestar o
baixo nível da rede de ensino nacional. Todavia, assim como trocar
um fusível queimado por outro de maior capacidade não é a forma
correta de lidar com um problema na rede elétrica, eis que a causa
do rompimento do dispositivo de segurança se encontra alhures, a
permanecer oferecendo grave risco para todo a residência, também
não se faz apropriado obstar um bacharel recém-formado – com o
aval do estado – de exercer o seu ofício e pior ainda, por uma
entidade constituída por seus futuros concorrentes!
Veja, Sr. Deputado, como o
próprio Conselho Federal de Medicina se manifesta à sociedade:
“ao
defender os interesses corporativos dos médicos, a CFM empenha-se em
defender a boa prática médica, o exercício profissional ético e
uma boa formação técnica e (sic) humanista...”
i
Como podem os “interesses
corporativos” dos médicos encaixarem-se nos interesses dos seus
clientes - digo, a população - vez que tantas vezes são
naturalmente antagônicos?
Talvez o ilustre parlamentar
enxergue em tais palavras uma frase retirada do seu contexto. Talvez
alguém lhe levante tal hipótese. Porém, peço-lhe que se dê ao
trabalho de esmiuçar o site daquela instituição, bem como de todos
os outros conselhos de classe de quaisquer outras profissões, para
constatar como estas entidades adotam posturas políticas à revelia
dos seus administrados, em comportamento que constitui clara
usurpação de direitos políticos dos seus membros, vez que não são
entidades de opinião, muito menos partidos políticos.
Apenas à guisa de exemplo,
cito matéria extraída do jornal Diário do Pará, de 17/08/2010, no
qual esta entidade apoia a greve dos médicos-residentes, por
considerá-la “justa e ética”!ii
Em vários artigos
anteriores tenho demonstrado sem nenhuma dificuldade como os
conselhos de classe e ordens profissionais, aqui reconhecidos como
sinônimos, legislam em causa própria, sem um pingo de
representatividade política, sem controle externo e à revelia da
Constituição e das leis, impondo à população e aos profissionais
as mais esdrúxulas exigências, cobrando multas, cassando
profissionais e fechando estabelecimentos. Além disso, gozam de
orçamentos milionários, bem superiores ao de vários entes
federados, extraídos compulsoriamente dos seus respectivos
profissionais.
Sr Deputado! O que move os
conselhos de classe, OAB inclusa, é o mais anacrônico e
inadmissível senso de reserva de mercado! Sem absolutamente nenhum
exagero, afirmo categoricamente que os conselhos de classe são
verdadeiros cartéis legalizados!
Neste ano, somente 4% dos
bacharéis em Direito foram aprovados! Usando de bom senso, mesmo
considerando as “fábricas de diplomas”, cuja multiplicação
deve-se à própria incúria governamental, é inconcebível imaginar
que 96% dos bacharéis em Direito não sejam capazes de exercer a
profissão com razoável perícia, o que nos leva ao flagrante de que
esta tem sido a taxa considerada como aceitável pela OAB para
ingresso de novos concorrentes, de forma a não prejudicar o status
quo dos atuais advogados.
Os conselhos de classe
tiveram sua origem no Brasil durante a era Vargas, que se
notabilizava por um rígido sindicalismo de índole fascista, sendo
que sua origem remonta às guildas e às corporações de ofício
medievais, e até mesmo às gangues mafiosas que já existiam desde o
Império Romano!
O filósofo e economista
Ludwig von Mises
também nos ensina sobre o que denominou de "socialismo das
guildas". O trecho abaixo transcrito, extraído de sua mais
famosa obra, Ação
Humana,
é um pouco longo, porém, pelo seu alto valor informativo,
apresento-o sem cortes:
Ao elaborar o seu projeto, os socialistas de guildas tinham em mente as condições de funcionamento dos governos locais ingleses e as relações entre as várias autoridades locais e o governo central da Inglaterra. Seu objetivo era estabelecer a autogestão de cada setor da indústria; pretendiam instaurar, segundo palavras dos Webbs, "o direito de autodeterminação de cada profissão". Da mesma maneira que cada municipalidade se ocupa dos assuntos da comunidade local e o governo nacional se encarrega dos assuntos que dizem respeito à nação, a guilda, e apenas ela, deveria ter jurisdição sobre seus assuntos internos, ficando a intervenção do governo adstrita àqueles casos que as próprias guildas não pudessem resolver.
Entretanto, num sistema de cooperação social com base na divisão do trabalho, nada há que se identifique com o interesse exclusivo dos membros de algum estabelecimento, companhia ou setor industrial, e que não seja também de interesse dos demais membros da coletividade. Não existem questões internas de qualquer guilda ou corparazione cujas soluções não afetem a toda a nação. Um setor da atividade econômica não está a serviço apenas daqueles que nele trabalham; está a serviço de todos. Se, num setor da atividade econômica, houver ineficiência, desperdício dos fatores escassos de produção ou relutância em se adotarem os métodos de produção mais adequados, todos saem prejudicados. Não se pode deixar que os membros da guilda decidam sobre o método tecnológico a ser adotado, sobre a quantidade e qualidade dos produtos, sobre a jornada de trabalho e mil coisas mais, porque essas decisões afetam a toda a comunidade. Na economia de mercado, o empresário, ao tomar essas decisões, está incondicionalmente sujeito às leis do mercado; na realidade, são os consumidores que tomam as decisões. Se o empresário tentar desobedecê-los, sofrerá perdas e logo perderá sua posição empresarial. Por outro lado, as guildas monopolísticas não precisam temer a competição; gozam do direito inalienável de exclusividade no seu setor de produção. De servidores do consumidor transformam-se em senhores. Ficam livres para recorrer a práticas que favorecem seus membros às expensas do resto da população.
Pouco importa que a guilda seja comandada exclusivamente por trabalhadores ou que os capitalistas e antigos empresários, em alguma medida, ainda participem de sua direção. Carece também de importância o fato de os representantes dos consumidores disporem ou não de assentos no conselho diretor da guilda. O que importa é que a guilda, se autônoma, não estará sujeita à pressão que a forçaria a ajustar seu funcionamento de modo a atender os consumidores da melhor maneira possível; terá liberdade para dar precedência aos interesses de seus membros sobre os interesses dos consumidores. O esquema do socialismo de guildas e do corporativismo, não leva em consideração o fato de que o único propósito da produção é o consumo. Há uma inversão total de valores; a produção torna-se um fim em si mesmo.
Sr. Deputado! Por favor,
tenha em boa paciência que nem sequer cheguei perto do pior perigo
que as guildas do século XXI tendem a nos oferecer...
Quando
um conselho de classe declara abertamente o seu protagonismo
político, como o nobre Deputado há de testemunhar com seus próprios
olhos, é lógico inferir que deva manter um pensamento político
majoritário, senão hegemônico. Se este fato pode ser encontrado,
mesmo que por pura hipótese, então é de se perceber que, no “exame
da ordem”, tal viés ideológico encontrar-se-á presente nas
questões. Ora, em ciências tais como o Direito, pertencente ao rol
das ciências sociais, as questões certamente serão formuladas com
base em tendências políticas abraçadas pelos que comandam a cúpula
destas entidades. Desta forma, é inegável concluir que não surja a
qualquer momento um monitoramento ideológico, com prejuízo aos
oriundos de universidades onde determinadas posições possam ser
divergentes e, pela monotonia do pensamento, a toda a sociedade.
A bem
da verdade, seja a competência para a elaboração da prova delegada
a esses cartéis autarquizados ou diretamente ao estado, tal risco já
abandona o campo da potencialidade hipotética para adentrar no
terreno da realidade concreta; tome-se por prova os recentes
escândalos de filtragem ideológica flagrados nas questões do Enem
e a inconstitucional censura imposta à psicóloga Rosângela Justino
pelo Conselho Federal de Psicologia.
Conforme
bem ensinado por Mary Bennet Petterson (The
Regulated Consumer,
1971), “quando o estado regulamenta os empreendimentos, o que faz
na verdade é regulamentar o consumidor”.
Sr
Deputado, hoje, talvez poucos saibam quem construiu a casa ou o
edifício onde moram, e certamente ninguém sabe quem projetou o seu
carro, mas praticamente ninguém se submete a um médico, mormente um
cirurgião, sem antecipadamente tomar referências sobre ele. Tal
costume tem origem em um instituto consagrado pelas sociedades livres
que tem andado muito em desuso no Brasil: a reputação! Claro está
que, por se tratar da própria saúde, as pessoas não querem saber
onde o dito profissional da saúde se formou ou qual foi o seu
aproveitamento durante o curso, mas tão somente se é bom no que
faz!
Como
oficial mercante, afirmo desassombradamente que muitos dos antigos
“lanternas” da minha turma na Escola de Formação de Oficiais da
Marinha Mercante são hoje competentíssimos Comandantes, Imediatos e
Oficiais Superiores de Máquinas. Tenho certeza que o V. Exa. mesmo
há de ratificar minha constatação da sua própria parte, como
Coronel da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Por acaso, não
aconteceu fato semelhante com seus colegas cadetes?
Isto
se dá porque nem todo o conhecimento que se aufere provém dos
claustros acadêmicos, mas sobretudo, da vivência diária ao lado de
colegas mais experientes, e neste sentido, os médicos são testados
muito mais do que todas as outras profissões, eis que se submetem ao
instituto da residência.
Destarte,
e por fim, peço a vossa atenção para o bem sucedido modelo de
regulação privada que é adotado pelo sistema das Sociedades
Classificadoras. Estas são entidades de certificação privadas que
regulam a construção e promovem a inspeção periódica de navios
mercantes, linhas férreas, plantas industriais e vários outros
empreendimentos. Neste sistema, todas as partes são contratuais e
tudo funciona bem, porque todos dependem da boa reputação. A mais
antiga companhia de classificação é o Lloyd
Register,
fundado em 1760, e ainda é uma das mais bem conceituadas e
respeitadas empresas do setor.
Os
médicos podem se associar em torno de entidades que podem funcionar
à maneira das sociedades classificadoras, com grande ganho para o
país e para os consumidores, os verdadeiros e legítimos
interessados.
Do
exposto, rogo a V. Exa. que revise o seu projeto, de forma a
abandonar a proposta de criação do exame de proficiência, e muito
ao invés, abraçar a causa da extinção do status de autarquia das
ordens profissionais e conselhos de classe, transformando-as em
associações puramente privadas e não monopolísticas.
Respeitosamente,
Klauber
Cristofen Pires
Apêndice
-Artigos Úteis: :
Alô Klauber
ResponderExcluirAssino embaixo sem qualquer ressalvas.
Os CREAs da vida também são um apêndice inútil por INOPERÂNCIA.
abraços
roberto
Alô Klauber
ResponderExcluirPaes de Lira já não é mais deputado,ou me engano?
abraços
Roberto
Prezado Roberto,
ResponderExcluirCreio que você tenha razão. Parece mesmo que ele já não é deputado.
Vou reformular o artigo para servir como um apelo a todos os deputados.
Prezado Roberto,
ResponderExcluirCreio que você tenha razão. Parece mesmo que ele já não é deputado.
Vou reformular o artigo para servir como um apelo a todos os deputados.
Klauber, já teve alguma resposta do Coronel Paes de Lira? Apesar dele não ser mais deputado ele tem uma atuação excelente contra a esquerdização, e eu também assino embaixo do seu posicionamento, a OAB é uma guilda odiosa.
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