O jornalista Eugenio Bucci defende o marco regulatório da radiodifusão sob sonsos pretextos.
Por Klauber Cristofen Pires
Para quem pensa que o ano já acabou, que
não saia apagando as luzes! Em sua coluna de opinião no Estadão de
15/12/2011, o jornalista Eugênio Bucci vem com uma das maiores
sonsices do ano: “Por
que tanto medo de regular a radiodifusão?”
Se Bucci fosse um dos três porquinhos a
cantar o refrão “...quem tem
medo do lobo mau...”, seria
Cícero, o mais preguiçoso e inconsequente da antiga fábula. Nos
dias atuais, todavia, está mais para fazer o papel do suíno leviano
- que de tolinho já não tem nada - em uma novela global cuja trama
envolveria sua mancomunação com o lobo mau para juntos jantarem
seus dois irmãos...
Quem tem medo da regulação da
radiodifusão? Eu tenho medo! Aliás, eu tenho pavor!
Só medo eu teria tal proposta viesse com
a melhor das intenções em um cenário no qual o Brasil não
figurasse como 89º colocado na lista do Freedom
House,
classificado como apenas “parcialmente livre”.
Só medo eu teria se o Judiciário não
interviesse constantemente a censurar comediantes, blogs e
jornalistas que ousam falar dos políticos e de suas torpezas.
Só medo eu teria se o governo e os
órgãos de regulação – Anvisa, especialmente – não tratasse
de impor e criar as limitações mais esdrúxulas à veiculação da
propaganda comercial sob pretexto de proteger a população.
Só medo eu teria se o governo por lei
não tivesse obrigado os canais fechados a exibirem uma cota semanal
de programação nacional pré-aprovada pela Ancine, e que não
tivesse delegado a ela poderes de intervir na grade para selecionar
horários e o conteúdo e impor multas e penalidades às empresas.
(Por sorte, o STF podou alguns de seus superpoderes.)
Só medo eu teria se o caso da morte do
ex-prefeito Celso Daniel estivesse solucionada e dado o seu pleno
conhecimento ao público.
Só medo eu teria se o PT – o partido
que nos governa há nove anos - não infiltrasse cláusulas de
controle social da mídia recorrentemente e de forma sorrateira em
tantas convenções para quantos outros assuntos díspares –
CONFECOM, CONFECU, PNDH-3, Congressos do PT e outros...
Só medo eu teria se os pugilistas
Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara não tivessem sido capturados e
despachados de volta à ilha-cárcere sob os diligentes préstimos
do capitão-do-mato Tarso Genro, e que Orlando Zapata Tamayo e os
prisioneiros de opinião cubanos da Primavera Negra de 2003 não
tivessem sido comparados a bandidos comuns por um Lula abraçadinho
ao ditador Fidel Castro.
Por todo o acima exposto, e por mais
ainda, porque só mencionei casos que me vieram de relance à
memória, eu teria apenas medo, por entender que regulações
estatais sendo acabam desastrosas, por mais santos que sejam os
propósitos dos legisladores.
Eu seu artigo, o jornalista do Estadão
faz uso constante de termos contrapostos tais como atraso, avanço e
regresso, pré-história e civilização, tabu e modernidade, assim
como se o mérito de uma lei estivesse em sua recência, tal como o
último design de um novo modelo automobilístico. Ora, estes
termos não trazem nenhum significado em si mesmos, senão que apenas
atestam uma determinada posição na escala de algum projeto em
execução. Desta forma, quem a eles recorre possui ele próprio uma
ideia clara de um objetivo final. No entanto, tal informação nos é
omitida.
De qualquer modo, em seu clamor por
modernidade, alega que há lacunas que precisam ser dirimidas, dentre
as quais a promiscuidade entre igrejas, partidos políticos e
estúdios. Assim se manifesta:
Em
alguns canais que estão aí, no ar, não dá mais para saber onde
termina o templo e onde começa o estúdio, o que tem gerado
distorções concorrenciais e partidárias no espaço público.
…
Para
que o direito à informação, a diversidade de opiniões, a
liberdade de expressão e a livre concorrência sejam respeitadas,
igrejas, partidos políticos e emissoras não se podem misturar.
Ouso perguntar: Por quê não podem se
misturar as igrejas com os partidos políticos e as emissoras? Deve o
direito ao culto restringir-se a comparecer à igreja ou templo para
lá rezar e orar, e só? Possivelmente, o modelo de liberdade de
expressão buccista há de reconhecer como um arrojo
civilizacional a lei mexicana, que proíbe
às igrejas interferirem nos assuntos políticos. É engraçado o
quanto gente assim costuma associar liberdade com proibições mil!
Não lhe deve passar pela mente que a
religião constitui-se justamente no fundamento moral e espiritual
dos cidadãos e que para viverem-na na plenitude de suas convicções
faz-se necessário o gozo de seus direitos políticos. Nos EUA, Mitt
Romney tem sido alvo de críticas entre os próprios republicanos,
por ser mórmon, uma religião que muitas igrejas consideram como não
cristã.
Se vivemos em um país que consagra a
liberdade de expressão, e consequentemente, o acesso à informação
como um direito fundamental dos indivíduos, e considerando que os
meios de comunicação constituem a garantia de concretização do
seu exercício, então o que se há de contestar é que o direito a
fundar uma empresa de comunicação reste ao crivo de um homem ou um
grupo eventualmente alocado no poder, como vige hoje sob o instituto
da concessão estatal.
Não há nenhum motivo plausível que
justifique tamanha discricionariedade ! Que o diga a RCTV e outras
emissoras venezuelanas e bolivianas que já foram fechadas por seus
respectivos tiranetes. Que o digam os canais de TV Canção Nova e
Aparecida, perseguidos pelo Procurador da República Adjame Oliveira,
que buscou com flagrante desvio de finalidade cancelar suas licenças
sob discutíveis pretextos licitatórios logo depois de uma ter
recomendado não votar no PT por este partido ser favorável ao
aborto e a outra ter cancelado o programa de um político petista.
Ora, se um empresário possui os meios
econômicos e técnicos para fazer funcionar seu veículo de
comunicação, então onde está o problema, desde que ele não
interfira no sinal de seus concorrentes ou das faixas dos serviços
de segurança, tais como os das Forças Armadas e das Polícias?
No tocante aos conceitos de monopólio e
oligopólio, hei de concordar com o articulista quanto ao problema de
sua falta de clareza, o que não significa que o remédio que hei de
prescrever seja o mesmo. Com efeito, a imprecisão e a ambiguidade
são a tônica da lei antitruste – digo mais: são a sua razão
mesma de ser - que dela convenientemente se beneficia o governo, por
meio de seu órgão fiscalizador, que no Brasil já se tornou
recentemente um “super-órgão”, o “Super-Cade”, a perseguir
e punir ex post facto
as empresas escolhidas como os coelhos da vez. Mui propriamente,
assim pronunciou-se ninguém menos do que o maior figurão do mundo
financeiro contemporâneo, Allan
Greenspan,
(Antitrust,1962):
“É
um mundo em que a lei é tão vaga que os homens de negócios não
dispõem de nenhum meio de saber se certas ações específicas serão
declaradas ilegais até que ouçam o veredicto do juiz – depois do
fato”.
No caso das
empresas de comunicação, cabe recordar que foi exatamente sob o
pretexto da acusação de concentração de mercado que o Clarín foi
esquartejado pelo casal mais charmoso do Foro de São Paulo, o Sr e a
Sra Néstor e Cristina Kirchner.
Adiante, que problema há que canais
televisivos, rádios e jornais pertençam a políticos, ou
vice-versa? Todos devem gozar do mesmo direito à opinião e aos seus
direitos políticos ativos e passivos, e nenhum arranjo institucional
há de garantir alguma esperada isenção, senão que uns poucos
escolherão quem há de participar do jogo ou ao contrário, dele ser
alijado. Qualquer fórmula interventiva neste terreno propiciará
sempre a sua aplicação parcialista pelos então donos do poder.
Para o mister da atividade política, é
óbvio que transmitir as suas ideias por seu próprio meio de
comunicação constitui-se em medida apropriada, e não há nada de
injusto nisso, assim como se garanta aos seus oponentes a liberdade
de contraporem-no da forma como puderem, tal como eu mesmo aqui faço.
Se queremos um marco regulatório que
garanta o exercício material pleno da liberdade de expressão, não
devemos contar com a elaboração de mais uma lei, mas sim na
derrogação das atualmente existentes. O resto é engodo lançado
por grupos de interesses particulares.
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