quinta-feira, 19 de agosto de 2010

História de vida

Por João Bosco Leal

Melhor que isso foi saber que, ao colocar um de seus herdeiros para iniciar sua vida em uma das lojas, logo o viu dando ordens para os funcionários da mesma. Chamando-o de lado, explicou-lhe: “meu filho, essas pessoas a quem você está se dirigindo com ordens são aquelas que, com seu trabalho, pagam sua escola, sua alimentação e o seu conforto, e você, como estudante, até hoje só me deu despesas. Quero que as trate com o maior respeito, pois são elas que me proporcionam o padrão de vida que hoje posso lhe dar e, assim, apesar de te amar como filho, comercialmente elas me são muito mais importantes do que você, e essa é a primeira regra que deve aprender”. 
Conheci um homem que durante muitos anos havia sido bancário, chegando a ser gerente geral de agência. Passei a gostar do mesmo logo de início, por sua ousadia, pois soube de mim por outras pessoas e, mesmo sem me conhecer pessoalmente, ligou-me e disse que precisava de novos clientes em sua agência e abriria minha conta corrente, concedendo-me um financiamento. Ao conhecê-lo pessoalmente, soube que éramos conterrâneos e que ele conhecia minha família. Posteriormente, eu trouxe outros membros desta para sua agência.

Algum tempo depois, ele me disse que estava saindo do banco para trabalhar por conta própria e entrou no comércio, mais precisamente no ramo de alimentos, lanches rápidos. Esporadicamente, eu o via novamente, sempre com muita humildade, transportando alimentos para sua loja de lanches ou verificando como seus clientes estavam sendo atendidos. Via com muita clareza e ele me confirmava que o negócio estava indo bem, e que já estava montando outra loja. Mais algum tempo se passava para novamente nos encontrar e, quando isso ocorria, ele me dizia que havia comprado outra loja.

Já com algumas lojas de lanches, em um novo encontro, me disse que havia entrado no mercado de construção de imóveis, e que sua esposa ficaria administrando, sozinha, o negócio de lanches. Mais uma vez ele alcançava sucesso. Sempre que nos encontrávamos as notícias eram boas. Seu crescimento era cada vez maior e ele sempre na mesma humildade. Isso me encantava, pois é muito comum vermos pessoas que devem mais do que possuem serem arrogantes, tentando mostrar o que não são, seja financeiramente, seja, principalmente, em termos de caráter.

Mais um longo tempo se passou, pois, por motivos pessoais, fiquei afastado de qualquer contato público durante dois anos, período em que me mantive praticamente só dentro de casa. Quando o encontrei novamente, defronte a uma de suas lojas em um grande centro comercial, ele revelou-se a mesma pessoa admirável. Solicitei que tentasse resolver um problema que ocorria naquele centro comercial em relação às poucas vagas de estacionamento destinadas aos deficientes físicos, coisa que agora eu era. Com muita satisfação, vi que o problema foi rapidamente resolvido, mesmo sendo ele o proprietário de uma única loja dentro daquele centro enorme. Mas buscou e resolveu.

Agora, fui convidado a dar um passeio por suas construções, obras nas quais é sócio de outras pessoas, engenheiros e investidores. Hoje, esse grupo já constrói condomínios fechados de residências, prédios enormes, com muitos andares, e até um apart-hotel. Que prazer, que satisfação ver um amigo que, com a mesma humildade de sempre, além desses investimentos em imóveis, hoje já possui doze lojas de lanches administradas pela esposa, uma fábrica com marca própria, onde produz todos os lanches que as lojas vendem, gera mais de cem empregos diretos nesse comércio, e já está colocando um dos filhos para trabalhar.

explicou-lhe: “meu filho, essas pessoas a quem você está se dirigindo com ordens são aquelas que, com seu trabalho, pagam sua escola, sua alimentação e o seu conforto, e você, como estudante, até hoje só me deu despesas. Quero que as trate com o maior respeito, pois são elas que me proporcionam o padrão de vida que hoje posso lhe dar e, assim, apesar de te amar como filho, comercialmente elas me são muito mais importantes do que você, e essa é a primeira regra que deve aprender”.

Preocupação de homens de caráter, que querem bem educar seus filhos. Nascido em uma fazenda, onde começou a trabalhar aos catorze anos, recebendo meio salário mínimo, ele me contou que, ao final de cada mês, no dia do pagamento, ia com o pai de trator até o escritório da fazenda, para assinar o recibo de seu pagamento, e de lá voltava a pé, por nove quilômetros, todos os meses, já sem dinheiro algum, pois o deixara com o pai, que ia até o armazém pagar suas contas e começar outras.

Pessoas como essa, raras como esse meu amigo, é que são os heróis desse país e nos dão orgulho de conhecer.

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