segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Serra parece muamba do Paraguai

Por Klauber Cristofen Pires

Tenho lido Reinaldo de Azevedo constantemente. O jornalista é extremamente culto e seus textos, via de regra, muito bons. Não obstante, não comungo do seu wishfull-thinking, protetivo à maneira de uma mãe zelosa, para com o candidato José Serra. Já eu não vejo motivo para tais cuidados...

O ilustre articulista entende não haver motivos para a celeuma criada em torno da inserção das imagens em que Serra aparece junto a Lula. Alega ser...um factóide, seria isto? Um fato político criado pelo PT? Seja como for, em um de seus artigos, tio "Rei" dá o braço a torcer, a sugerir ao candidato uma palavra franca com o eleitorado. Nada mais do que já havíamos exposto aqui.

Pois é justamente neste quesito que aparecem os conflitos. Há quem sustente que a presente campanha reside no fator econômico, porque a maioria dos eleitores presumivelmente não querem mexer no que aparentemente está dando certo. Esta é a turma que defende o continuísmo, com ressalva ou não ao puxa-saquismo explícito do candidato tucano. 

Jamais em minha vida eu testemunhei ou acharia que testemunharia uma contenda em que um dos oponentes pede as bençãos ao seu contrário: é muito mais do que bizarro. Creio que esta página ficará marcada como uma das mais patéticas ou marmeleiras da história política brasileira. Na minha mente, aparece uma imagem mais ou menos assim: "- moleque, cadê teu pai e tua mãe? Segue teu rumo! Te conheço não! vaza...vaza...!

Não, refuto a tese do continuísmo, e afirmo: do mesmo jeito que levou tempo para o povo entender que Dilma Roussef é a indicada do seu padrinho Lula, também um certo tempo se faz necessário para compreender todas as falcatruas e golpes desferidos contra a democracia, as liberdades individuais e as instituições, mas este esforço, além de necessário - civicamente necessário - também é eficaz, porque foi justamente no período do auge das denúncias do mensalão que a popularidade de Lula caiu ao seu mais baixo nível, abaixo de trinta por cento, à época. 

Entretanto, aí mesmo está o problema: como Serra pode auferir credibilidade, se se coloca em posição de vassalo de Lula? Aqui um fato pode ser muito ilustrativo: em uma das campanhas para prefeito de Belém, o então candidato Vic Pires Franco pensava tomar o lugar do candidato petista à reeleição por oferecer ao público um percentual maior de decisões a cargo das assembléias do chamado "orçamento participativo". ora, claro, entre o petista verdadeiro e o "paraguaio", é claro que os simpatizantes preferiram o primeiro. O mesmíssimo fato agora ocorre com Serra: ele quer ser um petista melhor que Dilma e melhor que Lula, mas todos enxergam a etiqueta "made in Paraguay": os petistas, que reagem às gargalhadas, e os anti-petistas, que enxergam nisto  - com justiça - um ato de traição.

Enquanto o candidato Serra age como uma mocinha normalista, com exageros de escrúpulos, Lula já vem descendo a Avenida Paulista com paus, enxadas e terçados, chamando-o de ladrão (tem feito declarações dizendo "na lata" que os pedágios do governo paulista são "um roubo"). Durante a última campanha, os petistas cantaram aos quatro ventos  que os tucanos iriam privatizar a Petrobras (o que seria muito bom, mas era mesmo mentira), e o Sr Alckmin achava que teria um grande trunfo nas mãos ao denunciar isto no último debate televisivo. Pois Lula confessou que era mesmo mentira, mas a relacionou à bravata ainda maior de que a privatização era esperada dos tucanospor eles terem privatizado muitas outras empresas públicas antes. Ou seja, confessou que estava apenas fazendo uma presunção, e ainda mandou o tucano se recompor, porque aquele ar enfezado não combinava com o seu visual, ao que sobrou a Almin tão somente um..."ah, é, é"?

Ainda há tempo  - mesmo sem ter feito o dever de casa durante os últimos oito anos - para Serra dar um bom chute na bunda nos seus marqueteiros de araque e chamar o povo à responsabilidade, como um líder que o Brasil necessita. Serra precisa falar olhando diretamente para as câmeras, como se estivesse fitando os olhos do telespectador, para dizer que o PT fundou o Foro de São Paulo e que por intermédio daquela instituição tem se mancomunado com as FARC e outras entidades terroristas de esquerda; que tem ligações com o narcotráfico, que possui um projeto de concentração de poder; que pretende asfixiar a liberdade de expressão; que se enturma com o oligopólio de uns poucos industriais e banqueiros que vivem de benesses governamentais às custas do dinheiro do povo; que defende o aborto; e que se enfileira com as piores ditaduras do mundo!

Como o candidato oficial, Serra tem como fazer de suas declarações um fato internacional, com larga repercussão mundial, e assim pôr o PT em evidência. Com isto, talvez Serra tenha uma chance. Qualquer coisa fora disso são favas contadas, e afirmo: também eu não aprecio muamba do Paraguai.

Um comentário:

  1. Analisando os dois candidatos mais badalados no sentido de "direita" e "esquerda" (um conceito bastante discutível em países + avançados), Serra nunca foi de direita. Ele mesmo já concedeu uma entrevista no site do Estadão dizendo-se de esquerda. Alías, disse o disparate de que esquerdistas defendem os direitos humanos. Onde? Em Cuba?! E além disso, vivemos numa era das mais nojentas e sem princípios, onde os 'politikos' querem mesmo é estar no poder, não interessando os meios que o justifiquem. O país degenenou-se desde 1985, e a maior parte dos brasileiros se mostra mesmo como um dos povos mais estúpidos e medíocres do planeta.

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