(Encaminhado por Jorge Baptista Ribeiro)
Velha e decrépita, aos 69 anos, a madalena arrependida Fernando Gabeira declarou aos jornais: “No caso da Dilma, existem diferenças na apreciação do que foi a nossa atuação. Todos os ex-guerrilheiros dizem que estavam lutando pela democracia. Mas se você examinar o programa que tínhamos naquele momento, queríamos uma ditadura do proletariado. Esse é um ponto de separação do passado. A luta armada não estava visando a democracia, ao menos não no seu programa”.
Tarde piou. Deveria ter percebido isto não agora, mas pelo menos bem antes de duas décadas atrás. Bem antes da queda do Muro e do desmoronamento do comunismo. Melhor ainda se tivesse percebido quando participou do seqüestro do embaixador americano, Charles Elbrick, em 1969. De lá para cá, decorreram quatro décadas, e só agora a vestal se dá conta que queria então uma ditadura.
Longa é a jornada de um imbecil até o entendimento. Quem ousaria afirmar, nos anos 30, que Stalin era um assassino frio e havia matado milhões? Só ousaram afirmar isto alguns raros gatos pingados, como Orwell, Koestler, Kravchenko, Gide, Sábato e mais alguns, que foram condenados imediatamente como agentes do imperialismo. Mesmo quando Kruschev denunciou os crimes do stalinismo, no XX Congresso do PCUS, em 56, o clima era de incredulidade. Conheci velhos comunistas de Porto Alegre que choraram indignados e diziam ser tudo intriga dos serviços de informação ianques. Hoje, só o Niemeyer e o Suassuna são capazes de louvar Stalin. Foram necessárias décadas para desmitificar o tirano. Uma vez desmitificado, as esquerdas apoiaram-se em Lênin. O stalinismo era um desvio da doutrina do santo Vladimir Illitch Ulianov. Hoje se sabe que Lênin era também um assassino e que o terror começou sob sua tirania.
Quem sabe, hoje, quem foi Kravchenko, o homem que, sozinho, pôs em xeque toda a União Soviética, em 1949? Quem leu a biografia de Stalin, de Boris Souvarine? Quem ouviu falar de Panaïti Istrati, escritor romeno de expressão francesa, o primeiro escritor a contestar o regime soviético, já em 1929, em Vers l’autre Flamme, jamais traduzido no Brasil? O Homem Revoltado, obra maior de Camus, de 1951, só sai no Brasil 50 anos depois, quando já era curiosidade histórica. Enquanto isso, continuávamos louvando stalinistas como Sartre, Neruda, Brecht.
O regime soviético foi violentamente contestado em meados dos anos 30, por ocasião das purgas, quando se afastaram do partido homens como Sábato, Gide, Camus, Arthur Koestler, Ignazio Silone, Louis Fischer, Stephen Spender. Gabeira era crescidinho em 69 quando, em nome dos ideais soviéticos, participou do seqüestro de Elbrick. Madalenas, para mim, são inviáveis após 1949, quando ocorreu o processo de Kravchenko. Vou mais longe: diria que são inviáveis após 35, 36, quando o Ocidente tomou conhecimento das purgas stalinistas.
Madalenas em 2010 são decrépitas e obsoletas. “Me considero um político que quer avançar no século 21”, afirmou Gabeira. Teve mais de meio século para chegar ao entendimento. Não chegou. Agora é tarde. Gabeira era jornalista e tinha 28 anos em 1969. Não lhe era permissível ignorar a história de seu século.
Sobre seu envolvimento na “farra” das passagens aéreas da Câmara dos Deputados, disse que reconheceu seu erro. “Eu mesmo denunciei. E depois de denunciar, eu devolvi o dinheiro das passagens, devolvi os créditos de mais de R$ 80 mil e formulei as regras que agora estão em vigor. É um mérito da opinião publica. Reconheci o meu erro. Estou tranqüilo”, disse. À época, ele admitiu ter caído “no patrimonialismo da política brasileira”.
Ou seja, basta reconhecer erro para estar tranqüilo. Punição, nem pensar. Sem falar que esqueceu de mencionar que criticou Ziraldo e Jaguar por postularem uma bolsa-ditadura, quando também pediu uma.
Madalenas não mais convencem.
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