domingo, 8 de agosto de 2010

Bons tempos

Por João Bosco Leal

            
Quando jovem, era comum estudar nos colégios internos, normalmente administrados por padres, de diversas ordens religiosas católicas, como os salesianos e maristas, ou mesmo pelos que na época eram conhecidos como “protestantes”, denominação não mais utilizada atualmente quando nos referimos aos cristãos não católicos.


Nesses colégios e nos “tiros de guerra”, como eram conhecidos os batalhões do exército por onde passavam por treinamento militar os jovens que completavam os dezoito anos, como ainda ocorre, é que os jovens aprendiam coisas que seriam de extrema utilidade pelo resto de suas vidas, como organização, respeito, horários e praticamente todas as regras necessárias para se viver em sociedade. Daí surgiu o velho questionamento, quando se via alguém desrespeitar alguém ou normas: você não teve pai, estudou interno ou serviu no tiro de guerra?

Em casa, nas escolas, nos internatos e no exército, a primeira regra era o respeito aos mais velhos, que iniciava pelo “senhor” ao se dirigir a qualquer pessoa, independentemente de seu relacionamento com esta. Isso nunca significou que com os mais velhos não pudéssemos ter amizades, liberdades, aconselhamentos ou aprendizado, o que não era tão comum como hoje, mas sempre houve, e sempre começando com um “senhor” ou “senhora”.

Os jovens também aprontavam, faziam artes, matavam algumas aulas para ir ao cinema, ocasionalmente tomavam um “fogo”, alguns roubavam carros dos pais para passear ou para fazer bonito diante de uma “paquera”, davam um “amasso” na namorada e depois a deixavam em casa no horário determinado pelos pais desta e iam dormir ou, em algumas oportunidades, iam se divertir em locais de mulheres de “vida fácil”, as chamadas “zonas”, que atualmente nem existem mais.

Nas brincadeiras dançantes, a bebida era a “cuba libre”, bebida de rum com coca-cola, limão e gelo, e os jovens, que estavam iniciando sua vida noturna, como não sabiam onde colocar as mãos, por inibição seguravam um copo dessa bebida em uma delas e, na outra, um cigarro. Esse, penso, é o motivo do cigarro ser um dos vícios mais comuns nessa minha geração. Como o dinheiro dado pelos pais era muito curto, normalmente a primeira dose da cuba libre ficava na mão a maior parte da noite e, quando se servia de outra, o “fogo” era certo. Não era comum o jovem se embebedar, até porque isso era um “escândalo” e o “castigo” em casa era certo.

As mulheres eram mais “recatadas”, como ensinavam os pais. Ao se sentarem, tinham uma preocupação enorme em não deixar “nada aparecendo”. Não fumavam ou, se o fizessem, nunca o faziam na rua, só em ambientes fechados. Não conheciam mais intimamente o namorado e, quando o faziam, apesar da pressão dos mesmos, já era muito próximo do casamento. Era essa, como diziam os pais, a mulher ideal para ser a mãe de seus filhos, motivo pelo qual deveria ser respeitada nesse aspecto, do qual o próprio jovem se orgulharia no futuro.

Ao começar a dirigir, já com a carteira de motorista em mãos, e ter a autorização para sair com o carro dos pais, esse jovem se sentia o máximo. Naquela época isso era bastante incomum, até pela menor quantidade de veículos que existiam, privilégio de uma camada social bastante elevada. Dirigir na cidade antes da idade e sem a carteira de motorista era praticamente inimaginável. Alguns pais ensinavam os filhos a dirigir antes mesmo da idade ou de frequentar a auto-escola, mas isso era feito fora das cidades, no campo ou em estradas rurais.

Não existiam todas essas “liberdades” dos jovens de hoje, em qualquer tipo de relacionamento, seja com os pais, com os mais velhos ou com os próprios jovens do sexo oposto, e ultimamente até do mesmo. Elas eram muito menores, mas isso não significa que eles eram menos felizes. Pelo contrário, me parece que os jovens eram mais felizes, menos angustiados, mais sonhadores, arrojados, e com menos medo do futuro.

Aproveitavam melhor sua época, com muita diversão e sem ou com praticamente nenhuma droga. Bons tempos.
             

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