Prezados leitores,
Não sou dado a fazer previsões no campo eleitoral. Quando muito, analiso tendências que pairam acima das siglas. As conclusões que seguem baseiam-se neste princípio. A esta altura, escrevo este texto já com conhecimento do artigo do amigo Nivaldo Cordeiro e dos diversos textos e comentários dos ilustres jornalistas Reinaldo Azevedo e Aluízio Amorim, de Santa Catarina, e a endossar a opinião de todos estes, aponho a minha rubrica, ato com o qual já havia me comprometido desde há várias semanas atrás, escorado que estava em indícios bem mais extrínsecos à mera análise dos números. Com efeito, soara-me um tanto suspeito que à tendência de queda de Dilma Roussef tivessem sido divulgados resultados de última hora a anunciar a sua recuperação, com prognósticos de vitória em primeiro turno.
O resultado para o Pará precisa de algumas informações, principalmente para os leitores de outros estados. A campanha de Adib Jatene, do PSDB, foi a mais tímida que já pude testemunhar. Ainda assim, por pouco a sua vitória não se consumou neste certame. O terceiro candidato, tendo galgado pouco mais de 10% dos votos válidos, chama-se Juvenil e pertencia à chapa compartilhada por Jader Barbalho, enquanto o PSOL e o PSTU, juntos, somaram algo perto de 3,5%. Francamente, não tenho uma estimativa sobre o destino dos votos de Juvenil, todavia a minha impressão é a de que Jatene vença com tranquilidade, haja vista a forte rejeição à governadora Ana Júlia Carepa.
No Pará, ainda, os resultados mais dignos de nota estão justamente nos cargos mais almejados pelo presidente Lula: o Senado. Com o impedimento das candidaturas de Jader Barbalho (PMDB) e Paulo Rocha (PSDB) em virtude da Lei da Ficha-Limpa, o Pará obteve um dos mais notáveis índices de votos nulos, superior a 50%! Entretanto, posso inferir que nem todos estes votos pertençam aos dois mencionados candidatos, já que sobrou um único postulante de alguma representatividade para o público liberal-conservador, Flexa Ribeiro, com 67,72% (dos votos válidos), eleito muito à frente da segunda candidata, Marinor, do PSOL, com 27,11%.
Penso que com isto o Partido dos Democratas foi extremamente infeliz em traçar suas estratégias, pois a sua decisão de compor com o PSDB e com isto adbicar de um nome para o Senado causou um vácuo tal que tanto eu quanto minha esposa preferimos simplesmente anular a segunda opção. Tenho que ele poderia ter o seu nome, já que havia duas vagas, e a Sra Valéria Pires Franco, que já foi vice-governadora com Adib Jatene, por exemplo, teria grande chance de êxito. Perdeu por WO.
Contei os 54 resultados ao Senado, e somei 33 para o PT e 21 para a oposição, embora este número seja um tanto fugidio, eis que as coligações estaduais são as mais incoerentes. Com isto, imagino que a maioria ainda restará ao PT, considerado o amálgama com as outras 27 cadeiras existentes, todavia, não se verificou a pretendida maioria qualificada apta a aprovar emendas constitucionais sensíveis. Por outro lado, também não vejo uma sólida oposição ao um eventual governo serrista.
Retornando aos governos estaduais, ficou bastante demonstrado que o PT está longe de exercer uma hegemonia nominal ou própria, haja vista consagrar-se com 4 ou até no máximo seis estados, menos do que o esperado para o PSDB e o PMDB. Isto parece consolidar a visão já antiga deste blogueiro de que o PT é Lula, cuja imagem haveria de ter sido combatida firmemente desde há muito para um resultado mais promissor nos dias atuais. Com efeito, caso reste alguma zebra no pleito presidencial, o PT se irmana em tamanho, à lanterna com outros partidos médios.
Ao DEM, por sua vez, se perdeu o DF com o triste caso Arruda, reconquistou dois estados, um na minha querida terra natal, Santa Catarina, e outro no Nordeste, com o belo Rio Grande do Norte, desfazendo assim o mito geográfico de sua preferência, e portanto dando a dica a esta sigla do que pode aprender com o seus acertos. No que pese a cassação - reitero, muito justa, de Arruda - eu tinha nele um político inteligente, que se deixou cair na vala. Considerando que o Distrito Federal é o dormitório do funcionalismo público federal, de tendência, a princípio, petista, sua vitória havia assinalado que mesmo entre este eleitorado um discurso liberal-conservador tem lugar, no que pese a forte rejeição agora, depois dos fatos.
Por fim, o mais importante, ou seja, as tendências gerais, estas mostram uma recuperação do eleitorado liberal-conservador. Claro é que não foi retumbante, mas deu pra peceber que refletem um pouco a divulgação de idéias relacionadas com a defesa da vida, da liberdade e da propriedade privada, mérito que atribuo antes ao trabalho nascente dos formadores de opinião que vem acontecendo desde há cerca de dez anos atrás (no que me orgulho de participar, ainda que com uma penetração modestíssima) do que propriamente ao discurso um tando adesista das siglas PSDB e DEM. Percebo que é o eleitorado que está puxando estes últimos políticos, e não eles a exercer uma efetiva e esperável liderança, que, contudo, há de vir, quando por eles percebida.
As atuais eleições, portanto, lançam em meu espírito um clarão de otimismo, mesmo com a vitória dilmista e os exotismos de sempre, como a acachapante vitória de Tiririca, que aliás, pode até vir a ser um bom político (quem sabe? Deus queira...). Reconforta-me o ânimo em saber que a boa luta que tantos como eu têm travado vai dando os seus resultados. Eu nunca previ o sucesso para o curto prazo, mas como o prêmio por pelo menos trinta anos de persistência. Passaram-se dez, faltam vinte. Quem me acompanha?
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