terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sofrimento ensina sim!



Desculpa, Tio Rei, mas sou daqueles que acreditam que o sofrimento tem sim, sempre, algo a ensinar.

Por Klauber Cristofen Pires


       Leio diariamente do blog do jornalista Reinaldo Azevedo, e o tenho, sem dúvida, como um dos poucos da turma do bem, o que não quer dizer que necessariamente concorde com tudo o que ele escreva. Como o quê, por exemplo? Como com a ideia de que o sofrimento ou a doença não servem de oportunidade ao aprendizado.
Percebo que o ilustre articulista mede os outros a partir de si próprio. É muita generosidade. Se como o próprio afirma, seus tumores não lhe ensinaram nada, eu replico: que bom! Graças a Deus! Porque ele próprio é uma pessoa madura, ajuizada e comedida.
Será, todavia, que o mesmo se dá com tantos outros? E afinal, por quê existe o sofrimento na terra se não é para aprendermos com ele?
Quando imagino a criança que por qualquer birra recebe a salutar palmada, percebo como se põe a refrear seus instintos de curiosidade e rebeldia para começar a adotar uma atitude de autocontrole.
Quando relembro das pessoas que abdicaram do cigarro ou que aderiram a hábitos e a uma dieta mais saudáveis - depois do primeiro infarto – reflito na palmada que a vida lhes dá, em substituição à presença dos pais.
Que é a prisão senão sofrimento criado para levar o delituoso à reflexão sobre seus atos criminosos?
A dor e o sofrimento sempre nos trazem lições: se para a felicidade de alguém nada tem a lhe ensinar no campo do exame de sua consciência, ainda assim nos treina e disciplina, exigindo de nós a paciência, o comedimento, e até mesmo o bom humor e a resignação.
A provação não enfia nada goela abaixo de ninguém, mas nos oferece a oportunidade de nos tornarmos mais humildes, mais solidários e mais essencialistas. Se as agruras mais agudas não inspiram bons sentimentos nas almas mais enérgicas e rebeldes, ainda assim prestam a terceiros para outras lições, que nela enxergam a oportunidade para o exercício da generosidade, da renúncia, da paciência ou do exemplo a não ser seguido.
Pelo noticiário, os brasileiros puderam saber da bolsa que o ex-presidente Lula há de carregar na cintura, a ministrar-lhe o remédio quimioterápico por via de inoculação por uma veia acessada desde o ombro. Só isto deve causar dor e limitação. A bem da verdade, a quimioterapia produz efeitos colaterais que se não são dolorosos, afetam profundamente no campo psicológico.
Se o boquirroto Lula vai aprender alguma coisa com sua cota de sofrimento, eu não sei, mas tomara que muitos brasileiros se recordem de Orlando Zapata Tamayo, o prisioneiro das masmorras cubanas, dissidente preso durante a chamada “primavera negra” de 2003, quando mais de setenta pessoas foram presas por delito de opinião.
Vale a pena neste momento refrescar a memória de todos nós, para refletirmos sobre a elevadíssima conduta deste homem que mesmo após tantas surras, noites de frio, dias sem comida e sem água, e de tantas torturas psiquicamente horripilantes, veio implorar ao Tosco que intercedesse não por si mesmo, mas principalmente por seus colegas de infortúnio, e que nem sequer requereu a liberdade, mas tão somente a mitigação das crueldades a todos dispensadas pelo regime assassino dos irmãos Castro, os ruidosos e animados anfitriões do verborrágico garanhunense.
Que incômodos e dores deve sofrer qualquer ser humano em luta contra um tumor é algo que só me inspira respeito, haja vista que de tal mal até hoje fui poupado pela Divina Providência. Porém, não consigo me desvencilhar da imagem do Zombeteiro que ofereceu vinagre a quem lhe pediu um gole d'água, ao comparar-lhe a um bandido comum, e que aguilhoou-lhe ainda mais as chagas, ao declarar que só teria a lastimar por sua greve de fome.
Se o sofrimento nada há de ensinar ao seu coração petrificado, que nos desperte a compaixão e o juízo. 

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