Desculpa, Tio Rei, mas sou daqueles que acreditam que o sofrimento tem sim, sempre, algo a ensinar.
Por Klauber Cristofen Pires
Leio diariamente do blog do jornalista Reinaldo Azevedo, e o tenho, sem dúvida, como um dos poucos da turma do bem, o que não quer dizer que necessariamente concorde com tudo o que ele escreva. Como o quê, por exemplo? Como com a ideia de que o sofrimento ou a doença não servem de oportunidade ao aprendizado.
Percebo que o ilustre
articulista mede os outros a partir de si próprio. É muita
generosidade. Se como o próprio afirma, seus tumores não lhe
ensinaram nada, eu replico: que bom! Graças a Deus! Porque ele
próprio é uma pessoa madura, ajuizada e comedida.
Será, todavia, que o mesmo
se dá com tantos outros? E afinal, por quê existe o sofrimento na
terra se não é para aprendermos com ele?
Quando imagino a criança
que por qualquer birra recebe a salutar palmada, percebo como se põe
a refrear seus instintos de curiosidade e rebeldia para começar a
adotar uma atitude de autocontrole.
Quando relembro das pessoas
que abdicaram do cigarro ou que aderiram a hábitos e a uma dieta
mais saudáveis - depois do primeiro infarto – reflito na palmada
que a vida lhes dá, em substituição à presença dos pais.
Que é a prisão senão
sofrimento criado para levar o delituoso à reflexão sobre seus atos
criminosos?
A dor e o sofrimento sempre
nos trazem lições: se para a felicidade de alguém nada tem a lhe
ensinar no campo do exame de sua consciência, ainda assim nos treina
e disciplina, exigindo de nós a paciência, o comedimento, e até
mesmo o bom humor e a resignação.
A provação não enfia nada
goela abaixo de ninguém, mas nos oferece a oportunidade de nos
tornarmos mais humildes, mais solidários e mais essencialistas. Se
as agruras mais agudas não inspiram bons sentimentos nas almas mais
enérgicas e rebeldes, ainda assim prestam a terceiros para outras
lições, que nela enxergam a oportunidade para o exercício da
generosidade, da renúncia, da paciência ou do exemplo a não ser
seguido.
Pelo noticiário, os
brasileiros puderam saber da bolsa que o ex-presidente Lula há de
carregar na cintura, a ministrar-lhe o remédio quimioterápico por
via de inoculação por uma veia acessada desde o ombro. Só isto
deve causar dor e limitação. A bem da verdade, a quimioterapia
produz efeitos colaterais que se não são dolorosos, afetam
profundamente no campo psicológico.
Se o boquirroto Lula vai
aprender alguma coisa com sua cota de sofrimento, eu não sei, mas
tomara que muitos brasileiros se recordem de Orlando Zapata Tamayo, o
prisioneiro das masmorras cubanas, dissidente preso durante a chamada
“primavera negra” de 2003, quando mais de setenta pessoas foram
presas por delito de opinião.
Vale a pena neste momento
refrescar a memória de todos nós, para refletirmos sobre a
elevadíssima conduta deste homem que mesmo após tantas surras,
noites de frio, dias sem comida e sem água, e de tantas torturas
psiquicamente horripilantes, veio implorar ao Tosco que intercedesse
não por si mesmo, mas principalmente por seus colegas de infortúnio,
e que nem sequer requereu a liberdade, mas tão somente a mitigação
das crueldades a todos dispensadas pelo regime assassino dos irmãos
Castro, os ruidosos e animados anfitriões do verborrágico
garanhunense.
Que incômodos e dores deve
sofrer qualquer ser humano em luta contra um tumor é algo que só me
inspira respeito, haja vista que de tal mal até hoje fui poupado
pela Divina Providência. Porém, não consigo me desvencilhar da
imagem do Zombeteiro que ofereceu vinagre a quem lhe pediu um gole
d'água, ao comparar-lhe a um bandido comum, e que aguilhoou-lhe
ainda mais as chagas, ao declarar que só teria a lastimar por sua
greve de fome.
Se o sofrimento nada há de
ensinar ao seu coração petrificado, que nos desperte a compaixão e
o juízo.
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