Fina Estampa mente para o
público e o induz a acreditar que aborto é decisão da mãe.
Por
Klauber Cristofen Pires
Alguém
se lembra de um garboso Willian Bonner anunciando os “princípios
editoriais” da Rede Globo?
De
acordo com a emissora carioca, o histórico documento foi elaborado com o
objetivo de “não somente diferenciar-se, mas facilitar o julgamento do público
sobre o trabalho dos veículos, permitindo, de forma transparente, que qualquer
um verifique se a prática é condizente com a crença.”
Ainda
na mesma edição, foram declarados para o público os três princípios gerais que
devem nortear a informação jornalística de qualidade: 1 – isenção; 2- correção
e 3- agilidade.
Infelizmente,
não tardou o sol se levantar no dia seguinte para que o engajamento
político-ideológico acordasse, escovasse os dentes e adentrasse no Projac a
passos confiantes, sorrindo e acenando para todos, aliás, como há muito tem
sido sua rotina.
Pela
enésima vez, trago mais uma demonstração de que o dito papelucho era só coisa “pra
inglês ver”: refiro-me a uma surreal cena da novela “Fina Estampa”, na qual
prospera uma discussão sobre a gravidez de Patrícia (Adriana Birolli), isto é,
sobre quem tem “competência”, digamos assim, para decidir sobre a “interrupção”
da mesma, ou seja, sobre o cometimento de aborto.
Abaixo
transcrevo a parte essencial da cena (assista ao vídeo aqui):
Patrícia (gritando para
Antenor, seu namorado): “- Você não tem que resolver nada! O corpo
é meu, a mãe sou eu – eu é que decido se quero tirar este filho ou não”
Antenor (Caio
Castro, respondendo a Patrícia): “- Eu não conto? Você decide pelos dois,
estraga a minha vida?”
Patrícia
(gritando para Antenor): “- Desaparece! Desaparece! Sai da minha frente!”
René Velmont
(Dalton Vigh): “- Chega, Antenor! Antenor! É melhor você ir embora e no meio do
caminho é bom você pensar se quer continuar estudando Medicina ou não”
Antenor: “- eu
não tenho nenhuma dúvida disso”
René Velmont: “ –
mas eu tenho...porque você devia saber que a decisão de levar adiante esta
gravidez ou não cabe à Patrícia...tá?”
Como
assim, Sr Aguinaldo Silva? Como assim “Dona” Rede Globo? Ao que parece, a
personagem Patrícia não foi estuprada e tampouco corre risco de vida...então,
que estória é essa de fazer o público crer que a sua gravidez é uma questão de
decisão pessoal? E desde quando a Medicina prescreve que é a mãe que decide se
quer tirar o filho ou não? Cadê o Código de Ética do CFM? Mostrem ao público,
por favor!
Como
os leitores podem comprovar, a lei sobre o aborto que está atualmente em vigor (Código
Penal, DL
002.848/1940, arts 124 a 128) foi absolutamente desprezada pelo autor
Aguinaldo Silva e a equipe da produção da Rede Globo.
Antes,
preferiram usar todo o charme do galã Dalton Vigh, que fazendo o papel do doce
mocinho, põe-se a emplacar o adultério como fato corriqueiro e até bem
justificado (até agora não houve absolutamente nenhuma cena em que o exame
moral do comportamento dos personagens René e Griselda fosse debatido), bem
como agora, como advogado da lei do livre aborto que...ora bolas, que não
existe!
Há
quem venha - até mesmo com boas intenções – arguir que os princípios editoriais
tão alardeados por esta essa empresa de comunicação sejam válidos tão somente
para o jornalismo, e que a novela, bem, a novela é apenas uma obra de ficção.
No plano formal, isto é verdade. Entretanto, não é de hoje que as novelas e
toda a grade de programação global contêm inserções com debates sobre questões de
cunho social, como a própria empresa eloquente e orgulhosamente anuncia. Neste
caso, tais trechos podem muito bem ser reputados como de natureza jornalística
e de opinião, e o pior, são apresentados de forma melíflua, tendenciosa e
sorrateira.
Sou
absolutamente contra denunciar tal pérfida manobra ao Ministério Público
Federal, porque sou absolutamente contra a censura. Sou contra a censura não em
favor desta rede de televisão, mas em meu próprio favor. Todavia, o que posso
fazer é o que acabei de realizar, isto é, descortinar aos olhos dos meus
leitores a militância nova-ordem-mundialista da Rede Globo.
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