sábado, 26 de novembro de 2011

O PREÇO DA VIDA


Em Kyiv lembram o preço da vida em 1933
Tyzhden (Semana), 22.11.2011
Valeria Burlakova
Muitas vezes você pode ver, como próximo das essencialmente trágicas lembranças brincam crianças. Adolescentes brincam próximo ao monumento-memorial dos heróis de "Kruty"[1] em Chernihov, mulheres passeiam com carrinhos de bebê em Babi Yar...[2] Houve-se o riso infantil perto do Memorial Nacional às vítimas do Holodomor (morte pela fome) nas margens do rio Dnipró.


É como se as mulheres trouxessem a lugares importantes seus pequenos, para cumprir mais uma responsabilidade materna - mostrar, que a vida não termina. Que ela é eterna.
Àqueles que visitam o memorial às vítimas do Holodomor se defrontam com a estátua de uma menina de bronze, com enormes olhos e descalça. Mas não recebe pão e sal (costume ukrainiano de receber visitas - OK) - em suas mãos ela segura apenas cinco espigas de trigo - Em 1932-1933 por tão ínfima quantia de trigo... fuzilavam.
Preço da vida
Em 22 de novembro um grupo de ativistas e personalidades artísticas moeram, num autêntico moinho de pedra 5 espigas de trigo. Para mostrar, por qual quantidade de farinha os ukrainianos arriscavam a vida em tempos do Holodomor. A quantidade de farinha dessas espigas corresponde à quantidade de pó que cabe no cartucho da arma mais comumente usada na época - fuzil Moasin. Com ela fuzilavam aqueles que se atreviam roubar comida.
Este é um grande lembrete de qualquer regime totalitário. Qualquer regime que, em nome de uma idéia sacrifica milhões de pessoas, como acontecia na União Soviética, diz o lider do grupo vocal "Haidamaky" Oleksandr Yarmola. - A vida perdida de uma criança cancela todas as grandes metas".
"Imaginem, como é - viver, quando você não é dono de sua própria terra. Quando tiram a comida de sua família. Quando você morre, simplesmente porque você é ukrainiano, - diz a escritora Irena Karpa. Portanto, no seu parecer, sobre Holodomor é necessário lembrar sempre. Especialmente, quando novamente trata-se sobre "restauração do império" e o "mundo russo".
"Alguém perguntará: quanto se pode falar sobre o mesmo acontecimento? - prevê Irena Karpa. - Há coisas que antigamente foram ditas, mas elas precisam ser constantemente repetidas. Assim como se repete:Não matarás, não furtarás".
"E começa o silêncio - oportunamente inesperado".
Despejar a farinha no cartucho, preparativos da memória às vítimas do Holodomor apenas começam. Em 23 de novembro em Kyiv inicia a apresentação "Tragédia de Uma Aldeia: "Colheita Negra de "Masibechchyny" - tentativa de reconstruir a tragédia no exemplo concreto dos acontecimentos históricos. Em 25 de novembro inicia a ação Guarda da Memória - missas de réquiem pelas pessoas mortas pela fome, cujos nomes puderam ser estabelecidos no transcorrer dos dois anos de trabalhos do museu. São aproximadamente três mil pessoas. Representantes de cada confissão realizarão ações em memória. No Museu Ivan Honchar abre a exposição-ritual de pães "Asso, asso um pãozinho..." E no dia 26 de novembro em Kyiv teremos uma caminhada dolorosa em memória das crianças, mortas e não nascidas dos anos 1932-1933.
As medidas oficiais para comemoração das vítimas da fome realizar-se-ão também na maioria dos centros regionais. Além disso, o Congresso Mundial dos Ukrainianos organiza eventos nas capitais de 32 países.
Nas escolas e Universidades da Ukraina haverá aulas sobre o tema, desde que os professores concordem em desenvolvê-las, porque o governo atual, pró-Rússia, na pessoa do ministro Tabachnyk excluiu a palavra "genocídio" dos manuais escolares, segundo Ivan Vasiunek, co-coordenador da comissão.
Por causa de tudo
Os principais objetos do Museu do Holodomor - não são objetos materiais. São memórias, nomes das vítimas. Páginas terríveis do Livro Nacional de Memória.
O destino humano cabe numa linhaNome, sobrenome, idade, causa da morte: "Plakhtii Adam, 14 anos, fomePlakhtii Valyntyna, 8 anos, fome;Plakhtii Zina, 10 anos, fomePlakhtii Hanna, 6 anos -fome" - eis a história de toda família.
Em outro livro no registro dos cadáveres a causa da morte é outra: "BBO". Traduzindo do russo é: Inchaço por falta de albumina.
Em alguns lugares pode-se obter mais conhecimento sobre os mortos. Sobre a cidadania - "ukr.", e nacionalidade - "ukr.", e local de falecimento - "em casa". Em seguida, com anotação "indicações detalhadas, coluna "causa da morte". E algumas linhas em branco, porque na primeira está escrito simplesmente "pela fome". Para saber, o que está por trás do "pela fome", deve-se folhear o livro até o final. Nas últimas páginas dos livros de memória de cada região estão coletadas as memórias das testemunhas oculares.
"Eles tiveram doze filhos, - lembra a vizinha da aldeia Yevhenia Kondratenko. - Em 1932 ela tinha 16 anos. - Mais sofreu o menino de 2 -3 anos, porque o tempo todo pedia comida e não entendia, por que sua mãe não o alimentava. Outras crianças já compreendiam tudo e silenciavam.
Há também documentos. Impressos, com o grifo "Secretos", dísticos que o professor cantava para crianças. "Em 1932 nós já comíamos espinafre. Não tem pão, não tem gordura - komsomol levou".
Ou um bilhete escrito em linóleo ao conselho da aldeia: "Peço à administração, para ajudar com algum alimento, ou soja, ou algum cereal, ou farinha. Porque as pernas já incharam e eu não tenho forças para trabalhar".
Outro documento - Resolução CEC (Comitê Executivo Central) da URSS datada de 7 de agosto de 1932 "Sobre a proteção da propriedade de empresas, fazendas coletivas, cooperativas e fortalecimento da propriedade socialista. De acordo com a resolução, a propriedade social foi levada à propriedade das fazendas coletivas, com o que se confirma que todo tipo de propriedade particular era reconhecida não como associações de agricultores de aldeões, mas como elementos da economia estatal.
Pelo roubo de propriedade socialista a resolução previa fuzilamento. Se haviam circunstâncias atenuantes, condenavam a não menos de 10 anos de prisão. Anistia para esta resolução não se aplicava.
As sanções não determinavam nem a proporção nem o modo do "roubo". Assim a aplicação da lei era possível para os insignificantes furtos, como espigas de trigo cortadas nas fazendas coletivas ou até recolhidas das máquinas as últimas sementes. A prática de condenar os aldeões por algumas espigas de trigo em meados dos anos trinta reconheceu publicamente o promotor Vyshynskyi: "condenavam-se os funcionários das fazendas coletivass e trabalhadores particulares pelo miolo do repolho... A resolução entre o povo recebeu o nome "Lei de 5 espigas".
No início de 1933, após 5 meses do início da resolução, de acordo com ela, foram condenadas 54.645 pessoas, 2110 delas - ao fuzilamento.
Assustador
Na saída do museu há um álbum, no qual os visitantes podem registrar suas impressões. Escrevem aqui ukrainianoss, russos, poloneses, georgianos...
"O museu é bom, bonito - escreve em língua russa a estudante de Mykolaiev. - Mas eu fiquei muito assustada, tive muito medo. Como podem pensar - ficar sabendo sobre pessoas com sobrenomes conhecidos... Eu olhava o livro das vítimas de Mykolaiev. Mesmo agora escrevo e tremo".
É muito triste... Pena... escreve o polonês em inglês. É terrível!!! Fome..." , - admite o seu compatriota.
Alguém cita Skovoroda: (Filósofo, poeta e pedagogo ukrainiano do século XVIII - O.K.) "Com coração a pessoa é eterna". Outro alguém propõe a proibição do Partido Comunista em nosso país.
Os russos lembram os mortos na região do Volga e pedem para não sentir raiva deles, porque "tivemos muita coisa boa juntos".
Algumas pessoas dizem que os dados no livro não estão completos, indicando os nomes de seus parentes vitimados durante o genocídio de 1932-1933.
... Na rua as crianças brincam do mesmo modo, as pessoas se apressam, brilham como ouro as catedrais no horizonte. Durante o tempo que passamos no museu alguém colocou aos pés da menina de bronze uma vela e pão. Naquele tempo, nos anos trinta este pedaço de pão poderia ter salvo uma vida. Hoje, para que tais crimes não se repitam, os ukrainianoss devem ser salvos pela memória.
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[1] Kruty - luta heróica travada por 300 estudantes ukrainianos contra 4.000 soldados bolcheviques na estação de trem, na aldeia chamada Kruty. Os estudantes protegiam o caminho para Kyiv. Todos morreram após 5 horas de luta. Em 29.01.1918.
[2] Babyn (Babi) Yar. Durante a II Guerra Mundial, em Kyiv, os nazistas atraíam grande quantidade de judeus aos barrancos do chamado Babyn Yar e os fuzilavam lá. Fala-se em até 200.000 mil pessoas. Leia detalhadamente em artigo anterior neste blog.
Tradução: Oksana Kowaltschuk
Fonte: Publicado originalmente no Notícias da Ucrânia http://noticiasdaucrania.blogspot.com/
 

 

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